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sábado, 31 de março de 2012

Igreja Emergente ?


Será que a Igreja Emergente afundará a sua?

Uma coisa pouco agradável aconteceu quando estávamos a caminho do século XXI. No final do século XX, certos líderes saíram afirmando que precisávamos de “uma maneira nova de fazer igreja”. A religião dos tempos antigos não era boa o suficiente. Então vieram os novos truques, substituindo o Evangelho sólido. Vimos o surgimento do movimento da igreja que é “sensível aos que buscam” e que não ofende a ninguém. A “esquerda religiosa” tornou-se mais proeminente, promovendo seu evangelho social. E depois veio a Igreja Emergente.
Se você perguntar a dez cristãos o que é a Igreja Emergente, provavelmente nove deles ficarão sem ter o que dizer. Não obstante, ela está devorando denominações e igrejas inteiras que antes eram sólidas.
Então, o que é realmente esse fenômeno? Primeiro, ele é místico. Baseia-se em práticas dos antigos “padres do deserto”,* tais como oração contemplativa e meditar caminhando por um labirinto. Inclui também a yoga – tudo para chegar mais perto de Deus. Algumas de suas práticas deixam a pessoa em um estado alterado de consciência. Os emergentes não estão realmente interessados em doutrina; em vez disso, eles querem coisas que se possa sentir, tocar, e cheirar, tais como incenso e ícones.

Esse movimento reinventa o Cristianismo

Para os pós-modernos, a mensagem sólida do Evangelho é dogmática demais e arrogante. Os emergentes diriam que um evangelho mais moderado tinha que ser inventado para ser aceito pelas massas dentro dessa geração mais jovem. Na foto, o líder emergente Rob Bell.
Ele tira seus olhos da cruz e faz com que você enfoque a experiência. A Escritura já não é autoridade. Não há absolutos, nem na Bíblia. Os emergentes afirmam que, para levarmos o mundo e a igreja para a frente, devemos voltar atrás na história da igreja e abraçar até mesmo as crenças católicas. A doutrina deles está realmente mais perto do budismo, do hinduísmo e da Nova Era do que do cristianismo tradicional.
O inferno, o pecado e o arrependimento são deixados de lado para que ninguém se ofenda. Além disso, eles afirmam que não há absolutos suficientes para podermos falar sobre inferno, pecado e céu.
Os emergentes dizem que estão tentando proporcionar “significado a esta geração”. O que isso significa? No final do século XX, surgiu um anseio para atingir a geração pós-moderna. Conheça o termo pós-moderno! Ele é usado para descrever a geração de menos de 30 anos. E, conforme os emergentes, para alcançar essas pessoas, as tradições antigas tinham que ser abolidas.
Para os pós-modernos, a mensagem sólida do Evangelho é dogmática demais e arrogante. Os emergentes diriam que um evangelho mais moderado tinha que ser inventado para ser aceito pelas massas dentro dessa geração mais jovem.
Infelizmente, os recursos que eles escolheram para fazer isso estão mais de acordo com a adivinhação do que com qualquer outra coisa.
E, o que dizer sobre a escatologia deles? E sobre Israel? Como o enfoque deles é o evangelho social, eles estariam mais de acordo com a teologia do “Reino Agora”, de “tornar o mundo perfeito”. Eles não entendem literalmente nenhuma parte da escatologia bíblica (doutrina das coisas futuras, profecia) – consideram-na alegórica. Israel seria comparável a uma “república de bananas”. A ênfase está no Reino de Deus agora e não nas admoestações das Escrituras sobre o retorno iminente de Cristo em um julgamento que está por vir.

Agora chegamos a um problema muito importante

Essas pessoas são chamadas de evangélicas. De fato, a revista Time disse que o líder emergente Brian McLaren era um dos 25 evangélicos mais influentes no mundo. Um dos livros de McLaren tem o título de Everything Must Change (Tudo Tem Que Mudar). Aí está, a partir do próprio líder: a igreja deve mudar para a cultura dos tempos modernos. As maneiras antigas devem ser descartadas e novas maneiras estão aí; mas elas não são sensatas nem confiáveis.
Outro líder destacado é Rob Bell. Seus vídeos têm sido vistos em todo tipo de igreja evangélica. Em torno deles os grupos de estudos bíblicos das igrejas se juntam, examinando-os e adotando-o como um cristão fantástico do século XXI com novas idéias. O problema é que uma de suas  chocantes afirmações foi: “Essa não é apenas aquela mesma mensagem com novos métodos. Estamos redescobrindo o cristianismo como uma religião oriental”.
Outros líderes proeminentes da Igreja Emergente incluem: Doug Pagitt, Dan Kimbal, Tony Jones, Dallas Willard e Robert Webber. Há outros, mas a lista é longa.
Em poucas palavras, a ação social supera as questões eternas; os sentimentos subjetivos são preferidos à verdade absoluta; a experiência se sobrepõe à razão.
Agora você tem alguns dos pontos básicos à sua frente. Espalhe a notícia de que um movimento relativamente novo está seduzindo milhões e que ele não é sadio, não é bíblico, e é alarmante. Essa Igreja Emergente pode fazer a sua igreja afundar!
Você não pode dizer que não foi avisado!



Jan Markell é fundadora/presidente de Olive Tree Ministries em Minneapolis, MN, EUA.
* Eremitas e cenobitas do século IV que viveram no deserto egípcio.

Publicado anteriormente na revista Chamada da Meia-Noite, março de 2010.

Revista mensal que trata de vida cristã, defesa da fé, profecias, acontecimentos mundiais e muito mais. Veja como a Bíblia descreveu no passado o mundo em que vivemos hoje, e o de amanhã também

NO QUE ACREDITAM OS CRISTÃOS




1.AS CONCEPÇÕES CONCORRENTES DE DEUS

Pediram para que eu lhes dissesse em que os cristãos acreditam, mas vou falar antes sobre uma coisa em que eles não precisam acreditar. Se você é cristão, não preci­sa acreditar que todas as outras religiões estão simples­mente erradas de cabo a rabo. Se você é ateu, é obrigado a acreditar que o ponto de vista central de todas as reli­giões do mundo não passa de um gigantesco erro. Se você é cristão, está livre para pensar que todas as religiões, mes­mo as mais esquisitas, possuem pelo menos um fundo de verdade. Quando eu era ateu, tentei me convencer de que a raça humana sempre estivera enganada sobre o as­sunto que lhe era mais caro; quando me tornei cristão, pude adotar uma opinião mais liberal sobre o assunto.
É claro, no entanto, que, pelo fato de sermos cristãos, nós temos efetivamente o direito de pensar que, onde o cristianismo difere das outras religiões, ele está certo e as outras, erradas. É como na aritmética: para uma de­terminada soma, só existe uma resposta certa, e todas as outras estão erradas; porém, algumas respostas erradas estão mais próximas da certa do que as outras.
A primeira grande divisão da humanidade se dá en­tre a maioria que acredita em alguma espécie de Deus, ou deuses, e a minoria que não acredita. Nesse ponto, os cristãos se juntam à maioria - os gregos e romanos da Antigüidade, os selvagens modernos, os estóicos, os pla­tônicos, os hindus, os maometanos etc, contra o materialismo europeu ocidental moderno.
Passo agora à grande divisão seguinte. As pessoas que acreditam em Deus podem ser agrupadas de acordo com o tipo de Deus em que acreditam. Neste assunto, existem duas concepções bem diferentes uma da outra. Uma delas é a de que ele está acima do Bem e do Mal. Nós, seres humanos, dizemos que uma coisa é má e outra é boa. De acordo com alguns, porém, esse é um mero ponto de vista humano. Essas pessoas diriam que, quanto mais sábios nos tornamos, menos nos interes­samos por classificar as coisas dessa maneira, e nos da­mos conta com clareza cada vez maior de que tudo é bom sob certo ponto de vista e mau sob outro, e que nada poderia ser diferente do que é. Em conseqüência, essas pessoas crêem que, antes mesmo de nos aproximarmos do ponto de vista divino, essa distinção desaparece to­talmente. Nós consideramos o câncer mau, diriam elas, porque ele mata pessoas; mas poderíamos igualmente chamar um cirurgião de mau porque ele mata o câncer. Tudo depende do ponto de vista. A outra idéia, oposta a esta, é de que Deus é definitivamente "bom" ou "jus­to", é um Deus que toma partido, que ama o amor e odeia o ódio, que quer que nos comportemos de uma forma e não de outra. O primeiro ponto de vista - o de um Deus acima do Bem e do Mal - é chamado panteísmo. Foi sustentado por Hegel, o grande filósofo prus­siano, e, na medida em que posso compreendê-los, pe­los hindus. O outro ponto de vista é sustentado pelos judeus, maometanos e cristãos.
Essa grande diferença entre o panteísmo e a idéia cristã de Deus normalmente traz outra a reboque. Os panteístas em geral acreditam que Deus, para usar uma metáfora, anima o universo como nós animamos o cor­po: o universo quase é Deus, de tal modo que, se o uni­verso não existisse, Deus também não existiria, pois todos os seres do universo fazem parte dele. A idéia cristã é bem diferente. Os cristãos pensam que Deus inventou e criou o universo como um homem que pinta um quadro ou compõe uma música. Um pintor não é o que ele pinta e não vai morrer se o quadro for destruído. Quando di­zemos que "ele infundiu sua alma na pintura", só que­remos dizer que a beleza e o fascínio que o quadro des­perta vieram da mente dele. A habilidade dele não está presente na tela da mesma forma que está presente em sua cabeça ou mesmo em suas mãos. Acho que você já compreendeu que a diferença entre panteístas e cristãos segue essa mesma linha. Se você não leva muito a sério a distinção entre o Bem e o Mal, é fácil dizer que qual­quer coisa que encontra no mundo é uma parte de Deus. Por outro lado, se acha que certas coisas são realmente más e Deus é realmente bom, já não pode falar dessa ma­neira. Tem de acreditar que existe uma separação entre Deus e o mundo e que certas coisas que vemos são con­trárias à sua vontade. Confrontado com o câncer ou com a miséria, o panteísta pode dizer: "Se pudéssemos ver as coisas do ponto de vista divino, nos daríamos conta de que isso também é Deus." O cristão retruca: "Não diga essa maldita asneira!"[1] O cristianismo é uma religião aguerrida. Para o cristão, Deus criou o mundo - "tirou de sua cabeça" o espaço e o tempo, o calor e o frio, todas as cores e sabores, todos os animais e vegetais, como um homem que cria uma história. Por outro lado, para o cristianismo, muitas das coisas criadas por Deus caíram no erro, e Deus insiste - aliás, de forma enfática - em co­locá-las de volta no lugar.
Com isto, é claro, surge uma pergunta difícil. Se um Deus bom criou o mundo, por que esse mundo deu errado? Por muitos anos, recusei-me a ouvir as respos­tas cristãs à pergunta, pois tinha a sensação persistente de que "o que quer que vocês digam, por mais astutos que sejam seus argumentos, não é muito mais simples e mais fácil afirmar que o mundo não foi feito por um poder dotado de inteligência? As argumentações de vo­cês não são apenas uma complicada tentativa de fugir ao óbvio?" Mas, através disso, acabei deparando com outra dificuldade.
Meu argumento contra Deus era o de que o uni­verso parecia injusto e cruel. No entanto, de onde eu tirara essa idéia de justo e injusto? Um homem não diz que uma linha é torta se não souber o que é uma linha reta. Com o que eu comparava o universo quando o cha­mava de injusto? Se o espetáculo inteiro era ruim do começo ao fim, como é que eu, fazendo parte dele, po­dia ter uma reação assim tão violenta? Um homem sen­te o corpo molhado quando entra na água porque não é um animal aquático; um peixe não se sente assim. E claro que eu poderia ter desistido da minha idéia de justiça dizendo que ela não passava de uma idéia particular minha. Se procedesse assim, porém, meu argu­mento contra Deus também desmoronaria - pois de­pende da premissa de que o mundo é realmente injusto, e não de que simplesmente não agrada aos meus capri­chos pessoais. Assim, no próprio ato de tentar provar que Deus não existe - ou, por outra, que a realidade como um todo não tem sentido -, vi-me forçado a ad­mitir que uma parte da realidade - a saber, minha idéia de justiça- tem sentido, sim. Ou seja, o ateísmo é uma solução simplista. Se o universo inteiro não tivesse sen­tido, nunca perceberíamos que ele não tem sentido - do mesmo modo que, se não existisse luz no universo e as criaturas não tivessem olhos, nunca nos saberíamos imer­sos na escuridão. A própria palavra escuridão não teria significado.

2. A INVASÃO

Pois bem, então o ateísmo é simplista. E vou lhes fa­lar de outro ponto de vista igualmente simplista que chamo de "cristianismo água-com-açúcar". De acordo com ele, existe um bom Deus no Céu e tudo o mais vai muito bem, obrigado - o que deixa completamente de lado as doutrinas difíceis e terríveis a respeito do pecado, do inferno, do diabo e da redenção. Os dois pontos de vista são filosofias pueris.
Não convém exigir uma religião simples. Afinal de contas, as coisas no mundo real são complexas. Parecem simples, mas não são. A mesa à qual estou sentado pa­rece simples, mas peça a um cientista que diga do que ela é realmente feita: você ouvirá uma longa história a respeito dos átomos e de como as ondas luminosas refle­tem-se neles e chegam ao nervo óptico, provocando um efeito no cérebro. Assim, o que chamamos de "enxergar a mesa" nos leva a mistérios e complicações aparentemen­te inesgotáveis. Uma criança que faz uma oração infantil é algo singelo. Se você estiver disposto a parar por aí, ótimo. Mas, se você não se contentar com isso (coisa que acontece bastante no mundo moderno) e quiser levar avante o questionamento sobre o que realmente acon­tece, tem de estar preparado para enfrentar dificuldades. Se exigimos algo que vá além da simplicidade, é tolice nos queixarmos de que esse algo a mais não é simples. Com muita freqüência, entretanto, esse procedi­mento tolo é adotado por pessoas que não têm nada de tolas, mas que, consciente ou inconscientemente, que­rem destruir o cristianismo. Essas pessoas apresentam uma versão da religião cristã própria para crianças de seis anos e fazem dela o objeto de seu ataque. Quando tentamos explicar a doutrina cristã tal como é entendida por um adulto instruído, elas se queixam de que estamos dando um nó na cabeça delas, de que tudo o que dize­mos é complicado demais e de que, se Deus realmente existisse, teria feiro a "religião" simples, pois a simplici­dade é bela etc. Esteja sempre em guarda contra este tipo de gente, sujeitos que trocam de argumento a cada minuto e só nos fazem perder tempo. Note o absurdo da idéia de um Deus que "faz uma religião simples": co­mo se a "religião" fosse algo inventado por Deus, e não a sua afirmação de certos fatos inalteráveis a respeito de sua própria natureza.
A experiência me diz que a realidade, além de com­plicada, é quase sempre estranha. Não é precisa, nem óbvia, nem previsível. Por exemplo, quando você des­cobre que a Terra e os outros planetas giram em torno do Sol, pensa naturalmente que todos os planetas de­vem se comportar da mesma maneira, que são separa­dos por distâncias iguais ou distâncias que aumentam proporcionalmente, ou que devem aumentar ou dimi­nuir de tamanho à medida que se afastam do Sol. No en­tanto, não encontramos nem métrica nem método (que possamos compreender) nos tamanhos ou nas distâncias. Além disso, alguns planetas possuem uma lua; outros, quatro; alguns, nenhuma; e um planeta tem um anel.
A realidade, com efeito, é algo que ninguém poderia adivinhar. Este é um dos motivos pelo qual acredito no cristianismo. E uma religião que ninguém poderia adi­vinhar. Se ela nos oferecesse o tipo de universo que es­peraríamos encontrar, eu acharia que ela havia sido in­ventada pelo homem. Porém, a religião cristã não é nada daquilo que esperávamos; apresenta todas as mudanças inesperadas que as coisas reais possuem. Deixemos de lado, portanto, todas as filosofias pueris e suas respostas simplistas. O problema não é nada simples, e a respos­ta tampouco.
E qual é o problema? E um universo cheio de coi­sas evidentemente más e aparentemente sem sentido, mas que ao mesmo tempo contém criaturas como nós, que têm a consciência dessa maldade e desse absurdo. Existem só dois pontos de vista que conseguem con­templar todos esses fatos. Um deles é o cristianismo, se­gundo o qual estamos num mundo bom que se perdeu, mas que ainda assim conserva a memória de como de­veria ser. O outro ponto de vista chama-se dualismo. Dualismo é a crença de que, na raiz de todas as coisas, há duas forças iguais e independentes, uma delas boa, a outra má. O universo é o campo de batalha no qual travam uma guerra sem fim. Creio que, ao lado do cris­tianismo, o dualismo é a crença mais viril e sensata exis­tente no mercado. Porém, traz em si uma armadilha.
Os dois poderes, ou espíritos, ou deuses - o bom e o mal - são tidos como independentes um do outro. Ambos existem eternamente. Nenhum deles gerou o ou­tro, nenhum deles tem mais direito que o outro de cha­mar a si mesmo de "Deus". Cada um deles, presumi­velmente, considera a si mesmo o Bem, e ao outro, o Mal. Um deles aprecia o ódio e a crueldade; o outro, o amor e a misericórdia; e cada qual sustenta sua própria visão das coisas. No entanto, o que temos em mente quando chamamos um deles de Poder Benigno, e o outro, de Poder Maligno? Talvez queiramos dizer simplesmen­te que preferimos um ao outro — como alguém pode preferir uma cerveja a um vinho doce; ou então queira­mos dizer que o que quer que cada um deles pense a seu respeito, e independentemente de nossas preferên­cias humanas imediatas, um deles está efetivamente er­rado, enganado ao se considerar benigno. Ora, se tudo o que queremos dizer é que preferimos o primeiro po­der, temos de desistir definitivamente dessa conversa de Bem e de Mal, pois o Bem é aquilo que devemos preferir quaisquer que sejam os nossos sentimentos momentâ­neos. Se "ser bom" significasse apenas aderir ao lado que por acaso nos agrada, o Bem não mereceria ser chama­do assim. Logo, o que queremos dizer é que um dos po­deres está errado, enquanto o outro está certo.
Mas no momento em que dizemos isto, insere-se no universo um terceiro fator, distinto dos outros dois poderes: uma lei, ou padrão, ou regra geral do Bem à qual o primeiro poder se submete, e o outro, não. Se os dois poderes são julgados por esse padrão, então o próprio padrão ou o Ser que o criou está além e acima de qual­quer um dos poderes. E ele o Deus verdadeiro. Na rea­lidade, quando dizemos que um poder é bom e o outro é mau, entendemos que um está em relação harmonio­sa com o Deus verdadeiro e supremo, e o outro, não.
O mesmo argumento pode ser apresentado de ou­tra maneira. Se o dualismo é real, o poder maligno deve ser um ente que ama o Mal pelo Mal. Na realidade, po­rém, não encontramos ninguém que aprecie o Mal só porque é o Mal. O mais próximo disso seria a crueldade. Mas, na vida real, as pessoas são cruéis por um de dois motivos: por sadismo, ou seja, por causa de uma perver­são sexual que faz da dor um objeto de prazer sensual, ou pela busca de algum benefício externo - dinheiro, poder, segurança. O prazer, o dinheiro, o poder e a se­gurança, considerados em si mesmos, são coisas boas. A maldade consiste em tentar obtê-los pelos métodos errados, ou de forma errada, ou em excesso. Não quero dizer, de modo algum, que não sejam terrivelmente per­versas as pessoas que agem assim. Digo apenas que a perversidade, quando a examinamos de perto, revela-se como um jeito errado de buscar o Bem. Podemos deci­dir ser bons por amor à própria bondade, mas não po­demos ser maus por amor à maldade. Podemos agir de forma bondosa mesmo quando não nos sentimos bon­dosos e não há uma recompensa para agir assim; a bonda­de é simplesmente a atitude correta. Ninguém, no en­tanto, é cruel simplesmente porque a crueldade é má; só o é porque ela lhe parece agradável ou lhe é útil. Em outras palavras, a maldade não consegue sequer ser má como a bondade é boa. A bondade, por assim dizer, é ela mesma, ao passo que a maldade é apenas o Bem per­vertido. E, para que haja uma perversão, é preciso que antes haja uma perfeição. Chamamos o sadismo de per­versão sexual, mas, para chamá-lo assim, temos de ter a idéia de uma sexualidade normal. Conseguimos distin­guir claramente um do outro porque a perversão pode ser explicada pela normalidade, mas a normalidade não pode ser explicada pela perversão. Segue-se que o Po­der Maligno, que supostamente está em pé de igualdade com o Poder Benigno e ama o Mal pelo Mal como aque­le ama o Bem pelo Bem, não passa de um bicho-papão. Para ser mau, ele tem de querer algo de bom e buscá-lo da forma errada: tem de ter impulsos originariamente bons para depois pervertê-los. Mas, se é mau, não pode fornecer a si mesmo nem as coisas boas e desejáveis nem os bons impulsos passíveis de perversão. Tem de receber ambos do Poder Benigno. Nesse caso, não é independen­te. Faz parte do mundo do Poder do Bem: ou foi gerado por este, ou por um poder superior a ambos.
Vamos colocar o assunto de forma mais clara ainda. Para que seja mau, esse poder tem de existir e ter inte­ligência e vontade. Ora, a existência, a inteligência e a vontade são, em si mesmas, coisas boas. Logo, esse po­der tem de receber essas qualidades do Poder do Bem: mesmo para ser mau, tem de emprestá-las ou roubá-las do seu opositor. Você começa a perceber agora por que o cristianismo sempre disse que o diabo é um anjo caí­do? Isto não é apenas uma historieta para crianças. E o reconhecimento real do fato de que o Mal é um para­sita, não um ente original. As forças que fazem com que o Mal possa subsistir foram dadas pelo Bem. Todas as coisas que propiciam que um homem mau seja efetiva­mente mau são, em si mesmas, qualidades: resolução, esperteza, boa aparência, a própria existência. E por cau­sa disso que o dualismo, a rigor, não funciona.
Devo admitir, por outro lado, que o verdadeiro cristianismo (o qual não deve ser confundido com o cristianismo água-com-açúcar) é bem mais próximo do dualismo do que as pessoas imaginam. Uma das coisas que me surpreenderam quando pela primeira vez li a sério o Novo Testamento são as menções freqüentes a uma Força Negra em ação no universo — um poderoso espírito maligno, causa principal da morte, da doença e do pecado. A diferença é que o cristianismo pensa que essa Força Negra foi criada por Deus e que no momento da criação era benigna, tendo-se perdido depois. O cris­tianismo concorda com o dualismo em que o universo está em guerra, mas discorda que seja uma guerra en­tre forças independentes. Considera-a antes uma guer­ra civil, uma rebelião, e afirma que vivemos na parte do universo ocupada pelos rebeldes.
Um território ocupado pelo inimigo — assim é este mundo. O cristianismo é a história de como o rei por direito desembarcou disfarçado em sua terra e nos cha­ma a tomar parte numa grande campanha de sabota­gem. Quando você vai à igreja, na verdade vai receber os códigos secretos mandados pelos nossos amigos: não é por outro motivo que o inimigo fica tão ansioso para nos impedir de freqüentá-la. Ele apela à nossa vaidade, preguiça e esnobismo intelectual. Sei que alguém vai me perguntat: "Você quer mesmo, na época em que vi­vemos, trazer de novo à baila a figura do nosso velho amigo, o diabo, com seus chifres e seu rabo?" Bem, o que a "época em que vivemos" tem a ver com o assunto, não sei. Quanto aos chifres e ao rabo, não faço muita questão deles. Quanto ao mais, porém, minha resposta é "sim". Não afirmo conhecer coisa alguma sobre a apa­rência pessoal do diabo, mas, se alguém realmente qui­sesse conhecê-lo melhor, eu diria a essa pessoa: "Não se preocupe. Se você realmente quiser travar relações com ele, vai conseguir. Se vai gostar ou não da experiência, isso é outro assunto."

3. A ALTERNATIVA ESTARRECEDORA

Os cristãos acreditam, portanto, que um poder ma­ligno se alçou, por enquanto, ao posto de Príncipe des­se Mundo. E inevitável que isso levante alguns proble­mas. Esse estado de coisas está de acordo com a vontade de Deus ou não? Se a resposta for "sim", você dirá que esse Deus é bastante esquisito. Se for "não", como pode acontecer algo que contrarie a vontade de um ser dotado de poder absoluto?
Quem quer que tenha exercido um papel de auto­ridade, no entanto, sabe que algo pode estar de acordo com sua vontade por um lado e em desacordo por outro. É bastante sensato que a mãe diga a seus filhos: "Não vou mandá-los arrumar o quarto de brinquedos toda noite. Vocês têm de aprender a fazer isso sozinhos." Quan­do, certa noite, ela encontra o quarto todo bagunçado, com o urso de pelúcia, as canetinhas e o livro de gramá­tica espalhados pelo chão, isso contraria a sua vontade; afinal, ela preferia que os filhos fossem mais organiza­dos. Por outro lado, foi a sua vontade que permitiu que as crianças ficassem livres para deixar o quarto desorgani­zado. A mesma questão surge em qualquer regimento, sindicato ou escola. Quando algo é opcional, metade das pessoas não o cumprirá. Não era isso que queríamos, mas nossa vontade o tornou possível.
Provavelmente, o mesmo acontece no universo. Deus criou coisas dotadas de livre-arbítrio: criaturas que po­dem fazer tanto o bem quanto o mal. Alguns pensam que podem conceber uma criatura que, mesmo desfru­tando da liberdade, não tivesse possibilidade de fazer o mal. Eu não consigo. Se uma coisa é livre para o bem, é livre também para o mal. E o que tornou possível a existência do mal foi o livre-arbítrio. Por que, então, Deus o concedeu? Porque o livre-arbítrio, apesar de possibi­litar a maldade, é também aquilo que torna possível qualquer tipo de amor, bondade e alegria. Um mundo feito de autômatos — criaturas que funcionassem como máquinas - não valeria a pena ser criado. A felicidade que Deus quis para suas criaturas mais elevadas é a fe­licidade de estar, de forma livre e voluntária, unidas a ele e aos demais seres num êxtase de amor e deleite ao qual os maiores arroubos de paixão terrena entre um ho­mem e uma mulher não se comparam. Por isso, essas criaturas têm de ser livres.
E claro que Deus sabia o que poderia acontecer se a liberdade fosse usada de forma errada. Aparentemente, ele achou que valia a pena correr o risco. Talvez quei­ramos discordar dele. Existe, porém, um empecilho para se discordar de Deus. Ele é a fonte da qual vem toda a nossa faculdade de raciocínio: não podemos estar certos e ele, errado, assim como uma onda não pode mudar o sentido da maré. Quando discutimos com ele, esta­mos na verdade discutindo contra o próprio poder que nos tornou capazes de discutir: é como se cortássemos o galho no qual estamos sentados. Se Deus pensa que o estado de guerra no universo é um preço justo a pagar pelo livre-arbítrio - ou seja, pela criação de um mundo vivaz no qual as criaturas podem fazer tanto um grande bem quanto um grande mal, no qual acontecem coisas realmente importantes, em vez de um mundo de mario­netes que só se movem quando ele puxa as cordinhas -, devemos igualmente consentir que o preço é justo.
Quando compreendemos a questão do livre-arbítrio, vemos o quanto é tolo perguntar o que alguém certa vez me perguntou: "Por que Deus criou um ser de ma­téria tão corrompida, condenando-o ao erro?" Quanto melhor for a matéria da qual for feita uma criatura -quanto mais ela for inteligente, forte e livre -, tanto me­lhor será ela quando tender para o certo, e tanto pior quando tender para o errado. Uma vaca não pode ser nem muito boa, nem muito má; um cachorro já pode ser um pouco melhor ou um pouco pior; uma criança pode ser ainda melhor ou pior; um homem comum, ainda melhor ou pior; um homem de gênio, melhor ou pior ainda; um espírito sobre-humano, melhor - ou pior — do que todos os demais.
Como pôde o Poder das Trevas ter caído no erro? Para essa pergunta, sem dúvida, nós, seres humanos, não conseguimos formular uma resposta com absoluta cer­teza. Podemos, entretanto, oferecer um palpite razoável (e tradicionalmente aceito) baseado em nossas próprias experiências de erro. No momento em que possuímos um ego, temos a possibilidade de nos colocar em pri­meiro lugar - de querer ser o centro de tudo — de que­rer, na verdade, ser Deus. Esse foi o pecado de Satanás, e foi esse o pecado que ele ensinou à raça humana. Cer­tas pessoas julgam que a queda do homem teve algo a ver com o sexo, mas estão enganadas. (A história con­tada no Livro do Gênesis sugere, isto sim, que nossa na­tureza sexual foi corrompida após a queda, como uma conseqüência desta, e não uma causa.) O que Satanás colocou na cabeça dos nossos remotos ancestrais foi a idéia de que poderiam "ser como deuses" — poderiam bastar-se a si mesmos como se fossem seus próprios cria­dores; poderiam ser senhores de si mesmos e inventar um tipo de felicidade fora e à parte de Deus. Dessa ten­tativa, que não pode dar certo, vem quase tudo o que chamamos de história humana: o dinheiro, a miséria, a ambição, a guerra, a prostituição, as classes, os impé­rios, a escravidão - a longa e terrível história da tenta­tiva do homem de descobrir a felicidade em outra coisa que não Deus.
A razão pela qual essa tentativa não pode ser bem-sucedida é a seguinte: Deus nos criou como um ho­mem inventa uma máquina. Um carro é feito para ser movido a gasolina. Deus concebeu a máquina humana para ser movida por ele mesmo. O próprio Deus é o com­bustível que nosso espírito deve queimar, ou o alimento do qual deve se alimentar. Não existe outro combustível, outro alimento. Esse é o motivo pelo qual não podemos pedir que Deus nos faça felizes e ao mesmo tempo não dar a mínima para a religião. Deus não pode nos dar uma paz e uma felicidade distintas dele mesmo, porque fora dele elas não se encontram. Tal coisa não existe.
Essa é a chave da história humana. Despende-se uma energia incrível, erguem-se civilizações, concebem-se excelentes instituições, mas algo sempre dá errado. Uma falha fatal sempre permite que as pessoas mais egoístas e cruéis subam ao poder, trazendo a derrocada, a des­graça e a ruína. A máquina, em outras palavras, emper­ra, Ela parece engrenar bem e rodar por alguns metros, mas então se quebra. Tentamos fazê-la funcionar com o combustível errado. E isso que Satanás fez para nós, seres humanos.
E o que Deus fez? Em primeiro lugar, nos deu uma consciência, o sentido do certo e do errado. Ao longo da história, certas pessoas tentaram obedecê-la (algumas, com muito esforço); nenhuma delas conseguiu obede­cê-la totalmente. Em segundo lugar, enviou à raça hu­mana o que chamo de "sonhos bons": as histórias extraor­dinárias espalhadas por todas as religiões pagãs sobre um deus que morre e ressuscita e que, por sua morte, dá nova vida ao homem. Em terceiro lugar, Ele escolheu um certo povo e, por séculos a fio, martelou na cabeça desse povo que tipo de Deus ele era, que não havia ou­tro fora dele e que ele exigia a boa conduta. Esse povo foi o povo judeu, e o Antigo Testamento nos dá a nar­rativa de como foi esse martelar.
O verdadeiro choque vem depois. Entre os judeus surge, de repente, um homem que começa a falar como se ele próprio fosse Deus. Afirma categoricamente per­doar os pecados. Afirma existir desde sempre e diz que voltará para julgar o mundo no fim dos tempos. Deve­mos aqui esclarecer uma coisa: entre os panteístas, como os indianos, qualquer um pode dizer que é uma parte de Deus, ou é uno com Deus, e não há nada de muito es­tranho nisso. Esse homem, porém, sendo um judeu, não estava se referindo a esse tipo de divindade. Deus, na sua língua, significava um ser que está fora do mundo, que criou o mundo e é infinitamente diferente de tudo o que criou. Quando você entende esse fato, percebe que as coisas ditas por esse homem foram, simplesmente, as mais chocantes já pronunciadas por lábios humanos.
Há um elemento do que ele afirmava que tende a passar despercebido, pois o ouvimos tantas vezes que já não percebemos o que ele de fato significa. Refiro-me ao perdão dos pecados. De todos os pecados. Ora, a me­nos que seja Deus quem o afirme, isso soa tão absurdo que chega a ser cômico. Compreendemos que um ho­mem perdoe as ofensas cometidas contra ele mesmo. Você pisa no meu pé, ou rouba meu dinheiro, e eu o per­dôo. O que diríamos, no entanto, de um homem que, sem ter sido pisado ou roubado, anunciasse o perdão dos pisões e dos roubos cometidos contra os outros? Pre­sunção asinina é a descrição mais gentil que podemos dar da sua conduta. Entretanto, foi isso o que Jesus fez. Anunciou ao povo que os pecados cometidos estavam perdoados, e fez isso sem consultar os que, sem dúvida alguma, haviam sido lesados por esses pecados. Sem hesitar, comportou-se como se fosse ele a parte interessada, como se fosse o principal ofendido. Isso só tem sentido se ele for realmente Deus, cujas leis são trans­gredidas e cujo amor é ferido a cada pecado cometido. Nos lábios de qualquer pessoa que não Deus, essas pa­lavras implicam algo que só posso chamar de uma im­becilidade e uma vaidade não superadas por nenhum outro personagem da história.
No entanto (e isto é estranho e, ao mesmo tempo, significativo), nem mesmo seus inimigos, quando lêem os evangelhos, costumam ter essa impressão de imbeci­lidade ou vaidade. Quanto menos os leitores sem pre­conceitos. Cristo afirma ser "humilde e manso", e acre­ditamos nele, sem nos dar conta de que, se ele fosse so­mente um homem, a humildade e a mansidão seriam as últimas qualidades que poderíamos atribuir a alguns de seus ditos.
Estou tentando impedir que alguém repita a rema­tada tolice dita por muitos a seu respeito: "Estou dispos­to a aceitar Jesus como um grande mestre da moral, mas não aceito a sua afirmação de ser Deus." Essa é a úni­ca coisa que não devemos dizer. Um homem que fosse somente um homem e dissesse as coisas que Jesus dis­se não seria um grande mestre da moral. Seria um lu­nático - no mesmo grau de alguém que pretendesse ser um ovo cozido — ou então o diabo em pessoa. Faça a sua escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou não passa de um louco ou coisa pior. Você pode querer calá-lo por ser um louco, pode cuspir nele e matá-lo co­mo a um demônio; ou pode prosternar-se a seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas que ninguém venha, com paternal condescendência, dizer que ele não pas­sava de um grande mestre humano. Ele não nos deixou essa opção, e não quis deixá-la.



[1] Um ouvinte queixou-se do uso da palavra damned (maldita), que seria uma imprecação le­viana. Mas eu quis dizer literalmente o que disse: uma asneira maldita é a que sofre a mal­dição de Deus e que (exceto pela graça divina) leva à morte eterna os que nela acreditam.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Arrepender-se é mudar o mundo




O arco da narrativa de Lucas, que se alça no evangelho que traz o seu nome e se fecha graciosamente no livro de Atos, é sustentado por um bom número de conceitos-chave, motivos centrais que [re]aparecem em momentos estratégicos e amarram dessa forma a sua estrutura. São temas como batismoarrependimento, salvação, plano divino e a relação entre a rejeição e a expansão da mensagem da boa nova.
Dentre esses, o menos importante não será a noção de metanoia/arrependimento. A raiz grega para “arrependimento” aparece 25 vezes no trajeto de Lucas-Atos, número que representa mais de 45% de todas as ocorrências da palavra no Novo Testamento. Mais importante do que observar essas cifras, no entanto, será notar que os demais autores do Novo Testamento, quando usam a palavra, não se dão ao trabalho de defini-la ou de fornecer para ela quaisquer verdadeiros pontos de referência. Lucas é o único autor neotestamentário a apresentar chaves numerosas e inequívocas para que seu leitor entenda a natureza do arrependimento, “Frutos dignos de arrependimento”, isto é, atitudes que evidenciem a nossa mudança de mentalidade.conforme anunciado por Jesus e por seu precursor, bem como as implicações da idéia para a comunidade cristã e para a sociedade como um todo.
Para o autor de Lucas e Atos o arrependimento é uma forma muito peculiar e prenhe de consequências de mudança de mentalidade. Sua idéia de arrependimento tem, na realidade, pouca relação com a arapuca cheia de implicações teológicas com que tentamos aprisionar a palavra.
Muito embora no evangelho de Lucas João Batista dê início ao seu serviço público apregoando o “batismo de arrependimento tendo em vista a remissão de pecados” (Lucas 3:3), nesta narrativa arrepender-se não é o mesmo que “abraçar o perdão”, nem é o mesmo que “abandonar uma vida de pecado” (pelo menos não no sentido seletivo que costumamos atribuir a perdão e pecado).
Muito embora João Batista deixe muito claro (Lucas 3:8) que o apego à tradição religiosa não tem poder para poupar quem quer que seja da ira vindoura (“nem comecem a dizer em si mesmos: ‘Nosso pai é Abraão’”), para Lucas arrepender-se também não é mero recurso para se evitar a punição divina.
Tanto “abandonar o pecado” quanto “evitar a punição”, idéias através das quais estamos habituados a interpretar o termo arrependimento, tem uma natureza negativa: enfatizam o que não deve ser feito e aquilo que pode ser evitado. Na narrativa de Lucas-Atos, o arrependimento é sempre coisa a ser lida numa lente positiva: diz respeito, invariavelmente, ao que deve ser, a partir daquele momento e para sempre, colocado em prática.
Para Lucas, a mensagem do arrependimento não anuncia coisa alguma a respeito do que Deus está fazendo; ela anuncia tudo a respeito do que você deve fazer. Para Lucas, as implicações do arrependimento não são teológicas, mas práticas. Para Lucas, arrepender-se é um modo de abraçar a salvação pelo método de salvar os outros.
Isso fica evidente desde o primeiro momento em que a idéia é apresentada pelo autor, no terceiro capítulo do seu evangelho. Às multidões que saíam para ser batizadas por ele, João Batista dava a entender, sem qualquer rodeio, que o seu batismo não representava garantia alguma ou mérito algum (vv. 7-8). “O que vocês devem fazer”, ele esclarece em seguida, “é produzir frutos dignos de arrependimento”. Em outras palavras, o que Deus está exigindo de nós não são ritos ou profissões de fé, masatitudes que evidenciem a nossa mudança de mentalidade. Porque as árvores que não dão frutos – isto é, os adoradores que não produzem evidência da sua mudança de critérios – estão sendo cortadas e lançadas no fogo (v. 9).
Diante dessa exigência, os ouvintes de João Batista apresentam-lhe a pergunta que será ecoada sem alteração pelos ouvintes de Pedro no Pentecosteso que devemos fazer?
A resposta oferecida pelo Batista é de importância épica, porque revelará quais são, na opinião divina que ele está representando, as implicações da metanoia. Quais são as atitudes que evidenciam o arrependimento/mudança de mentalidade? Que resposta você daria a quem lhe perguntasse quais são as exigências do arrependimento bíblico?
Para surpresa e embaraço eternos de igrejeiros antigos e contemporâneos, o arauto de Deus não entende o arrependimento como chamado à religião ou à abstinência, mas como convocação à justiça social, à integridade e à distribuição de renda:
“Quem tem duas túnicas”, exige João Batista, “reparta com o que não tem nenhuma. Quem tem comida deve fazer o mesmo”.
Para nossa felicidade, alguns cobradores de impostos aparecem logo em seguida para serem batizados por João – isto é, estão dispostos também eles a abraçar o arrependimento, – e fazem-lhe precisamente a mesma pergunta: e nós, o que devemos fazer?
A resposta de João: “Não cobrem mais do que lhes foi prescrito.”
E, logo depois, alguns soldados: e nós, o que devemos fazer?
João: “Não tentem extorquir o que pertence aos outros fazendo denúncias falsas. Contentem-se com o seu soldo”.
Neste ponto será necessário mais uma vez parar no acostamento e enfatizar o caráter absolutamente revolucionário dessas divinas interferências. Pois o reino de Deus anunciado por João Batista e por Jesus não implica apenas na abolição da idéia de religião como esforço de reconciliação com Deus por parte do homem. Nesta nova intervenção Deus não quer nos salvar das nossas faltas ou do castigo que elas requerem, o que seria fácil demais; seu ambicioso e exigentíssimo plano é salvar-nos da nossa mediocridade. Seu plano é salvar-nos de nós mesmos.
Para os arautos das boas novas nos quatro evangelhos, o homem deve arrepender-se não porque o arrependimento é a resposta adequada ao pecado, mas porque teve início um novo e assombroso período da história. A motivação para se adotar a nova mentalidade é a vertiginosa notícia de que o reinado de Deus foi inaugurado.Arrependei-vos, minha gente, porque é chegado o reino de Deus.
E embora não conheçamos o retrato completo deste novo mundo que Deus está sonhando, anunciando e implantando, os evangelhos vão indicando que ele será caracterizado por inúmeras revoluções por minuto em todas as áreas da atividade humana. Este novo mundo requer uma nova mentalidade, uma nova visão de mundo, e adotar esta nova cabeça é precisamente arrepender-se.
É por isso que em suas respostas João Batista vai esclarecendo que o arrependimento deve necessariamente abranger todo um leque de dimensões éticas, sociais e antropológicas.
Como o cerne do projeto do reino é uma reconciliação radical entre os seres humanos, com a consequente criação de uma nova comunidade, a primeira e mais geral revelação é a de que todos, não apenas os ricos, tem a responsabilidade de repartir. Onde todos tem a mesma ausência de merecimento, todos merecem rigorosamente a mesma coisa – pelo que toda e qualquer desigualdade deve ser voluntariamente corrigida pelos componentes do sistema (“quem tem duas túnicas reparta com o que não tem nenhuma. e quem tem comida deve fazer o mesmo”). Em segundo lugar, como explicam as respostas dadas aos soldados e aos cobradores de impostos, a nova era exigirá, mesmo daqueles colocados nas mais comprometedoras posições da sociedade, uma postura radical de integridade pessoal.
metanoia representa uma revisão completa do modo como os seres humanos interagem uns com os outros, e isso porque o novo estado de coisas do reino exigirá tudo de todos e algo diferente de cada um. Embora acabe representando desafios diferentes de acordo com a presente posição do indivíduo na sociedade, as marcas do arrependimento dizem sempre respeito à relações interpessoais, e requererão invariavelmente uma postura de altruísmo, inclusão e misericórdia. Como deixam abundantemente claro os três exemplos deste episódio de Lucas, arrepender-se é rever a nossa posição sobre quem é digno de Deus, e portanto sobre quem é merecedor da nossa amizade, da nossa lealdade e da nossa túnica extra.
Esta, e não servir de ilustração da vida futura, é a razão de ser da parábola do rico e o Lazáro (Lucas 16:19-31). Na parábola o homem rico mostrou-se merecedor dos tormentos do inferno porque, diante da oportunidade que jazia literalmente à sua porta, recusou-se a arrepender-se. O rico é punido porque negou-se a abraçar a lógica inclusiva do reino e repartir com o Lázaro uma parcela dos seus recursos. De seu posto de sofrimento e exclusão, o rico pede a Abraão que permita que o mendigo se apresente na terra dos vivos aos seus cinco irmãos, porque “se alguém dentre os mortos for ter com eles, eles hão de se arrepender” – isto é, mudarão o seu modo de interagir com os outros/pobres.
Paralelamente, há outro símbolo potente nas respostas dadas por João Batista aos soldados e aos cobradores de impostos. Os dois grupos representavam categorias que viviam – e muitas vezes por boas razões – às margens da aceitação social. Soldados e cobradores de impostos não mereciam tratamento cordial e não tinham cacife para participar da comunidade de Deus. Ao se dispor a responder as suas perguntas, João acaba revelando o impensável: que o arrependimento (e portanto o acesso ao reino e à salvação) está aberto mesmo aos desprezíveis e desprezados, aqueles que a sociedade decidiu serem inteiramente indignos de inclusão social fora do seu próprio círculo. Arrepender-se, na ótica mais ampla do reino, é tanto mudar de idéia a respeito de quem é aceitável quanto passar a viver fornecendo a todos indicação de que todos são aceitáveis.
É preciso lembrar que o mundo da Antiguidade era, talvez ainda mais do que o nosso, regido pela crença indiscriminada em categorias sociais estanques, barreiras que milagre algum podia alterar ou derrubar. A inclusividade brutal do reino de Deus, como proposto por Jesus e João Batista, representava e representa uma tremenda ameaça a esse estado de coisas.
E, como declarado nos evangelhos, a revolução igualitária do reino começa pessoa a pessoa pela guerrilha do arrependimento, que no vocabulário da boa nova não é remorso e não é contrição, mas uma mudança definitiva e radical no modo de se ver e experimentar o mundo e a relação com o Outro.
Arrepender-se é mudar o mundo. Numa palavra, Jesus prega a aceitação de todos, e essa inclusividade requer uma extrema revisão no nosso modo de pensar pessoas e comunidades. Essa mudança de mentalidade altera cada aspecto da vida, e produz uma completa reorientação de crenças, critérios e atitudes.
Na prática, como explicam os exemplos do evangelho de Lucas, o arrependimento trabalhará sempre para corrigir desigualdades e injustiças sociais, morais, éticas, financeiras e religiosas. Contribuirá para alterar visões de mundo que causavam a exclusão. Servirá de instrumento de ressocialização, possibilitando a criação de um comunidade inclusiva sem qualquer paralelo na história anterior ou posterior da humanidade.
Essa reforma de ponto de vista altera o próprio tecido da realidade, porque muda o que as pessoas se mostrarão dispostas a fazer umas pelas outras. Criará ao mesmo tempo um ambiente novo, onde gente de diversas origens e orientações, que vivia antes alienada, poderá conviver como povo de Deus.
Esta insana reprogramação é o que os arautos da boa nova chamam de arrependimento/metanoia.
Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, bendizei aos que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam.
Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te houver tirado a capa, não lhe negues também a túnica. Dá a todo o que te pedir; e ao que tomar o que é teu, não lho reclames.
Assim como quereis que os homens vos façam, do mesmo modo lhes fazei vós também.
Se amardes aos que vos amam, que mérito há nisso? Pois também os pecadores amam aos que os amam. E se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que mérito há nisso? Também os pecadores fazem o mesmo. E se emprestardes àqueles de quem esperais receber, que mérito há nisso? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto.
Amai, porém a vossos inimigos, fazei bem e emprestai, nunca desanimado; e grande será a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os ingratos e maus.
Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.
Vendo-se as coisas por esta ótica, fica evidente que a parábola do filho pródigo (Lucas 15:11-32) não é contada para constrastar um filho austero e um filho devasso, nem para mostrar a diferença entre um filho volúvel e um pai constante. O conflito central da parábola só é colocado em andamento quando o filho pródigo aparece arrependido no horizonte, porque esta narrativa serve para constrastar duas atitudes possíveis de uma comunidade diante do arrependimento. Por um lado, o pai acolhe o arrependimento como motivo de júbilo e ressocialização; por outro, o filho mais velho vê a inclusão como motivo de ódio e horror.
A lição da parábola está em que na visão de mundo do reino a inclusividade, o perdão e a misericórdia nunca devem ser vistos com rancor ou como falta de critério, mas como ensejo para a mais irrestrita e exuberante celebração. A narrativa explica que é mais fácil um de fora arrepender-se (isto é, sentir-se disposto a incluir e a ser incluído) do que os que se sentem incluídos se mostrarem dispostos a abraçar sem qualquer trâmite os de fora. O verdadeiro desafio do arrependimento, o verdadeiro funil da conversão de mentalidade exigida pelo reino, é sermos capaz de engolir gostosamente essa medida geral e irrestrita de inclusão.
Mas a boa nova não se cala, e insiste imoderadamente que a conversão de mentalidade do reino está ao alcance de todos – até mesmo de patifes como nós, que via de regra não nos consideramos pecadores como os outros. Porém, a história conta que para nós arrepender-se representará aceitar no nosso seletíssimo círculo a inclusão daqueles de que estamos absolutamente convictos não merecem nossa consideração – quanto mais nosso beijo, nosso abraço e um lugar inesperado à mesa.


quarta-feira, 28 de março de 2012

O Problema do Inferno



Por C. S. Lewis
O texto abaixo refere-se a trechos retirados do capítulo 8 do Livro “O Problema do Sofrimento” escrito por C. S. Lewis.
Somente a dor que pode despertar o homem perverso para uma noção de que nem tudo está bem, pode da mesma forma levá-lo a uma rebelião final e sem arrependimento, Foi admitido sempre que o homem possui livre arbítrio e que todas as concessões feitas a ele são, portanto de dois gumes. A partir dessas premissas segue-se diretamente que a obra divina de remir o mundo não pode ter certeza de êxito com respeito a cada alma individual. Alguns não serão remidos. Não existe doutrina no cristianismo que eu gostasse mais de remover do que esta se tivesse esse poder. Mas ela tem o pleno apoio das Escrituras e, especialmente, das próprias palavras de Nosso Senhor; foi sempre mantida pela cristandade, e está fundamentada na razão. Quando jogamos deve haver a possibilidade de perder o jogo. Se a felicidade de uma criatura se acha na auto-rendição, ninguém mais pode realizar essa rendição além dela mesma (embora muitos possam ajudá-la nesse sentido) e ela pode recusar. Eu estaria disposto a pagar qualquer preço para poder dizer sinceramente: “Todos serão salvos”. A minha razão, porém, replica: “Com ou sem o consentimento deles?” Se disser: “sem seu consentimento”, percebo imediatamente uma contradição; como pode o ato supremo e voluntário da auto-rendição ser involuntário? Se disser “com seu consentimento”, minha razão replica, “Como, se não quiserem ceder?”
Os sermões dominicais sobre o inferno, como fazem todos eles, são dirigidos à consciência e à vontade e não à nossa curiosidade intelectual. Quando eles nos despertam para a ação, convencendo-nos de uma terrível possibilidade, terão provavelmente feito tudo o que pretendiam fazer; e se o mundo inteiro fosse composto de cristãos convictos seria desnecessário dizer uma palavra sequer a mais sobre o assunto. Como as coisas se acham, porém, esta doutrina é uma das bases principais para se atacar o cristianismo como sendo bárbaro, e impugnar a bondade de Deus. Dizem- nos que se trata de uma doutrina detestável – e, na verdade, também a detesto do fundo do coração – e somos lembrados das tragédias nas vidas humanas que têm origem nessa crença. Quanto às demais tragédias resultantes do fato de não crermos na mesma, pouco se fala nelas. Por essas razões, e só essas, torna-se necessário discutir o assunto.
O problema não é simplesmente o de um Deus que destina algumas de suas criaturas à ruína final. Seria esse o problema se fôssemos maometanos. O cristianismo, leal como sempre à complexidade do que é real, nos apresenta algo mais intrincado e mais ambíguo – um Deus tão cheio de misericórdia que se torna homem e morre torturado para impedir a ruína final de suas criaturas e que, porém, onde falha esse remédio heróico, parece pouco disposto, ou até mesmo incapaz, de sustar a ruína por um ato de simples poder. Eu afirmei loquazmente pouco atrás que pagaria “qualquer preço” para remover esta doutrina. Mas menti. Eu não poderia pagar um milésimo do preço que Deus já pagou para remover o fato. Este é um problema real: tanta misericórdia e, ainda assim, existe o inferno.
Não vou fazer qualquer tentativa no sentido de demonstrar que a doutrina é tolerável. Não nos enganemos; ela não é tolerável. Penso, entretanto, que pode ser demonstrado que ela é moral, mediante uma crítica das objeções geralmente feitas, ou sentidas, em relação à mesma.
Primeiro, existe uma objeção, em muitas mentes, quanto à idéia de castigo retributivo como tal. Isto foi tratado parcialmente em outro capítulo. Dissemos então que todo castigo se tornaria injusto se as idéias de demérito e retribuição fossem removidas dele; e um núcleo de retidão fosse descoberto no’ próprio íntimo da paixão vingadora, na exigência de que o perverso não permaneça perfeita mente satisfeito com a sua maldade, que ela venha a parecer-lhe o que corretamente parece a outros – um mal. Eu disse que a dor finca a bandeira da verdade na fortaleza rebelde. Estávamos então discutindo o sofrimento que poderia ainda levar ao arrependimento. E se isso não acontecer – se nenhuma outra vitória além de enterrar a bandeira no solo jamais tenha lugar? Vamos ser honestos conosco mesmos. Imagine um homem que tenha ficado rico ou poderoso através de uma série contínua de traições e crueldades, explorando com fins puramente egoístas os sentimentos nobres de suas vítimas, rindo de sua ingenuidade; que, tendo alcançado assim o sucesso, faz uso dele para sua própria gratificação, cobiça e ódio e finalmente perde o último vestígio de honra entre malfeitores, traindo seus cúmplices e zombando de seus derradeiros momentos de desilusão desnorteada.
Suponhamos, ainda, que ele faça tudo isso, não atormentado pelo remorso ou mesmo apreensão, mas comendo como um adolescente e dormindo como uma criança saudável – um homem alegre, sadio, sem um cuidado no mundo. Confiante até o fim de que só ele encontrou a resposta para o enigma da vida, que Deus e o homem são tolos de quem se aproveitou, que seu modo de viver é completamente satisfatório, cheio de sucesso, inatacável. Suponhamos que ele não venha a converter-se, que destino no mundo eterno você consideraria adequado para ele? Será que pode realmente desejar que um indivíduo desse tipo, permanecendo como é (e ele deve ter capacidade para tanto se tiver livre-arbítrio), seja confirmado para sempre na sua felicidade presente – deveria ele continuar, por toda eternidade, a manter-se perfeitamente convencido de que a última risada será sua?

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terça-feira, 27 de março de 2012

A Maldade Humana





"Nenhum homem sabe quão mau ele é, até que ele tenha tentado de toda maneira ser bom. Uma idéia tola, mas muito atual é que as pessoas boas não conhecem o significado ou não passam por tentações. Isto é uma mentira óbvia. Só aqueles que tentam resistir a tentação, sabem quão forte ela é. Afinal de contas, você descobre a força do exército inimigo lutando contra ele, não cedendo a ele. Você descobre a força de um vento, tentando caminhar contra ele, não se deitando ao chão. Um homem que cede ante a tentação depois de cinco minutos, simplesmente não sabe o que teria acontecido se tivesse esperado uma hora. Esta é a razão pela qual as pessoas ruins, de certa forma, sabem muito pouco sobre sua maldade. Elas viveram uma vida abrigada por estarem sempre cedendo. Nós nunca descobrimos a força do impulso mal dentro de nós, até que nós tentamos lutar contra ele: e Cristo, porque Ele foi o único homem que nunca se rendeu a tentação, também é o único homem que conhece completamente o que tentação significa–o único realista no total sentido da palavra”.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Arrependimento x Remorso II.






Algumas vezes, alguém pergunta qual é a diferença espiritual entre arrependimento e remorso, e o interessante é que a 
própria Bíblia, no seu original grego, faz diferença entre ambas 
as atitudes.


Primeiro, a palavra grega traduzida por “arrependimento” é metanoia (μετάνοια) e sempre significa uma mudança de
 mente ou atitude, essencial à salvação, como no "batismo de arrependimento" de Atos 13:24.Metanoia aparece 58 vezes
 no Novo Testamento. Já outra palavra que às vezes é traduzida como arrependimento é metamellomai (μεταμέλλομαι), que aparece 6 vezes no Novo Testamento, mas está muito mais
 ligada à idéia de tristeza, de remorso, do que propriamente mudança de rumo, de mente.

O exemplo clássico é o caso de Judas em Mateus 27:3,
 conforme você pode perceber nessas 3 diferentes versões
 para o português:

Mat 27:3 Então Judas, o que o traíra, vendo que fora 
condenado, trouxe, ARREPENDIDO, as trinta moedas de 
prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, (Almeida Revista e Corrigida)

Mat 27:3 Então Judas, aquele que o traíra, vendo que Jesus
 fora condenado, devolveu, COMPUNGIDO, as trinta
 moedas de prata aos anciãos, dizendo: (Almeida Revista e Atualizada)

Mat 27:3 Quando Judas, que o havia traído, viu que Jesus 
fora condenado, foi TOMADO DE REMORSO e devolveu
 aos chefes dos sacerdotes e anciãos as trinta moedas de prata. 
(Nova Versão Internacional)

A palavra traduzida por "arrependido" (ARC), "compungido" (ARA) e "tomado de remorso" (NVI), émetamellomai, que mostra que Judas ficou triste pelo que fez, "arrependido" até certo ponto, como Esaú, que "querendo ele ainda depois
 herdar 
a bênção, foi rejeitado; porque não achou lugar de arrependimento, ainda que o buscou diligentemente com lágrimas" (Hebreus 12:17). A palavra aí traduzida por "arrependimento" é metanoia, algo que Esaú buscou com lágrimas, mas não achou.

Logo, me parece que arrependimento significa uma conversão real, verdadeira, uma mudança de rumo, enquanto remorso é apenas o reconhecimento de que se fez algo errado, mas, talvez, se pudesse voltar atrás, a pessoa teria feito a mesma coisa, e a única coisa que lhe restou foi o gosto amargo de ter feito o que fez.

Título original:  Arrependimento x Remorso