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sexta-feira, 29 de maio de 2015

Um sinal claro de maturidade cristã


Acredito que todos nós sabemos que, como cristãos, estamos destinados a crescer e amadurecer. Nós iniciamos na fé como crianças e precisamos nos desenvolver até sermos adultos. Os autores do Novo Testamento insistem que todos nós devemos fazer esta transição, do leite para a carne, da mesa das crianças para os jantares de adulto. E apesar de estarmos cientes que devemos passar por este processo de amadurecimento, muitos de nós tendem a medir maturidade de formas erradas. Somos facilmente enganados. Eu acho que isso é especialmente verdade em uma tradição como a Reformada, que (com razão) coloca uma forte ênfase no ensino e nos fatos da fé.
Quando Paulo escreveu a Timóteo, ele fala sobre a natureza e propósito da Bíblia: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Timóteo 3.16-17). A palavra perfeito está relacionada à maturidade. Paulo diz que Timóteo, e por extensão eu e você, somos incompletos, inacabados e imaturos. A Bíblia é o meio que Deus usa para nos finalizar e completar, trazendo-nos à maturidade.
Mas o que significa ser um Cristão maduro? Penso que tendemos a acreditar que os Cristãos maduros são aqueles que sabem um monte de coisas sobre a Bíblia. Cristãos maduros são aqueles que têm sua teologia de cor e salteado. Mas veja o que Paulo diz: “A fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”. Paulo não diz: “A fim de que o homem de Deus seja perfeito e conhecedor da Bíblia de trás para frente”, ou “Afim de que o homem de Deus seja perfeito e capaz de explicar e definir o supralapsarianismo versus o infralapsarianismo.” Ele não diz: “Afim de que o homem de Deus seja perfeito e capaz de prover um esboço estruturado de cada uma das epístolas de Paulo.” Todas essas coisas são boas, mas elas não são a ênfase de Paulo. Elas podem ser sinais de maturidade, mas também podem mascarar imaturidade.
Quando Paulo fala sobre perfeição e maturidade, ele aponta para ações, para atitudes, para “toda boa obra”. A Bíblia tem o poder de nos amadurecer, e conforme nos comprometemos a leitura, compreensão e obediência, necessariamente crescemos na fé. Essa maturidade é mais evidenciada nas boas obras que fazemos do que no conhecimento que recitamos. E isso é exatamente o que Deus quer de nós – que sejamos maduros e benfeitores amadurecidos que se deleitam em fazer o bem para os outros. Essa ênfase em boas obras é um tema significante no Novo Testamento (veja Efésios 2.10, Tito 2.14, etc) e a própria razão pela qual Deus nos salvou.

Isso significa que maturidade espiritual é melhor evidenciada em atos do que em fatos. Você pode saber tudo que existe sobre teologia, você pode ser uma teologia sistemática ambulante, você pode gastar uma vida inteira ensinando outros em um seminário, e mesmo assim ser completamente imaturo. Você irá permanecer sendo imaturo se aquele conhecimento que você acumulou não te motiva a fazer o bem para os outros. Os Cristão maduros são aqueles que glorificam à Deus fazendo o bem para os outros, que externalizam seu conhecimento em boas obras.
É claro que fatos e ações tem relação entre si, de modo que isto não é um apelo para negligenciar a leitura, o estudo e o entendimento da Bíblia. De modo nenhum! Quanto mais você conhece da Bíblia, mais você pode ensinar, reprovar, corrigir e treinar a si mesmo de uma forma que modele suas ações a te incentivar a fazer as melhores obras da melhor forma pela melhor razão. Mais conhecimento de Deus através de sua Palavra deveria conduzir a um maior e melhor serviço aos outros.
Mas, no fim das contas, Cristo viveu e morreu para “remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras” (Tito 2.14). Conhecimento de Deus e sua Palavra é bom. Conhecimento de Deus e sua Palavra manifestado externamente, fazendo aquilo que beneficie outros – não há nada que glorifique mais a Deus que isso.
Traduzido por André Carvalho | Reforma21.org | Original aqui
Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor e o tradutor, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Uma vida íntegra


“Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que, com simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus, temos vivido no mundo, e de modo particular convosco. Porque nenhumas outras coisas vos escrevemos, senão as que já sabeis ou também reconheceis; e espero que também até ao fim as reconhecereis. ” 2 Coríntios 1.12-13
Quando escreveu 2 Coríntios, o apóstolo Paulo estava enfrentando acusações contra seu caráter e ministério. Falsos mestres, dizendo serem apóstolos de Cristo, se infiltraram na igreja de Corinto e, com o fim de enfraquecer a influência de Paulo para que a deles crescesse, começaram um ataque direto à legitimidade do apostolado de Paulo. Muito de 2 Coríntios é uma defesa à integridade de Paulo como um ministro do Evangelho. E ele começa essa defesa declarando que sua consciência está limpa em relação à todas as acusações que estão sendo feitas contra ele.
Mas ele sabe que teria sido muito fácil para os hipócritas, cujas próprias consciências já haviam sido cauterizadas, simplesmente apelar para a consciência dos coríntios com o intuito de se livrar de qualquer acusação. Em 2 Coríntios 1.12-13, Paulo explica que o testemunho de sua consciência limpa é algo mais do que simplesmente um recuo a um estado privado e interior do seu coração que ninguém pode verificar. A consciência limpa é baseada numa vida real de integridade. E essa vida de integridade é marcada por uma série de coisas.

Simplicidade

Primeiro, Paulo diz que ele conduziu a si mesmo em simplicidade. Essa é a palavra grega haplotes. Ela significa “inteireza”, “indivisibilidade”. Simplicidade é o oposto de duplicidade. Paulo usou esse termo em Colossenses 3.22 para exortar os escravos a obedecerem sinceramente a seus mestres terrenos, e não apenas mostrar que estavam fazendo coisas boas: “Vós, servos, obedecei em tudo a vosso senhor segundo a carne, não servindo só na aparência, como para agradar aos homens, mas em simplicidade de coração, temendo a Deus” (ARC). Em outras palavras, não obedeçam ao seu senhor de maneira meramente externa; não trabalhe na duplicidade de se esforçar calorosamente quando seu chefe está te vendo, e depois ser descuidado quando ele não está por perto. Obedeça com simplicidade de coração – seja a mesma pessoa o tempo todo, sabendo que seu objetivo não é simplesmente agradar a homens, mas ao Senhor, perante quem você sempre está presente.
Assim, quando Paulo diz que se conduziu em simplicidade em seu ministério para os Coríntios, isso significa que não haviam partes complexas no caráter de Paulo, como se ele estivesse pintando uma figura de si mesmo sendo uma pessoa na superfície mas alguém realmente diferente em seu íntimo. Não existia um exterior artificial nele de modo que você teria que penetrar para conhecer o real Paulo. Não havia desonestidade ou algum esquema traiçoeiro da parte dele para parecer ser algo que ele não era, para que ele pudesse tirar vantagem dos Coríntios. Com Paulo, o que você vê é o que você leva.

Sinceridade

Segundo, intimamente relacionada com simplicidade, Paulo diz que se conduziu em sinceridade. Essa é uma palavra grega fascinante: eilikrineia. É uma palavra composta, de helios, “sol”, e krino, “julgar”. Literalmente: “julgado pelo sol”.
Agora, qual o sentido disso? Bem, uma das maiores indústrias nos dias de Paulo era a indústria de cerâmica. E, como qualquer outra coisa, os vários tipos de cerâmica variavam em qualidade. A cerâmica de pior qualidade era grossa, sólida, fácil de fazer. Mas a cerâmica mais requintada era mais fina e, portanto, mais frágil. Frequentemente, quando a cerâmica fina estava no fogo, ela quebrava. Agora, ao invés de descartar aqueles vasos que estavam quebrados, mercadores desonestos preenchiam as rachaduras com uma cera dura e perolada que se misturava com a cor da cerâmica quando pintada. Na luz comum, ninguém conseguia apontar a diferença. Mas ao segurar uma peça de cerâmica contra o sol para testá-la, a imperfeição tornava-se perceptível, porque a cera era mais escura do que o restante do vaso. Mercadores honestos geralmente botavam placas em seus produtos com o termo em latim “sine cera”, que quer dizer “sem cera”. Assim “sine cera” é de onde vem a palavra em português “sincero”.
E assim Paulo diz, “Pela graça de Deus, minha conduta é ‘testada-pelo-sol’. Você pode analisar a minha vida contra a penetrante luz solar da Palavra de Deus, e você não achará em meu caráter rachaduras que tentei consertar com cera artificial. Eu não estou desonestamente criando esquemas para aparecer de um jeito perante os homens enquanto sou totalmente diferente abaixo da superfície”. Ele até diz em 2 Coríntios 2.17, “Porque nós não somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus, antes falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus”. O homem ou mulher de integridade vive a vida inteira na penetrante e ardente luz da presença do próprio Deus. E quando mantidos no brilho de Sua luz, eles são classificados como sine cera, sem cera.

Não com sabedoria carnal

Em seguida, Paulo fala que ele não se conduziu em sabedoria carnal. Sabedoria carnal é aquele tipo de astúcia e inteligência sagaz que marca aqueles que que são egoistamente ambiciosos – aqueles que desejam colocar-se à frente e agarrar o poder, a influência e o reconhecimento.
Em Tiago 3.13-16, Tiago contrasta a verdadeira e divina sabedoria com a sabedoria carnal:
Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa.
Veja, o homem íntegro não se vale de sabedoria carnal, fingindo ser algo que ele não é para então tirar vantagem das pessoas para seu próprio ganho. Ele não é motivado por ambição invejosa, arrogante e egoísta que busca poder e influência.

Na graça de Deus

Ao invés disso, ele se conduz, em quarto lugar, na graça de Deus. Note o quão bruscamente a sabedoria carnal é contrastada com a graça de Deus aqui. Elas são mutuamente exclusivas. Se você vai operar baseado na sabedoria carnal, buscando conivente e astutamente assegurar posições de influência, você está totalmente fora da graça de Deus. Porém, se você está conscientemente submetendo sua vida ao poder santo e energizante da graça de Deus, você irá falar como Paulo em 2 Coríntios 4.2, onde ele diz, “Antes, renunciamos aos procedimentos secretos e vergonhosos; não usamos de engano nem torcemos a palavra de Deus. Pelo contrário, mediante a clara exposição da verdade, recomendamo-nos à consciência de todos, diante de Deus.”

O que você vê é o que você leva

E então Paulo diz: “Eu tenho me conduzido com integridade. Minha conduta é marcada pela simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus”. E então, no início do versículo 13 ele nos dá um exemplo dessa integridade. Ele diz, “Porque nenhuma outra coisa vos escrevemos, além das que ledes e bem compreendeis”.
Os falsos apóstolos acusaram Paulo de hesitar (2 Coríntios 1.17). Eles falaram que o seu “sim” algumas vezes era “não” e o seu “não” era algumas vezes “sim”; o acusaram de ter escrito uma coisa querendo dizer outra; diziam que suas cartas eram fortes e impressionantes mas que ele teria se comportado de forma bem diferente pessoalmente (2 Coríntios 10.10).
E Paulo diz, “De jeito nenhum!”, ele não escreve nada além do que eles podem ler e compreender. Não há necessidade de ler nas entrelinhas. Não existe significado oculto ou segredo algum em suas cartas. Não há duplo sentido que os Coríntios precisavam decifrar para entender sua verdadeira intenção. Ele não estava “tentando comunicar” algo escondendo o significado com chavões enganosos. Como disse John MacArthur, “Paulo escreveu o que ele queria dizer, e ele queria dizer o que ele escreveu. Suas cartas eram claras, diretas, consistentes, genuínas, transparentes e sem ambiguidade.”

E você?

Esse é o perfil da vida de integridade, que é uma receita para a consciência limpa. Agora precisamos nos perguntar: por esse padrão, somos homens e mulheres de integridade?
Você se conduz em simplicidade? A pessoa que você mostra ser por fora é a mesma que é por dentro? Ou você tem uma “dupla identidade”? Você tem uma personalidade “cristã” que você apenas assume para impressionar seus amigos cristãos e seu pastor? Você finge ser algo que você não é porque você está tão apaixonado pelo louvor dos homens que você parou de trabalhar pela recompensa que Deus dá?
E você se conduz em sinceridade? Se sua vida fosse analisada contra a luz da Palavra de Deus, você seria avaliado como sine cera, sem cera? Ou a esplendorosa luz da própria face de Deus revela rachaduras em seu caráter – rachaduras que mostram que você está fingindo ser algo que não é? Talvez você esteja tentando preencher artificialmente essas rachaduras com a cera da moralidade cristã externa – presença na igreja, estudos bíblicos, conversas “espirituais”, mas no fundo você é outra coisa.

Você repudia a sabedoria carnal? Você renuncia a todo caminho vergonhoso e traiçoeiro? Ou você é motivado por ambição invejosa e egoísta que utiliza astúcia mundana e sabedoria carnal para tirar vantagem das pessoas somente para conseguir o que deseja?
E quando você se comunica com as pessoas – face a face ou virtualmente – o que você quer dizer está sempre estampado em suas palavras? As pessoas podem perceber a sua verdadeira intenção apenas te ouvindo falar? Ou você brinca com as pessoas? Você esconde desonestamente as suas verdadeiras intenções em significados ambíguos para se auto-proteger e conseguir informações? As pessoas tem que ler nas entrelinhas quando estão conversando com você? Ou o seu discurso é marcado pela “clara exposição da verdade”? (2 Coríntios 4.2)
Esse é o perfil de uma vida de integridade. Isso é de onde a consciência limpa provêm. Que Deus lide conosco por meio de Sua Palavra, para receba de seu povo aquilo que ele é Digno, por meio de Cristo, pelo poder santificador do Espírito Santo.
Traduzido por Fernanda Vilela | Reforma21.org | Original aqui
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sábado, 23 de maio de 2015

O Novo Evangelicalismo


Thomas Ice
Paul Smith, irmão do pastor Chuck Smith, da conhecida igreja Calvary Chapel [Capela do Calvário], escreveu um novo e importante livro: New Evangelicalism: The New World Order(Novo Evangelicalismo: A Nova Ordem Mundial).[1] Nesse livro, Smith identifica os ardis que ameaçam destruir a eficiência da crença na Bíblia, na pregação do Evangelho, nas igrejas que ensinam a Bíblia, como aquelas do próprio grupo da Calvary Chapel. O livro traça as raízes dos perigos dos últimos duzentos anos que estão à espreita no horizonte e ameaçam as igrejas bíblicas nos dias atuais, demonstrando como tantos evangélicos já tomaram de seu veneno.
Smith não expõe apenas o problema, que é o abandono da inerrância das Escrituras, mas mostra também qual é a solução e como ela pode reavivar nossas igrejas evangélicas.

Origens do Problema

Peter Drucker, o guru da administração, é identificado como o personagem-chave que influenciou o surgimento do movimento do crescimento de igrejas no Seminário Fuller, que levou a tantas influências contrárias ao Evangelho dentro do evangelicalismo. Smith demonstra historicamente que a filosofia existencial de Soren Kierkegaard influenciou Drucker, levando-o à sua teoria pragmática e abordagem comunitária e ao papel da igreja em sua comunidade ideal. Karl Barth, o famoso teólogo suíço neo-ortodoxo, também sorveu profundamente das idéias de Kierkegaard, e, por sua vez, cativou Daniel Fuller, o filho de Charles Fuller, que fundou o Seminário Fuller em 1947.
Embora o Seminário Fuller, em Pasadena, no estado da Califórnia, Estados Unidos, tenha começado bem, lá pelos anos 1960 tinha abandonado a inerrância e começado sua descida pela ladeira escorregadia rumo ao liberalismo moderno. Smith observa que Harold Lindsell, antigo membro do corpo docente do Fuller, documentou o abandono da inerrância em seu famoso livro The Battle for the Bible (A Batalha Pela Bíblia), em 1976.[2] Smith fornece detalhes muito mais abrangentes dos acontecimentos de bastidores nos âmbitos filosófico e histórico, que levaram à rápida queda teológica do Seminário Fuller. Eles estabelecem o cenário para os motivos porque aquela escola tem estado no epicentro de muitas das influências que contaminaram o evangelicalismo nas últimas três décadas.
Peter Drucker, o guru da administração, é identificado como o personagem-chave que influenciou o surgimento do movimento do crescimento de igrejas no Seminário Fuller, que levou a tantas influências contrárias ao Evangelho dentro do evangelicalismo.
No cerne do livro de Smith está sua crença, com a qual concordo, na noção de que o rebaixamento bíblico, ou seja, a apostasia, começa com um afastamento da crença na doutrina da inerrância [da Bíblia]. Isso geralmente acontece dentro das instituições acadêmicas, que supostamente existem para treinar a próxima geração de líderes que darão apoio à igreja. Em vez disso, essas instituições destroem a confiança na Palavra de Deus, que a próxima geração de líderes necessitará para nutrir e fazer expandir a igreja.
O livro tem um excelente capítulo denominado “How Historical Drift Happens” [Como Acontece a Deriva Histórica]. Nesse capítulo, Smith explica como a maneira de pensar do mundo passa a dominar a igreja. Basicamente, isso começa com a negação da inerrância, o que significa que há uma perda de confiança na Palavra de Deus como a autoridade máxima para o homem. Assim, uma dada igreja fica aberta aos pensamentos dos homens como se estes tivessem a mesma autoridade da Bíblia. O próximo passo é trazer coisas como a sociologia, o marketing e a psicologia para dentro da igreja para fornecer uma base à filosofia de ministério, que é o que tem sido feito pelo Movimento de Crescimento da Igreja.
Um testemunho surpreendente sobre o declínio do Fuller é fornecido por Smith – o relato do então aluno Wayne Grudem, em 1971, que hoje é um conhecido teólogo evangélico:
Enquanto eu ainda estava fazendo curso de graduação na Universidade Harvard, ouvi advertências de que o Seminário Fuller estava comprometendo seriamente a verdade da Palavra de Deus. Embora essas advertências viessem de fontes respeitáveis como Francis Schaeffer, John Montgomery e daChristianity Today [Cristianismo Hoje], não acreditei nelas. Agora acredito!
Nenhum dos meus cursos [no Fuller] reforçou minha confiança na Bíblia. Ainda mais desoladora é a estreiteza mental: não tive nenhum professor que ensinasse a inerrância bíblica, nem mesmo como uma opção possível. Os alunos com quem converso não possuem nenhum conhecimento das grandiosas defesas da inerrância feitas recentemente por homens como E. J. Young, Ned Stonehouse, e Cornelius Van Til.
Estou preocupado com o Seminário Fuller, mas não tenho nenhuma proposta de solução. As cartas estão todas lançadas na direção de maiores concessões e comprometimentos. Os docentes parecem pensar que detêm a única solução possível; os que pensavam de forma diferente foram embora da escola. Mas, quanto a mim, quero um seminário que faça de mim um ministro da Palavra de Deus, não um crítico. Não tenho escolha, senão ir embora.[3]

O Movimento de Crescimento da Igreja

Nos anos 1960, Daniel Fuller, filho do fundador, voltou da Suíça onde havia estudado na Universidade de Basiléia e onde aderira à teologia liberal de Karl Barth. Fuller trouxe aquela mentalidade para o Seminário de seu pai, o que apressou o declínio da instituição. A data na qual o Seminário Fuller abandonou oficialmente a inerrância é identificada como dezembro de 1962.[4] A degradação do Seminário Fuller e seu baixo conceito sobre a Bíblia foram fatores que levaram seus líderes a fundarem a Escola de Crescimento da Igreja, que empregava princípios pragmáticos e freqüentemente humanistas.
Em 1971, C. Peter Wagner tornou-se professor de Crescimento da Igreja no Fuller. A ênfase nas ciências sociais, não na Bíblia, era o enfoque de Wagner e de outros influenciados pela “ciência” do crescimento da igreja. “A maneira de muitos pastores fazerem suas igrejas crescer foi o uso de programas sociais”,[5] observa Smith. Wagner associou-se a John Wimber para ministrar as aulas de Sinais e Maravilhas místicos, que se tornaram muito populares entre os alunos do Fuller. Rick Warren, da Igreja Saddleback, em Orange County, Califórnia, obteve seu grau de Doutor em Ministérios na Escola do Crescimento da Igreja e foi profundamente influenciado por seu pensamento. Combinado com [as idéias de] seu mentor, o sociólogo incrédulo Peter Drucker, e as últimas do Fuller, Warren foi adiante e se tornou o pastor mais influente da América.

Um Casamento Profano

A partir do Movimento de Crescimento da Igreja dos últimos quarenta anos, surgiu o próximo empurrão pela ladeira escorregadia, para longe da ortodoxia, chamado Movimento das Igrejas Emergentes.
“Rick Warren atribui o espetacular crescimento numérico de sua Igreja Saddleback a seu modelo Com Propósitos, uma estratégia organizacional e de marketing inspirada principalmente em Peter Drucker”,[6] diz Smith. O modelo de Warren para crescimento da igreja é baseado na visão de Drucker sobre a construção de uma comunidade social e não tem nada a ver com o Evangelho. Embora Warren use a Bíblia, sua filosofia de ministério não é retirada da Bíblia, mas derivada de teorias sociais humanísticas, como ele mesmo admite. Isso explica por que Warren está engajado em um esforço global para promover o socialismo em vez de um esforço global para pregar o Evangelho.
A partir do Movimento de Crescimento da Igreja dos últimos quarenta anos, surgiu o próximo empurrão pela ladeira escorregadia, para longe da ortodoxia, chamado Movimento das Igrejas Emergentes.
Warren e outros apoiaram esse movimento. No entanto, Paul Smith observa que seu irmão rejeita totalmente o movimento e já divulgou um manifesto da Calvary Chapel contra essa ameaça ao cristianismo bíblico. Chuck Smith é um crítico do Movimento Emergente e lista algumas de suas objeções:
(1) Que Jesus não é o único caminho através do qual os homens são salvos (...); (2) O pouco caso dado ao inferno (...); (3) Temos dificuldade com a maneira cheia de sentimentalismos com que eles se relacionam com Deus (...); (4) Temos problemas com o uso de ícones para dar-lhes um sentido de Deus ou da presença de Deus (...); (5) Não acreditamos que se deva buscar fazer com que os pecadores se sintam seguros e confortáveis na igreja (...); (6) Será que deveríamos tolerar o que Deus condenou, como, por exemplo, o estilo de vida homossexual? (...); (7) Será que deveríamos buscar nas religiões orientais suas práticas de meditação através da yoga? (...); (8) Eles desafiam a autoridade final das Escrituras (...).
O pastor Chuck termina sua carta com o seguinte comentário: “Há os que dizem que o Movimento Emergente tem alguns pontos positivos, mas o porco-espinho também os tem. É melhor não chegar muito perto!”.[7]

Conclusão

Paul Smith acredita que a ladeira escorregadia na qual tantos evangélicos se encontram está estabelecendo o palco para o globalismo e a Nova Ordem Mundial, que introduzirá o Anticristo logo que a Igreja verdadeira tiver deixado o planeta Terra por meio do Arrebatamento. Não há nenhuma dúvida em minha mente de que Smith está coberto de razão. A forma final da apostasia dentro da igreja falsa será alguma forma de misticismo, que é exatamente para onde a igreja evangélica está rumando firmemente. Tudo parece estar caminhando em direção ao globalismo – nos âmbitos social, econômico, político e religioso.
Smith observa que até mesmo Rick Warren promove um plano global, denominado PEACE [PAZ]. O plano é: Promover a Reconciliação; Equipar Líderes Servos; Dar Assistência aos Pobres; Cuidar dos Enfermos; e Educar a Próxima Geração.[8] Há dois verbos que começam com a letra E no plano PEACE de Warren, mas nenhum deles significa “evangelizar” porque o Evangelho está totalmente fora desse plano.
Em seu livro, Smith não apenas ataca as trevas; em todo o seu texto ele diz aos crentes o que devemos crer e fazer em contraste com o Novo Evangelicalismo. Smith observa como o movimento do qual ele fez parte por mais de quarenta anos – as igrejas da Calvary Chapel – foi edificado, não nos princípios do crescimento da igreja nem no planejamento de homens, mas com base na simples pregação e no ensino da Palavra de Deus e de Seu Evangelho, confiando no Espírito Santo para imprimir aquela Palavra ao coração dos homens, fossem eles crentes ou incrédulos. Quando a Palavra de Deus é proclamada, afirma Smith, o Senhor edifica Sua Igreja.
Francamente, o impacto global do movimento da Calvary Chapel pela causa de Cristo (com milhares de igrejas implantadas em todo o mundo) é provavelmente maior que qualquer outra denominação ou movimento de que eu tenha notícia. Este não foi o produto de planejamento humano, mas o resultado da pregação da Palavra inerrante de Deus, confiando que o Espírito Santo abre o coração das pessoas. Maranata! (Thomas Ice - Pre-Trib Perspectives - http://www.chamada.com.br)

Notas:

  1. Paul Smith, New Evangelicalism: The New World Order [Novo Evangelicalismo: A Nova Ordem Mundial] (Costa Mesa, CA: Calvary, Chapel Publishing, 2011), 215 páginas.
  2. Harold Lindsell, The Battle for the Bible [A Batalha Pela Bíblia] (Grand Rapids: Zondervan, 1976). O livro seguinte de Lindsell, que deu continuidade a esse, foi The Bible in the Balance [A Bíblia no Equilíbrio] (Grand Rapids: Zondervan, 1979).
  3. Wayne Grudem, citado em Billy Graham Center Archives [Centro de Arquivos de Billy Graham], Wheaton, IL. Harold Lindsell Collection 192, Folder 6-20ss, Item 3, em Smith,New Evangelicalism, p. 74.
  4. Smith, New Evangelicalism, p. 95.
  5. Smith, New Evangelicalism, p. 108.
  6. Smith, New Evangelicalism, p. 126.
  7. Smith, New Evangelicalism, pp. 140–41.
  8. Smith, New Evangelicalism, p. 166–67.
Thomas Ice é diretor-executivo do Pre-Trib Research Center (Centro de Pesquisas Pré-Tribulacionistas) e professor de Teologia na Liberty University. Ele é Th.M. pelo Seminário Teológico de Dallas e Ph.D. pelo Seminário Teológico Tyndale. Editor da Bíblia de Estudo Profética e autor de aproximadamente 30 livros, Thomas Ice é também um renomado conferencista. Ele e sua esposa Janice vivem com os três filhos em Lynchburg, Virginia (EUA).
As opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade dos seus autores.

domingo, 17 de maio de 2015

Quando a casa pega fogo


Você pode ler esse título e pensar: com certeza ele está falando de um relacionamento familiar conturbado, ou quem sabe de um crise financeira, que faz a casa “pegar fogo”. Na verdade, estou sendo bem literal com esse título! Isso mesmo, em um noite chuvosa e cheia de raios, minha casa pegou fogo. Precisei tirar de casa minha família – minha esposa e nosso filho de 1 ano e meio – no meio da madrugada, às pressas, em meio a chuva e raios e com medo do botijão de gás explodir.
Porém, creio que o foco desse acontecimento não seja nossa família. Somos apenas uma pequena parte disso tudo.
Em um grande acontecimento que marca nossas vidas, e aqui eu estou falando especificamente de eventos “negativos”, há várias maneiras de enxergar a situação. Uma dessas maneiras é querer saber “porque comigo?”. Sinceramente, eu nem vou entrar nesse mérito porque a pergunta é egoísta demais e isso já seria suficiente para encerrar o assunto. A segunda forma é “Porque Deus deixou isso acontecer?”. Essa é uma pergunta sincera! Envolve uma dose de ceticismo, mas muitos vão por esse lado. Isso aconteceu porque Deus quis (e essa é a reposta mais sincera para essa pergunta). Ele permitiu porque Ele é soberano e seus propósitos eternos são perfeitos.
Quando aconteceu conosco, a pergunta que me veio a mente foi “Onde estava Deus em meio ao incêndio?”. E é nesse ponto que quero me concentrar e o que vou listar foram as respostas que tive que buscar para essa pergunta.

1. Deus estava soberanamente controlando tudo

“Do Senhor é a terra e tudo que nela existe, o mundo e os nele vivem; pois foi Ele quem fundou-a sobre os mares e firmou-a sobre as águas” Salmo 24.1-2 (NVI)
Tudo que existe é Dele. Minha vida inclusive. Deus soberanamente e perfeitamente controla todas as coisas para sua própria glória. Um incêndio numa casa precisa ser visto do ponto de vista de que Deus, em sua sabedoria e autoridade, permitiu que acontecesse para sua glória e para demonstrar seu poder.

2. Moldando a imagem de Cristo em nossa família

“Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu filho, afim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos” Romanos 8.29
Ser predestinado envolve um tratamento especial. Fomos salvos não para nós mesmos. Fomos salvos para glória de Deus e isso indica que seremos moldados “conformes à imagem do seu filho”.Nós precisávamos desse incêndio? Claro! Deus queria ver a imagem de Cristo sendo forma em nós. Como um Deus amoroso, o mais importante para nós é sermos transformados pelo evangelho de Cristo.

3. Nos unindo a Ele

“Porque Deus não nos destinou para ira, mas para recebermos a salvação por meio do nosso Senhor Jesus Cristo. Ele morreu por nós para que, quer estejamos acordados quer dormindo, vivamos unidos a Ele”1Tessalonicenses 5.9-10
A salvação mais importante que recebemos foi “…por meio do nosso Senhor Jesus Cristo”. E esse evento nos ensina que vivos ou mortos, conseguindo sair em segurança desse incêndio ou morrendo todos, Deus nos queria unidos a Ele. Não importa como sairíamos, mas com certeza estaríamos unidos a Ele.

4. Nos encorajando através da Igreja

“Não deixemos de reunir-nos como Igreja, segundo o costume de alguns, mas procuremos encorajar-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia” Hebreus 13.25

Fazer parte da família de Deus é um privilégio enorme, e não me refiro apenas aos benefícios. Me refiro ao fato de que a Igreja é um corpo vivo no qual o Senhor Jesus Cristo é o cabeça (Efésios 5.23). Deus usa sua Igreja (não apenas a local, mas também a universal) para nos encorajar em meio às situações adversas. Fazer parte desse projeto de Deus é um alívio! Em uma situação de caos, Deus mostra que sua família é marcada pela imagem de Cristo que se doou e amou os seus até o fim (João 13.1).
À vezes a casa pega fogo! Fixe seus olhos em Deus. O Senhor tem planos perfeitos e Ele quer moldar a imagem de Cristo em nós. Onde estava Deus nesse incêndio? Sendo Deus. Controlando todas as situações com sua soberania, amor e visando sua Glória. Toda Glória a Ele então!

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quinta-feira, 14 de maio de 2015

Quando Deus Parece Calado

Paul Golden
“Atenda, atenda!”, você grita ao telefone enquanto a pessoa que você ama está caída inconsciente no chão. Você já ligou freneticamente para a emergência. O telefone chama e chama, mas ninguém responde. “Quanto tempo, Deus, quanto tempo vai demorar até que eles respondam à minha chamada?” Nada.
Imagine seu desespero. Segundos transformam-se em minutos, mas ainda não há nenhuma resposta do atendente da emergência. Você está clamando por socorro, mas recebe apenas silêncio em troca.
Você já clamou a Deus e não recebeu nenhuma resposta? Você já se sentiu como se Deus estivesse surdo para você? O rei Davi de Israel sentiu-se assim. No Salmo 13, Davi registrou sua intensa frustração com o silêncio de Deus durante um tempo de profunda necessidade. Ali ele nos deu o exemplo de oração para seguirmos quando nos sentirmos como ele se sentiu.
É interessante que Davi não nos fornece os motivos específicos de seu chamado de emergência a Deus. Portanto, não sabemos se foi causado por enfermidade ou outra forma de dificuldade. O que sabemos é que a falta de reposta de Deus foi agonizante. Um escritor comentou: “O próprio tempo se torna uma força destrutiva, esgotando a capacidade do homem de se suster e intensificando o sofrimento em um nível desumano”.[1]

O Lamento

O Salmo 13 é um lamento individual, “um gênero de salmo no qual o falante do poema define uma crise e invoca a Deus para pedir por socorro”.[2] Ele “termina com uma nota de esperança e confiança”.[3] Davi colocava sua confiança em Deus com respeito ao seu pedido, e o salmo enfatiza, cândida e sinceramente, a reação tripla de Davi à falta de resposta de Deus. Primeiro, Davi revelou seu problema – que passara a ser a falta de resposta do próprio Deus.
Até quando, Senhor? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto? Até quando estarei eu relutando dentro de minha alma, com tristeza no coração cada dia? Até quando se erguerá contra mim o meu inimigo?” (Sl 13.1-2).
Davi se sentia ignorado e esquecido por Deus – alienado, sozinho com seus pensamentos.
Davi implorou a Deus quatro vezes, perguntando: “Até quando?” Você pode perceber a intensidade da emoção nas perguntas retóricas de Davi. Ele se sentia ignorado e esquecido por Deus – alienado, sozinho com seus pensamentos. Como aquele que chama a emergência. Davi estava profundamente angustiado.
Ele, então, verbalizou seu tumulto interior à medida que lutava com seu problema que parecia não terminar e que o cercava por todos os lados. As emoções francas de Davi podem ser desconfortáveis para alguns leitores. Entretanto, como observaram Kenneth Baker e Waylon Bailey:
Deus é amigo do que duvida honestamente, que ousa conversar com Ele em vez de falar sobre Ele. A oração que inclui um elemento de questionamento a Deus pode ser um meio de aumentar a fé daquela pessoa nEle. Expressar dúvidas e clamar sobre situações injustas no universo mostram a confiança que a pessoa tem em Deus de que Ele deveria ter uma resposta para os problemas insolúveis da sociedade.[4]
Quando você se defrontar com suas próprias frustrações com Deus, confie nEle – como Davi – expressando sua luta e angústia.

A Petição

Davi, então, faz uma transição: de questionar a Deus para orar a Deus. Ele faz sua petição a Deus, pedindo por uma resposta:
Atenta para mim, responde-me, Senhor, Deus meu! Ilumina-me os olhos, para que eu não durma o sono da morte; para que não diga o meu inimigo: Prevaleci contra ele; e não se regozijem os meus adversários, vindo eu a vacilar” (Sl 13.3-4).
O salmista usou uma oração com três partes (atente, responda, ilumine) para implorar a Deus. Ele buscou uma resposta, preferivelmente a resposta positiva das bênçãos e do favor de Deus. Depois, Davi apelou a Deus e a Sua reputação (v.4). Um comentarista escreveu o seguinte: “Antes que venham mais problemas, e antes que os ímpios tenham motivo para se regozijar por causa da derrota dos justos, Deus deve agir para proteger Sua honra”.[5] Davi implorou a Deus, dizendo essencialmente: “Por favor, dá-me motivos para me alegrar. Ou, pelo menos, não dês aos meus inimigos (e aos Teus inimigos) motivos para se alegrarem”. Como Davi, devemos orar a Deus em meio às circunstâncias difíceis e pedir que Ele nos responda.

O Louvor

Depois que Davi expressou seu problema e orou, ele louvou a Deus por Sua bondade e pelas bênçãos passadas:
No tocante a mim, confio na tua graça; regozije-se o meu coração na tua salvação. Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem” (Sl 13.4-5).
Que grande contraste entre o apelo emocionado de Davi a Deus no início (vv.1-2) comparado com estes versículos tranqüilos de confiança. Davi verbalizou sua escolha intencional de confiar em Deus a despeito de suas circunstâncias difíceis. Ele expressou sua confiança no amor do Senhor, um amor que não falha – resolvendo se regozijar e cantar ao Senhor porque Ele “me tem feito muito bem”.
“A esperança desespera, todavia, o desespero dá esperança”. Martim Lutero
Foi dito a respeito de Davi: “Embora ele tenha passado por profundo desespero, o salmista não desiste. (...) Ele se apegou à promessa da aliança de amor de Deus”.[6] Davi não estava arrasado pelos seus problemas; em sua situação desafiadora, ele disse: “Confio”. Martim Lutero certa vez declarou: “A esperança desespera, todavia, o desespero dá esperança”.
É interessante que todos os salmos de lamentação (com exceção do Salmo 88) terminam com louvor a Deus pela libertação e fidelidade mostradas no passado.[8] Claus Westermann descreveu o final da situação de Davi: “Aquele que lamenta seus sofrimentos a Deus não permanece em seu lamento”.[9] Davi decididamente colocou sua confiança no cuidado soberano de Deus, a despeito da falta de resposta de Deus. Ele determinou que poria sua confiança naquilo que ele sabia que era verdade sobre o caráter e a fidelidade de Deus em vez de ceder aos seus sentimentos de desânimo e desilusão.
O Dr. Mark McGinniss disse: “O silêncio de Deus não significa a ausência de Deus”. Davi resolveu confiar que o Deus soberano a quem ele servia estava agindo por detrás das cenas, a despeito de Sua aparente ausência.
Até quando, Senhor, eu terei que viver com esta doença crônica? Até quando, Senhor, não trarás de volta meu neto desobediente? Até quando, Senhor, terei que continuar desempregado? Até quando, Senhor, não nos darás um filho? Quando nós, como Davi, estamos enfrentando o que parece ser um silêncio sem respostas de Deus – a chamada sem resposta à emergência, quando clamamos pelo Seu nome – devemos seguir o exemplo de Davi: derramar diante de Deus os detalhes do problema; orar, pedindo a Ele por uma resposta; e louvá-lO por quem Ele é, a despeito de como nos sentimos em meio às nossas circunstâncias.
Deus tem um propósito para todas as coisas, até para aquilo que parece ser o silêncio dEle. Todavia, Ele promete que nunca nos deixará, nem nunca nos abandonará (Hb 13.5). Clamar pelo nome do Senhor está apenas a uma chamada de emergência de distância.

 (Paul Golden — Israel My Glory — Chamada.com.br)

Paul Golden é diretor de admissões no Seminário Bíblico Batista em Clarks Summit, Pennsylvania/EUA.