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sábado, 4 de setembro de 2010

Uma das razões para nossa aflição neste Mundo


João Calvino

João Calvino


A Cruz assinala marcantemente a presença da soberana graça de Deus em nossa vida

“Mas a salvação dos justos vem do SENHOR; ele é a sua fortaleza no tempo da angústia”. (Salmo 37:39)

Lembremo-nos de que o Senhor Jesus não tinha necessidade nenhuma de levar a cruz e de sofrer tribulações, exceto para atestar e comprovar sua obediência a Deus, se Pai.[1] Mas por muitas razões nos é necessário sofrer perpétua aflição nesta vida.

Primeiro, como somos por demais inclinados por natureza a nos exaltar e a atribuir tudo a nós mesmos, se a nossa fraqueza não for demonstrada de maneira patente, depressa avaliaremos exageradamente o nosso poder e virtude e não duvidaremos de que vamos permanecer invencíveis frente a todas as dificuldades que se nos anteponham. Daí sucede que nos elevamos  firmados numa vã e estulta confiança na carne, o que a seguir nos incita a orgulhar-nos contra Deus, como se a nossa capacidade fosse suficiente para nós, sem a sua graça.[2]

Não há melhor meio pelo qual ele põe a nossa arrogância do que mostrar-nos experimentalmente como somos fracos e frágeis. Por isso ele nos aflige, quer nos ocasionando afrontas vergonhosas, quer pela pobreza, ou doença, ou perda de parente, quer por outras calamidades, de tal modo que logo sucumbimos, visto que não temos forças para resistir. Então, humilhamos e agora humildes, aprendemos a implorar seu poder, a única força que nos habilita a subsistir e a manter-nos firmes sob o peso desses tão pesados fardos.[3]

Até os mais santos, embora reconheçam que a sua firmeza se funda na graça do Senhor e não em seu próprio poder, ainda assim tenderiam a confiar demais em suas forças e em sua constância, se o Senhor não os conduzisse a um conhecimento mais correto sobre si mesmos, provando-os pela cruz. E, no caso de se jactarem, concebendo a seu próprio respeito uma opinião de firmeza e perseverança quando tudo lhes vai bem, depois de passarem por alguma tribulação reconhecem que aquilo não passava de hipocrisia.[4]

Temos aí, pois, a maneira pela qual os santos são advertidos de sua fraqueza por tais provações, para que aprendam a humilhar-se e a despojar-se de toda perversa confiança na carne e se rendam totalmente à graça de Deus.[5] Então, havendo-se  rendido, sentem a presença do poder de Deus, no qual encontram satisfatório refugio e fortaleza.[5]

Em Deus está a minha salvação e a minha glória; a rocha da minha fortaleza, e o meu refúgio estão em Deus. (Salmo 62:7)

Autor: João Calvino

Fonte: As Institutas da Religião Cristã, edição especial, ed. Cultura Cristã, Vol 4, pg 198-199. Compre esta obra prima da Reforma em www.cep.org.be e dê seqüência e leitura deste assunto onde Calvino o desenvolve maravilhosamente na paginas seguintes.

Nota inserida pelo Rev. Hermisten M. P. Costa.

[1] “... todos os seus sofrimento tinham a ver com nossa salvação” [João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo, Parakletos, 1997, (Hb 5.9), p. 137] NE

[2] “A confiança carnal, que nos leva ao envaidecimento, é tão obstinada que a única forma de ser destruída é por meio de nossa queda em extremo desespero” [João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, São Paulo, Parakletos, 1995, (2 Co 1.9), p. 23]. “Mesmo os santos precisam sentir-se ameaçados por um total colapso das forças humanas, a fim de aprenderem, de suas próprias fraquezas, a depender inteiramente e unicamente de Deus.”[João Calvino, Exposição de Coríntios, (2 Co 1.8), p.22]. NE

[3] “Sempre que Deus, depois de haver-nos privado das bênçãos que outrora nos conferira, passa a reprovar-nos aprendemos que temos muito maior motivo para lamentar-nos, visto que, através de nossa falha, retrocedemos da luz para as trevas.” [João Calvino, O Livro de Salmos, São Paulo, Edição Parakletos, 2002, Vol.3, (Sl 102.10). p.571]. NE

[4] “... os crentes são açoitados, não para com isso satisfazerem à ira de Deus, nem para pagarem o que é devido ao juízo que ele lhes impõe, mas a fim de aproveitarem a oportunidade para arrependimento e para o terno ao bom caminho”. [João Calvino, As Institutas, (1541), II.5]. “Ora, não podemos tirar bom proveito da Sua  disciplina, a não ser que, julgando que ele está indignado com os nossos vícios e maldades, consideremos o  Senhor  propício a nós, e que ele nos trata com afetuoso amor”. [João Calvino, As Institutas, 91541], II.5]. “Ele [Deus] trata com mais severidade os que o servem do que os réprobos.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo, Parakletos, 2002, Vol. 3, (Sl 90.11), p. 438]. NE

[5] “É verdade que tanto os bons quantos os maus participam das misérias e dificuldades desta presente vida; porém, para os ímpios, os sofrimentos são sinais da maldição divina, porquanto são resultados do pecado; sua única mensagem é a ira de Deus e a nossa comum participação na condenação de Adão, e seu único resultado é o abatimento da alma. Porém, por meio de seus sofrimentos [gerados pelo testemunho de Cristo], os crentes estão sendo conformados a Cristo, e produzem em seus corpos o morrer de Cristo, para que a vida de Cristo seja um dia manifesta neles.” [João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, (2Co 1.5). p.15] “Esta é a vantagem primordial das aflições, ou seja, enquanto nos tornam conscientes da nossa miséria, nos estimulam novamente para suplicaremos o favor divino.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo, Parakletos, 199, Vol 1, (Sl 30.8), p. 635]. NE

[6] “A verdadeira humildade é o desprezo sincero do nosso próprio coração, um autodesprezo procedente de uma real percepção da nossa miséria e pobreza, pelo que o nosso coração se abate”. [João Calvino, As Institutas, (1541), II.6]. NE

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