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segunda-feira, 30 de março de 2015

Todo o Evangelho em um Único Versículo

Capa Uma Visita a Belém Spurgeon
N° 2300
Sermão pregado no Domingo
Por Charles Haddon Spurgeon
No Tabernáculo Metropolitano, Newington

“Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.” — 1 Timóteo 1:15 (ACF)
Ontem, enquanto conversava com um colega de ministério que tinha sido pastor nos Estados Unidos, lhe perguntei por que estava tão ansioso para regressar a esse país, apesar do clima tê-lo tratado tão mal. Sua resposta foi: “Amo as pessoas para as quais prego.” Eu voltei a perguntar: “Que tipo de pessoas é”? “E ele me respondeu: “São pessoas que se reúnem ansiosas para receber o bem”. Não estão preocupadas em descobrir minhas falhas, mas buscam obter o maior bem do Evangelho que prego.” Então eu lhe disse: “Vale a pena atravessar o oceano para ir ao encontro de uma congregação que conta com esse tipo de pessoas.”
Vocês sabem, meus amigos, que a algumas pessoas acontece o que ocorreu a um amigo com quem eu conversava há alguns dias. Deus tinha abençoado sua Palavra na alma deste amigo, de maneira que ele tinha sido convertido; ele vinha me escutando há algum tempo, por isso lhe perguntei: “A que atribuis o fato de que estiveste aqui escutando-me durante todos os anos passados sem encontrar o Salvador?” “Oh, senhor!” disse-me ele, “temo que foi devido a que eu vinha escutar a VOCÊ, e tendo escutado-lhe, me dava por satisfeito. Mas quando Deus me ensinou a vir aqui para buscar a CRISTO, e ansiar pela vida eterna, então obtive a bênção.”
Portanto, os que leem essa mensagem, e em especial, aqueles que ainda não são salvos, tratem de fazê-lo desta maneira: não se importando com a forma como prego; eu mesmo não dou muita importância a isso, e vocês deveriam se importar muito menos; e tratem de concentrar-se no bem que podem obter desta mensagem. Gostaria que cada um dos meus leitores se perguntasse: “Há alguma bênção de salvação para minha alma no que o pregador escreveu?”
Agora vejam, nosso versículo contém um resumo do Evangelho, portanto posso afirmar que contém o Evangelho completo. Quando vocês recebem notas resumidas de um sermão ou de uma conferência, muitas vezes não podem perceber a alma e a essência deles; mas aqui vocês recebem toda a condensação possível, como se as grandes verdades do Evangelho tivessem sido comprimidas por meio de uma prensa hidráulica sem perder nem uma só de suas partículas. É uma dessas “pequenas Bíblias”, às quais Lutero costumava referir-se; o Evangelho em um único versículo, a essência de toda a Bíblia se encontra aqui: “Fiel és esta palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.”
  1. Vou ser breve ao tratar cada ponto e, portanto, vou me referir de imediato ao primeiro tema. Aqui encontramos NOSSO NOME, DESCRITO DE UMA MANEIRA MUITO AMPLA: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores.” Uma das perguntas mais importantes que se pode fazer a alguém é esta: Para quem a salvação está destinada? A resposta é dada pelo Espírito Santo, na inspirada Palavra de Deus: “ Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores.
Jesus Cristo veio para salvar toda classe de pecadores. Se você se enquadra dentro da descrição geral de “pecador“, não importa que forma seu pecado tenha tomado. Todos os homens sem exceção pecaram, mas nem todos pecaram da mesma maneira. Todos se desviaram do caminho e, contudo, cada um foi por um caminho diferente. Cristo Jesus veio ao mundo para salvar tanto a pecadores respeitáveis como a pecadores vergonhosos. Veio ao mundo para salvar tanto a pecadores orgulhosos como a pecadores desesperados. Veio ao mundo para salvar os bêbados, os ladrões, os mentirosos, os que frequentam os prostíbulos, os adúlteros, os assassinos e semelhantes. Qualquer que seja o tipo de pecado existente, esta palavra é maravilhosamente ampla e inclusiva: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores.” Eles formam um grupo sombrio, uma equipe horrível e o inferno é a recompensa que merecem; mas estas são as pessoas que Jesus veio salvar.
Se houvessem pessoas no mundo livres de pecado, Jesus não teria vindo para salvá-las, já que tais pessoas não necessitariam de um Salvador. Se há alguém que se atreva a dizer que nunca pecou, então essa pessoa não precisa escutar-me, porque não tenho nada que dizer-lhe, nem tampouco este Livro de Deus tem algo que dizer-lhe, exceto que essa pessoa está sob um terrível erro e um gravíssimo engano. Não pode haver misericórdia para um homem que não cometeu nenhuma falta.
Faz tempo, um homem foi condenado ao confinamento por uma ofensa que nunca cometeu, e quando se descobriu que não era culpado, parece que Sua Majestade a Rainha o insultou, outorgando-lhe um “generoso perdão“. O pobre infeliz nunca cometeu o crime pelo qual tinha sofrido e tinha estado ao menos um ano preso como um criminoso, ainda que na realidade fosse inocente! Penso que a Rainha deveria ter solicitado seu perdão e deveria ter o compensado generosamente. O perdão e a misericórdia não são para gente inocente, mas sim para os culpados; e o Senhor Jesus Cristo, portanto, veio ao mundo, não para salvar o inocente, o justo, o bom, mas sim para salvar os pecadores.
Consideremos que Jesus veio para salvar os pecadores tal como são. Algumas pessoas tem o hábito de agregar adjetivos à palavra pecador, por exemplo, no seguinte hino:

“Vem, humilde pecador, em cujo peito…”

e assim sucessivamente. Creio que o mesmo autor desse hino continua depois:

“Vem, trêmulo pecador, em cujo peito
“mil pensamentos se retorcem.”
Mas quando Jesus Cristo convida os pecadores, o faz desta maneira: “Pecadores, venham a Mim!”, “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores.” Não encontramos nenhum adjetivo antes do nome. Não há nenhum qualificativo especial, simplesmente são pecadores. Cristo Jesus veio para salvar a pecadores endurecidos, pois Ele é quem suaviza o coração. Ele veio para salvar os piores pecadores, já que Ele rompe os músculos de ferro do pescoço e dobra a mais dura teimosia. Ele veio para salvar a pecadores que não têm nada de bom dentro deles. “Se tens algum mérito, se há algo bom em ti, é tão somente como uma gota de água de rosas em um mar de imundície.” Contudo, definitivamente, não há sequer uma só gota de água de rosas em nossa natureza; nem tampouco a requeremos para que Cristo possa salvar-nos. Ele veio para salvar os pecadores: isso é tudo o que Paulo nos diz. Não pretendo limitar o que não tem limites; não quero dar qualificativos ao que não tem qualificativos. “Pecadores“: isso é tudo o que o apóstolo diz. Como!? Apesar que não tenham nem uma pitada de bondade, nem um só sinal de excelência? Assim é. “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores.”
Isto quer dizer também que Cristo Jesus veio para salvar os pecadores em meio à sua corrupção. Recordemos que o pecado é algo sumamente ofensivo. Quando a consciência realmente se desperta e descobre a corrupção do pecado, se vê tal como é, como algo verdadeiramente horrível. As Escrituras nos ensinam a aborrecer até mesmo a roupa contaminada pela carne; e existe algo conhecido como a justa indignação contra o pecado; mas o Senhor Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os contaminados, para salvar àqueles a quem a virtude condena, para salvar os rejeitados pela sociedade.
Que coisa tão maravilhosa é a “sociedade”, ela mesma frequentemente corrompida até suas entranhas; contudo, se alguma pobre mulher se desvia, essa “sociedade” grita: “Condenem-na! Carreguem essa miserável criatura para longe de nós!” Conheço uma dessas mulheres que não pode hospedar-se em nenhum hotel. Não podem tolerar ter por perto de suas corretas pessoas alguém que quebrou, ainda que seja em algo mínimo, as leis da sociedade; mas Cristo não era assim. Apesar de todo Seu repúdio e horror ao pecado – por certo muitíssimo maior que o nosso, posto que Sua mente é sensível devido à Sua pureza suprema – então, apesar de tudo isso, Ele veio ao mundo para salvar os pecadores, e com os pecadores conviveu, incluindo publicanos e prostitutas. Comeu com pecadores; viveu com pecadores; morreu com pecadores; compartilhou Seu sepulcro com malvados; entrou no paraíso com um ladrão; e hoje, todos aqueles que cantam um cântico novo no céu confessam que foram pecadores, pois dizem: “Porque tu foste imolado e com teu sangue redimiste para Deus gente de toda raça, língua, povo e nação.” Sim, apesar de toda a contaminação do pecado, Cristo veio para salvar os pecadores.
Também veio para salvar os pecadores que estão sob maldição. O pecado é algo maldito. Deus nunca abençoou o pecado e nunca o fará. Ainda que possa parecer que o pecado floresce durante um tempo, a praga enviada por Deus sempre está sobre ele; o sopro do grande Juiz de todos se encarregará de exterminar tudo o que provenha do mal. Ele não pode suportá-lo; Seu fogo arderá até às regiões mais baixas do inferno, contra toda iniquidade. Contudo, ainda que estejamos sob maldição, Jesus Cristo veio ao mundo para salvar o pecador maldito tomando a maldição sobre Si mesmo, pendurando a Ele mesmo no madeiro da maldição e suportando a maldição por nós para que nós pudéssemos ser salvos. Sentes a maldição de Deus em teu espírito neste dia? Tens a impressão de que se secam todos os mananciais de tua vida? Apesar de tudo isso, recorda que “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores“.
Além disso, Cristo veio para salvar a pecadores frágeis. O pecado acarreta a morte. Onde quer que reine o pecado, o poder para fazer o bem se extingue. “Porventura pode o etíope mudar a sua pele ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vos fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal.” Mas quando tu estás fraco, ah, quando ainda estás fraco para crer nEle, fraco para dar-te conta de teu pecado, fraco para sentir sequer o desejo de ser melhor, ainda nessa situação, é certo que “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores“.
Sei que isto é assim, pois nossos primeiros bons desejos são um dom dEle; nossas primeiras orações são formadas de Sua própria respiração; nosso primeiro suspiro sob o peso do pecado é obra Sua. Jesus faz tudo. Veio ao mundo para salvar-nos. “Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios“, nos quais não existia absolutamente nada de bondade; “os ímpios“, aqueles que estavam sem Deus e sem nenhuma esperança no mundo. É para salvar tais pessoas que Jesus Cristo veio ao mundo. Não sei como abrir mais amplamente esta porta; a tirarei de suas dobradiças e a descolarei de seus pilares e suas grades e tudo o mais; e até desafio os demônios do inferno a que venham e tentem fechar esta cidade de refúgio para qualquer alma pecadora. Se pecaste, olha, a voz do amor eterno te fala com forte voz estas palavras hoje: “Fiel é esta palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores.”
  1. Não posso demorar muito em cada palavra de nosso texto, assim. prossigo. Em segundo lugar, encontramos aqui NOSSA NECESSIDADE OU UMA AMPLA PALAVRA DE SALVAÇÃO. Nós pobres pecadores necessitamos da salvação, e “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores“.
Jesus veio para salvar-nos. Não veio para condenar-nos. Quando Deus desceu à terra, poderia ter-se pensando que tinha vindo para condenar; pois quando desceu para inspecionar a torre de Babel e viu o pecado que havia no mundo, dispersou os pecadores sobre a face de toda a terra. Agora poderia se pensar que, se viesse à terra, se comoveria e estaria horrorizado com o resultado de Sua investigação pessoal do pecado e logo diria: “Destruirei o mundo.” Mas Jesus disse: “O Filho do Homem não veio para perder as almas, mas sim para salvá-las.” “Deus não enviou Seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas sim para que o mundo fosse salvo por Ele.” Se vocês percebem alguma condenação no Evangelho, é simplesmente porque vocês mesmos estão introduzindo essa condenação. Não é o Evangelho, senão a rejeição de vocês ao Evangelho, o que os condenará. Portanto, peço a Deus que vocês nunca desprezem a Palavra de dEle, nem se julguem a si mesmos indignos da vida eterna, como fizeram aqueles a quem Paulo e Barnabé pregaram em Antioquia.
Seguidamente lhes direi que Cristo não veio ao mundo para ajudar-nos a que nos salvemos a nós mesmos. Ele veio para salvar-nos, não para ajudar-nos a colocar-nos de pé dizendo: “Agora tu fazes isto e isto e Eu me encarrego do resto.” Não, senão que Ele veio para salvar-nos. Do princípio ao fim a salvação é totalmente por graça e totalmente dom de Deus por Jesus Cristo. Insisto em que não veio ao mundo para fazer-nos salváveis, mas sim para salvar-nos; nem veio para pôr-nos em um caminho onde de uma forma ou outra possamos ter méritos para a salvação; mas veio pessoalmente para ser o Salvador e para salvar os pecadores.
Não podem dar-se conta, vocês que estiveram tratando de fazer um traje de justiça, que tudo o que fazem durante o dia se desfaz à noite? Vocês que estiveram costurando a parte de um traje para cobrir sua nudez, ponham de lado suas agulhas de costura e tomem o que Cristo fez de maneira completa. Venham todos vocês que estiveram trabalhando arduamente, como prisioneiros em trabalhos forçados, tratando de chegar ao céu dessa maneira, já que nunca o conseguirão. Contemplem essa escada, como a que Jacó viu em outros tempos, que se estende desde o céu até a terra, e da terra ao céu; e que Deus lhes permita subir a Ele por essa via e não por seus próprios esforços! Jesus não veio para ajudar-nos em nosso processo de auto-salvação. Ele não veio para salvar-nos em parte, para que nós façamos o resto. Leva muito tempo conseguir que alguns se deem conta disto.
Conheço um bom número de cristãos que ainda têm um pé sobre a rocha e o outro na areia. Há uma certa doutrina, ou deveria dizer uma incerta doutrina, que invariavelmente faz com que o povo se sinta inseguro. Esta doutrina afirma que você não deve dizer que é salvo; mas que se não se aparta do caminho e manténs o caminho correto, então, talvez, quando você esteja a ponto de morrer, você pode abrigar esperanças de que você é salvo. Eu não daria um centavo por um evangelho como esse. Queremos que a salvação nos seja dada de maneira indiscutível e que se nos outorgue de uma vez por todas, e isto é o que Cristo nos dá quando vamos e confiamos nEle. “O que crê nEle não é condenado.” É salvo nesse mesmo instante, por obra de Deus. “…aquele que em vós começou a boa obra, a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo.” Ele não veio para salvar-nos parcialmente.
21:34 E o Senhor Jesus Cristo não veio para deixar-nos contentes em nossa condenação. Tenho escutado certas pessoas falarem aos não convertidos desta maneira: “Agora tu deves esperar. Tu deves esperar. Não podes fazer nada; portanto, senta-te tranquilo e espera até que te suceda algo.” Isso não é o evangelho. O Evangelho é: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo.” Lê a Bíblia do princípio ao fim e aprende o que Deus nos revelou por meio dela. Deixe de lado teu próprio esquema e teus conceitos. Não encontrarás o Senhor Jesus Cristo dizendo isso ao homem em Betesda: “Permanece quieto junto ao tanque até que venha o anjo para agitar a água.” Quem diz isso é o antigo judaísmo; mas Jesus disse: “Levanta-te, toma tua cama e anda.” Quando Jesus fala aos pecadores dessa maneira, eles certamente se levantam e tomam sua cama e andam. Alguém disse: “Mas tu, que és um pobre ministro, não podes dizer às pessoas que tomem sua cama e andem, e conseguir que efetivamente o façam.” Sim, sim podemos, quando o Mestre fala por nosso meio, e quando compartilhamos a mensagem do Senhor com fé, descansando no poder do Espírito Santo. Ainda podemos ser usados pelo Senhor para realizar milagres. Os ossos secos são feitos capazes de escutar a voz do servo do Senhor quando o Espírito Santo acompanha essa voz, e lhes é dada a vida pelo poder divino.

“O evangelho é força que revive mortos;
Se obedecem sua voz os pecadores, eles vivem;
Os ossos secos se levantam
E se revestem de uma nova vida,
E os corações de pedra em carne se convertem.”
De novo, lhes digo, Jesus não veio para deixar os pecadores contentes em sua perdição ou para que se sentem e esperem como se a salvação não lhes importasse; não, Ele veio para salvar os pecadores.
Então, o que significa dizer que Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores? Quer dizer que veio para salvá-los do castigo merecido por seus pecados. Seus pecados não lhes serão imputados e não serão condenados. Isso é uma coisa. Também veio para salvá-los da contaminação de seu pecado, de tal forma que, ainda que sua mente tenha sido corrompida e seu paladar tenha sido viciado, e sua consciência tenha sido endurecida pelo pecado, Ele veio para tirar todos esses males e para dar-lhes um coração terno, para que possam odiar o pecado, amar a santidade e desejar a pureza.
Mas Jesus veio para fazer algo maior. Veio para erradicar nossa tendência a pecar, tendência que é inata e cresce conosco. Veio para erradicá-la por meio de seu Espírito, para arrancá-la pela raiz, para colocar dentro de nós outro princípio que combaterá com o antigo princípio do pecado e dominá-lo até que somente Cristo reine e todo pensamento seja levado cativo à obediência dEle.
Jesus Veio para salvar o Seu povo da apostasia. Veio ao mundo para salvar os pecadores, conservando-os fieis até o fim, não permitindo que regressem à sua perdição.

“Sim, eu resistirei até o fim,
Tão certo é isto como a garantia outorgada;
Mais felizes, mas não mais seguros,
Estão os espíritos glorificados no céu.”
Isso é uma parte muito importante do trabalho da graça. Fazer com que um homem mude é pouca coisa; mas conseguir que esse homem se mantenha firme até o fim, isto só pode ser o triunfo da graça toda poderosa, e é para isto precisamente que Cristo veio. Jesus veio ao mundo, não para salvar-te pela metade, não para salvar-te disto ou daquilo, ou a luz disso e daquilo, mas sim para salvar-te do pecado, para salvar-te de um temperamento irascível, para salvar-te do orgulho, para salvar-te do álcool, para salvar-te da ambição, para salvar-te de todo o mal, e para apresentar-te sem mancha diante da presença de Sua glória com sumo gozo. Esta é uma palavra grandiosa: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores.” Quem dera pudesses crer nisto!
Peço a Deus que, desta congregação que é surpreendentemente grande para um dia como hoje, mas não tão grande em comparação com o número usual de nossos congregantes, possa haver muitos que digam: “Sim, eu creio que Jesus veio para salvar os pecadores, e eu confio que Ele me salvará.” Vocês serão salvos no momento em que falarem isso, pois a fé é o sinal de sua salvação, a prova de que Ele os salvou.
III. Mas agora, em terceiro lugar, há um nome aqui. Nós tivemos nosso próprio nome: pecadores. Agora aqui temos SEU NOME OU UMA GLORIOSA PALAVRA DE HONRA: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores“, Cristo Jesus; não um anjo, não o melhor dos homens, senão Cristo Jesus.
Cristo” significa, como vocês já sabem, ungido; isto é, enviado por Deus, ungido por Seu próprio Espírito, preparado, capacitado, qualificado e dotado para o trabalho da salvação. Jesus não vem sem uma unção de Deus. Não é um Salvador entusiasta que veio por sua própria conta, sem uma comissão nem autoridade, mas Deus O ungiu para que Ele possa salvar os pecadores. Quando entrou na sinagoga de Nazaré, no dia de descanso, Ele se apropriou das palavras do profeta Isaías: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim; porque o Senhor me ungiu para anunciar boas novas aos pobres; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, a restaurar a vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor.”
A outra parte de seu nome é “Jesus“, isto é, Salvador. Ele veio, portanto, para ser o Salvador ungido, comissionado para ser um Salvador; e se Ele não é um Salvador (e o digo com toda reverência), Ele não é nada. Veio ao mundo para salvar; e se não salva, não atingiu o alvo. Despojou-se de suas glórias celestiais para assumir esta glória ainda maior: ser o Salvador dos pecadores. Os anjos cantavam referindo-se a Ele: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra entre os homens de boa vontade!” E o anjo do Senhor disse a José: “E o chamarás Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados.
Queridos amigos, prestem atenção a isto: o Salvador dos pecadores não é a Virgem Maria; os santos e as santas não são salvadores; senão que “Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito, a todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna“. Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores: “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro”[1], o Criador de todas as coisas, sustentando todas as coisas pela palavra de Seu poder. Ele veio ao mundo, à manjedoura de Belém, e posteriormente à cruz do Calvário, com este único propósito: salvar os pecadores. Ele não é capaz de salvar? Não é precisamente o Salvador que necessitamos? Deus, mas também homem em uma Pessoa, é capaz de entender-nos porque Ele é um homem, e pode salvar-nos porque Ele é Deus! Bendito Deus-homem, Jesus Cristo, Tu podes salvar-me! Não posso deter-me mais tempo nesta parte do meu tema, mas desejo que todos os que estão buscando a salvação, queiram concentrar seus pensamentos sobre esse tema até que verdadeiramente possam confiar nEle como seu Salvador.
  1. O quarto tema em nosso texto é SUA AÇÃO, OU UM FATO QUE FALA POR SI MESMO. “Cristo Jesus veio ao mundo.” Não temos que olhar o que fará para salvar os pecadores, pois já está feito. Ele veio ao mundo. Ele existia desde muito antes que descesse do céu para vir a este mundo. Ele era no princípio com Deus, e veio aqui conosco. Tu e eu começamos nossa existência aqui; mas Ele existia desde o princípio, na glória do Pai, e no tempo determinado Ele veio ao mundo.
Ele veio voluntariamente. Assim diz nosso texto: “Cristo Jesus veio ao mundo.” Há um tipo de ação voluntária que se faz evidente nessas palavras. Ele foi enviado, pois Ele é o Cristo, o Messias; mas veio por Sua própria vontade.

“Desde o reluzente trono acima
Com alegre pressa desceu veloz.”
Ele veio ao mundo. O digo de novo, a salvação dos pecadores não é uma coisa que terá lugar no futuro. Se Deus o houvesse prometido, poderíamos confiar tal como o fez Abraão, quando viu o dia de Cristo ao longe, e se alegrou; mas Jesus veio, esteve aqui, Deus Todo Poderoso esteve aqui em forma de homem, vivendo entre os homens. Ele veio ao mundo para salvar os pecadores. Ele veio ao mundo de tal maneira que conheceu as dores do mundo e as levou consigo, o castigo do mundo, a vergonha e reprovação do mundo, a enfermidade e a morte do mundo. Ele veio ao mundo, ao próprio centro e coração deste mundo ímpio, e aqui morou: “Santo, inocente, e puro.
Cristo Jesus veio ao mundo; e quando Ele veio aqui, Sua vinda foi tão maravilhosa, queficou aqui. Esteve aqui aproximadamente trinta e três anos; e todo esse tempo esteve continuamente buscando salvar os pecadores. Durante os últimos três anos andou fazendo o bem, sempre buscando os pecadores; e ao chegar ao fim de Seus serviços em favor dos pecadores, estendeu Suas mãos e Seus pés e se entregou a Si mesmo à morte pelos pecadores. Entregou Sua alma em suspiro pelos pecadores: “Ele mesmo levou nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro.”
Não tenho nenhuma necessidade de encontrar palavras próprias para tratar de adornar este Evangelho da glória do bendito Deus. Esse é o mais grandioso tema sobre o qual nenhum homem falou; não requer de nenhuma oratória quando é pregado. A própria história é maravilhosa:
“A velha, velha história, do amor de Jesus.”
Deus não podia, em justiça, deixar passar o pecado humano sem mediar uma expiação; mas Ele mesmo fez a expiação. Jesus, que é um com o Pai, veio aqui e se ofereceu a Si mesmo como sacrifício para assim poder salvar os pecadores. Agora, se Ele não salva pecadores, Sua vinda aqui foi um fracasso. Vocês creem ou podem imaginar, que a vinda de Cristo ao mundo pode ser um fracasso? Creio, desde o mais profundo de minha alma, que tudo o que se havia proposto conseguir em Sua vinda ao mundo, o conseguirá; que nenhum homem poderá sinalizar a menor falha no mais grandioso dos projetos divinos. Não há nenhuma falha na Criação; não haverá nenhuma falha na Providência; e quando toda a história chegue ao seu final, não haverá nenhuma falha neste grandioso trabalho da Redenção. “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores“, e os pecadores serão salvos. Tu serás contado entre eles, meu querido leitor? Por que não poderias estar entre eles?
  1. Temos agora, em quinto lugar, NOSSA ACEITAÇÃO, OU UMA PALAVRA SOBRE A PERSONALIDADE. O apóstolo diz: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.” Não vou discutir com o apóstolo; contudo, se ele estivesse aqui, teria certas dúvidas sobre seu direito ao título de “o principal dos pecadores”, e eu lhe sugeriria que se ele fosse o principal, eu então seria o seguinte. Suponho que há muitos que dirão: “Paulo não pecou mais terrivelmente que nós antes de nossa conversão”. Recordo que eu estava pregando em uma ocasião e disse que quando chegasse ao céu, estes versos poderiam ser aplicados a mim:

“Minha voz se escutará muito forte
Em meio à multidão,
Enquanto que as mansões celestiais ressoam,
Com exclamações de graça soberana.”

Quando terminei de pregar, uma dama veio ao meu encontro no corredor e me disse: “Você cometeu um erro em seu sermão.” “Como!” – lhe repliquei – “me atreveria a afirmar que cometi pelo menos vinte erros.” Ela me replicou: “Mas o erro que o senhor cometeu é este: o senhor disse que quando chegasse ao céu sua voz seria a mais alta na multidão; mas não será assim. Quando eu chegue ao céu, a graça de Deus terá trabalhado mais em mim que no senhor; o senhor não tem sido tão pecador como eu.”  Pois bem, me dei conta de que todos os santos que estavam ao nosso redor queriam participar na luta sobre quem devia louvar mais a Deus pelas grandes coisas que Ele havia feito a favor deles ao salvar suas almas. Ralph Erskine escreveu um hino que trata de um concurso entre os pássaros do paraíso para determinar quem devia louvar mais a Deus, e descreve os diferentes tipos de pessoas, todas competindo umas com outras para engrandecer o nome do Senhor que os redimiu. Mas esse não é o tema deste sermão.
Quando chegamos e nos apropriamos deste Salvador dos pecadores, o fazemos, primeiramente, por meio de uma confissão. “Senhor, sou um pecador. Eu sei. E lamento. Te confesso que transgredi tua santa lei.” Se une a essa confissão um senso de humilhação. Acaso Jesus veio ao mundo para salvar a mim? Então sou pior pecador do que pensei; primeiro, porque necessito do Filho de Deus para que me salve; e em segundo, porque eu peco contra um amor tão surpreendente, tão impressionante, rebelando-me contra quem veio ao mundo para salvar-me. Quanto mais valorizemos a Cristo que salva os pecadores, menos nos valorizaremos a nós mesmos. Quem tem tão grandioso Salvador se sentirá verdadeiramente um grande pecador; e quem tem a melhor e mais clara perspectiva de Cristo é o homem que diz: “Dos quais – ou seja, dos pecadores perdoados – eu sou o principal.”
Agora, esta apropriação de Cristo, que começou com uma confissão e continuou para uma profunda humilhação, floresce na fé, porque vejam bem que o apóstolo diz: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.” Ainda que diga que ele é o principal dos pecadores, também nos diz: “Eu sou um dos que Ele veio salvar.” “Dos quais eu sou o principal. Oh sim, eu sou um desses que Ele veio salvar!” A fé capacita a alma a dizer isso.
Meus queridos amigos confio plenamente que, pela graça de Deus, muitos leitores dirão precisamente isso: “Senhor Jesus, confio em Ti. Eu sou um da multidão a que Tu vieste salvar, que somos descritos como pecadores.”.
Esta apropriação de Cristo por meio da fé nos levará à aberta confissão dEle. O apóstolo verdadeiramente confessa que, apesar de que era o principal dos pecadores, Cristo morreu por ele; e tu serás guiado a fazer essa confissão. Espero que faças tua confissão de igual maneira que nossos amigos que serão batizados farão hoje, por obediência à lei de Cristo no batismo, segundo Ele nos convida: “O que crer e for batizado será salvo.
Observo uma coisa no texto que me deleita de grande maneira. Paulo diz: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.” Não, não, Paulo; isso que dizes não é válido. Meu querido irmão, tu és um sábio; e contudo cometeste um erro na conjugação do tempo do verbo! Não é sou, mas sim fui. “Não, não” – replica Paulo – “não tragas tua gramática aqui. Minha expressão foi clara: Eu sou o principal.” “Como! Depois de ser salvo, depois de ser perdoado, ainda és o principal dos pecadores?” “Sim”, responde Paulo, “assim é”; e é possível que haja homens que estejam muito próximos do principal dos apóstolos, e que também sintam, ao contemplar sua vida em seu conjunto, que têm que tomar seu lugar em meio aos pecadores, sim, à frente deles, como os maiores dos pecadores!
Creio que já lhes mencionei que alguma vez tentei, como alguns de nossos irmãos tentam, de orar a Deus como santo. Ah! Tenho visto alguns de nossos irmãos, no domingo, vestidos de suas melhores roupas, falando que já são perfeitos, brilhando exatamente como um pavão real com a cauda aberta, passeando majestosamente! Pois bem, eu gostei desse fino espetáculo, havia algo muito belo nele; portanto, eu tentei uma vez. Me apresentei diante de Deus em oração, jactando-me sobre minhas virtudes, minhas conquistas, meu crescimento na graça e meu serviço a Ele. Suponho que tenho tanto direito como qualquer outro. Tenho servido a Deus com todas minhas forças, e tenho colocado tudo a Seus pés. Mas quando tentei orar dessa maneira, bati à porta e ninguém me abriu. Bati novamente, mas ninguém respondeu. Há uma pequena janelinha que se abre somente para verificar quem está ali. Através dela me perguntaram: “Quem bate?” Eu respondi: “Oh, é um dos santos! É alguém que cresceu na graça até o ponto de chegar à perfeita santificação, alguém que pregou o Evangelho durante muitos anos.” Então simplesmente fecharam a janelinha; não me conheciam com essas características; estive parado ali, sem poder obter nada. No fim, com o coração destroçado e cheio de dor, bati novamente com todas as minhas forças, e quando perguntaram “quem bate?”, eu disse: “Um pobre pecador, que frequentemente se apresentou diante de Cristo como pecador e o considera como sua única justiça e salvação, e veio novamente da mesma maneira que veio antes.” “Ah!” disseram, “és tu, não é mesmo? Te conhecemos há muitos anos; tu és sempre bem-vindo.” Descobri que eu tinha acesso ao meu Deus quando disse: “Sou o principal dos pecadores. Ainda sou um pecador”.
Pois bem, colocando-me nessa posição, onde sempre devo estar, e onde sempre espero estar, diria a qualquer pecador, quem quer que seja, vem amigo, vem comigo à cruz. Alguém dirá: “Mas eu não posso ir contigo; tu foste um ministro do Evangelho durante mais de trinta anos.” Meu querido amigo, sou ainda um pobre pecador; e tenho que olhar para Cristo a cada dia como o fiz no primeiro dia. Vem comigo. Vem comigo. Há muitos, muitos anos, em uma manhã invernal com abundante neve, eu O olhei e recebi a luz. Desejo que nesta noite invernal, alguma alma O olhe e viva.
Teria muitas outras coisas para dizer, mas o tempo se acabou, assim que os deixo com o texto: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores.” Esta é uma palavra bendita; uma palavra apostólica proverbial; mas é uma palavra verdadeira: “Fiel é esta palavra.” Qualquer que a provou a experimentou como verdadeira. É digna da aceitação de todos vocês, e é digna de toda a aceitação que qualquer de vocês possa dar-lhe. Podem vir e confiar com toda a alma nela, em todo momento até a eternidade. Podem vir com toda a carga de pecado sobre seus ombros. Podem vir, ainda não sentindo nada, na dureza de seus corações, e somente tomar como seu Salvador a este Jesus Cristo, que veio ao mundo para salvar os pecadores. Somente confiem nEle; e quando tenham confiado nEle, terão feito muito mais do que possam imaginar.
Alguns pensam que não há nada na fé; mas isso agrada a Deus e “sem fé é impossível agradar a Deus”. Se agrada a Deus, há muitíssimo mais nela do que se possa imaginar. Essa fé contém em si mesma uma vida futura de santidade. É a única semente da qual nascerão inumeráveis bosques. Tem fé! Que o Senhor te ajude a crer em Jesus imediatamente! Antes de termine esta leitura, confia nEle! Confia plenamente nEle. Ele veio para salvar os pecadores. Deixa que te salve. Esse é o Seu trabalho; não o teu. Entrega-te em Suas mãos, e Ele te salvará, para louvor da glória de Sua graça.
ORE PARA QUE O ESPÍRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA EDIFICAÇÃO DE MUITOS E SALVAÇÃO DE PECADORES.


FONTE:
Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público
Sermão nº2300—Volume 39 do The Metropolitan Tabernacle Pulpit,

Tradução: Rosangela Cruz
Revisão: Fábio José Silva Rodolpho
Capa:

Projeto Castelo Forte

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Projeto Spurgeon – Proclamando a CRISTO crucificado.

A Cruz de Cristo


Sermão pregado por Paul David Washer
retirado da revista HeartCry Maganize, Vol.55 , de outubro de 2007
tradução, revisão e capa: Beatriz Rustiguel da Silva
FONTE: Hemeneutica Particular





E, à hora nona, Jesus exclamou com grande voz, 
dizendo: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? que,
traduzido, é: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? (Marcos 15:34)  


Uma das minhas maiores preocupações é que a Cruz de Cristo é raramente explicada. Não é suficiente dizer que “Ele morreu” - porque todos os homens morrem. Não é suficiente dizer que “Ele teve uma morte nobre” – porque os mártires fazem o mesmo. Devemos entender que ainda não proclamamos plenamente a morte de Cristo, com poder salvador, até que tenhamos esclarecido todas as confusões que a rodeiam e tenhamos exposto o seu verdadeiro significado aos nossos ouvintes – Ele morreu carregando as transgressões do seu povo e sofreu a pena divina por seus pecados: Ele foi abandonado por Deus e esmagados sob a ira de Deus, em nosso lugar.


Abandonado por Deus
Uma das passagens mais perturbadoras, até mesmo assombrosas, das Escrituras é o registro de Marcos sobre o grande clamor do Messias quando Ele estava pendurado numa cruz romana. Em voz alta Ele gritou: 

“Eloí, Eloí, lamá sabactâni? que, traduzido, é: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Marcos 15:34)

À luz do que sabemos sobre a natureza impecável do Filho de Deus e sua perfeita comunhão com o Pai, é difícil entender as palavras de Cristo, mas mesmo assim nelas encontramos o significado da Cruz, e encontramos a razão para a morte de Cristo. O fato de que Suas palavras também terem sido registradas na língua original, em hebraico, nos mostra o quando elas são importantes. O autor não quer que haja mal entendidos ou que qualquer coisa se perca.

Nestas palavras, Jesus não está apenas clamando a Deus, mas como um professor, Ele também está direcionando seus espectadores e todos os futuros leitores para uma das mais importantes profecias Messiânica do Antigo Testamento - Salmo 22. Apesar de todo o Salmo estar repleto de profecias detalhadas da Cruz, nós vamos nos preocupar apenas com os seis primeiros versos:

“DEUS meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que te alongas do meu auxílio e das palavras do meu bramido? Deus meu, eu clamo de dia, e tu não me ouves; de noite, e não tenho sossego. Porém tu és santo, tu que habitas entre os louvores de Israel.Em ti confiaram nossos pais; confiaram, e tu os livraste. A ti clamaram e escaparam; em ti confiaram, e não foram confundidos. Mas eu sou verme, e não homem, opróbrio dos homens e desprezado do povo.” (Salmo 22:1-6)

Nos dias de Cristo, as Escrituras Hebraicas não foram separadas números, capítulos e versículos como são hoje. Portanto, quando um rabino procurava dirigir os seus ouvintes a um salmo ou certa porção das Escrituras, ele iria fazê-lo recitando as primeiras linhas do texto. Neste grito da Cruz, Jesus dirige-nos ao Salmo 22 e nos revela algo do caráter e do propósito dos seus sofrimentos.

No primeiro e segundo verso, nós ouvimos a reclamação do Messias - Ele se considera abandonado por Deus. Marcos usa a palavra grega egkataleípo, o que significa abandonar, ou desertar. O salmista usou a palavra hebraica azab, que significa deixar, soltar ou abandonar. Em ambos os casos, a intenção é clara. O próprio Messias está consciente de que Deus o abandonou e que se fez de surdo ao seu clamor. Este não é um abandono simbólico ou poético. É real! Se houve uma criatura que alguma vez sentiu o abandono de Deus, essa criatura foi o Filho de Deus na cruz do Calvário!

No quarto e quinto versículo do Salmo, a angústia sofrida pelo Messias se torna mais aguda ao recordar a fidelidade do pacto de Deus para com seu povo. Ele declara: 

“Em ti confiaram nossos pais; confiaram, e tu os livraste. A ti clamaram e escaparam; em ti confiaram, e não foram confundidos.” 

A aparente contradição é clara. Nunca houve um só momento na história em que o povo da aliança de Deus houvesse visto um homem justo clamar a Deus e não ser resgatado. No entanto, o Messias imaculado está dependurado do madeiro completamente desamparado. Qual poderia ser a razão pelo desamparo de Deus? Por que virou as costas a Seu Filho unigênito?

Entrelaçadas no pranto do Messias se encontram as respostas a essas inquietantes perguntas. No terceiro versículo, Ele faz a inquebrantável declaração de que Deus é Santo, e logo, no sexto versículo, Ele admite a atrocidade – Ele tinha se convertido em um verme, e já não era um homem. Por que o Messias utilizaria tal linguagem pejorativa consigo mesmo? Acaso se enxergava a si mesmo como um verme porque tinha convertido-se em “opróbrio dos homens e desprezado do povo”, ou tinha uma razão mais espantosa para Sua auto-depreciação? Porque ele não clamou, “Deus meu, Deus meu, por que o povo me há desamparado?” Mas, ele se esforçou em saber por que Deus o tinha feito! A resposta pode ser encontrada em somente uma amarga verdade: o Senhor tinha feito com que  toda a nossa iniquidade tivesse caido sobre Ele, e como um verme, Ele foi desamparado e moído em nosso lugar.

Essa metáfora sombria do Messias agonizante não está somente nessa porção das Escrituras. Existem outras que nos levam ainda mais fundo ao coração da Cruz e revela-nos que foi necessário que “Ele padeça muito” em ordem de obter a redenção de seu povo. Se trememos diante das palavras do Salmista, seremos ainda mais abatido ao ouvir o Filho de Deus, três vezes santo, converter-se na serpente levantada do deserto, e depois, no cordeiro expiatório que carregava o pecado e que era deixado para ir morrer sozinho.

A primeira metáfora se encontra em Números. Por causa da constante rebelião de Israel em relação a Deus e a rejeição de Sua provisão misericordiosa, o Senhor enviou “serpentes ardentes” entre o povo e muitos morreram. No entanto, como resultado do arrependimento do povo e da intercessão de Moisés, Deus mais uma vez deu provisão para sua salvação. Ele ordenou a Moisés: “Faze-te uma serpente ardente, e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo o que, tendo sido picado, olhar para ela.” (Números 21:8)

A princípio parece contraditória a lógica que “a cura tivesse a semelhança daquele que havia ferido”. No entanto, ela provém uma poderosa imagem da cruz. Os israelitas estavam morrendo do veneno das serpentes ardentes. O homem morre do veneno de seu próprio pecado. A Moisés lhe havia sido ordenado colocar a causa da morte no alto em uma haste. Deus colocou a causa de nossa morte sobre Seu próprio Filho ao levantá-lo alto sobre a cruz. Ele tinha vindo “semelhança da carne do pecado” (Romanos 8:3), e foi feito “pecado por nós.” (2 Coríntios 5:21). Os israelitas que cressem em Deus e olhassem para a serpente de bronze viveriam. O homem que crê no testemunho de Deus em relação a Seu Filho e lhe vê com fé, será salvo. Como está escrito, “olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro.” (Isaías 45:22)

A segunda metáfora encontra-se no livro sacerdotal de Levítico. Como era impossível que um só sacrifício ilustrasse ou simbolizasse completamente a morte expiatória do Messias, um sacrifício envolvendo dois cordeiros foi posto diante do povo. O primeiro cordeiro foi imolado como oferenda pelo pecado perante o Senhor, e seu sangue foi aspergido na frente do propiciatório da parte de trás do véu do santo do santos. Isso simbolizava a Cristo, que derramou Seu sangue na cruz para expiar pelos pecados de Seu povo. O segundo cordeiro era apresentado diante do Senhor como cordeiro expiatório. O Sumo sacerdote “porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele confessará todas as iniquidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, e todos os seus pecados.” (Levítico 16:21) O cordeiro então era enviado ao deserto levando a iniquidade do povo a um lugar erro. Ali vagava sozinho, desamparado de Deus e cortado do meio do povo. Simbolizava a Cristo que “Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” (1 Pedro 2:24) sofreu e morreu sozinho “fora do arraial.” O que era apenas simbólico na Lei se tornou em uma realidade excruciante para o Messias.

Não é assombroso que um verme, uma serpente venenosa, e um cordeiro sejam postos como símbolos de Cristo? Identificar o Filho de Deus com coisas “aborrecíveis” seria blasfemo se não viesse dos santos do Antigo Testamento “inspirados pelo Espírito Santo.” (2 Pedro 1:21) e confirmadas pelos autores do Novo Testamento que vão mais além nas sombrias descrições. Debaixo da inspiração do Espírito Santo  eles são o suficientemente audazes para dizer que aquele que “não conheceu o pecado” “se tornou,” e Ele que foi amado do Pai foi “feito maldição” diante Dele. Temos escutado essas verdades antes, porém, será que nós as consideramos o suficiente para sermos quebrantados?

Na cruz, Ele que é declarado “santo, santo, santo” pelo coro dos serafins, se “fez” pecado. A viagem ao significado dessa frase quase parece ser muito perigosa para trilharmos. Tropeçamos diante do primeiro passo. O que significa que Aquele em quem “nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Colossenses 2:9), se “fez pecado”? Não devemos explicar ligeiramente a verdade tratando de proteger a reputação do Filho de Deus e ainda assim, também, devemos ter cuidado de não falar coisas terríveis contra seu caráter impecável e imutável.

Segundo as Escrituras Cristo se “fez pecado” na mesma forma em que os pecadores se “convertem na justiça de Deus” n’Ele. Na sua segunda epistolo à igreja de Coríntio o apóstolo Paulo escreve: 

“Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus.” (2 Coríntios 5:21) 

O crente não é “justiça de Deus” por alguma obra purificadora ou aperfeiçoadora no seu caráter que o faça ser igual a Deus e sem pecado, mas como resultado da imputação pela qual ele é considerado justo ante Deus pela obra de Cristo em seu favor. Da mesma maneira Cristo não se fez pecado por ter um caráter manchado ou sujo, e portanto tornando-se depravado, mas como resultado da imputação pelo que foi considerado culpável perante o juízo de Deus em nosso favor. Essa verdade, porém, não deve causar que pensemos menos da declaração de Paulo que Cristo se “fez pecado”, ainda que tenha sido uma culpa imputada, foi uma culpa real, trazendo uma inquietante culpa para Sua alma. Ele tomou nossas culpas como suas, esteve em nosso lugar, e morreu desamparado por Deus.

Que Cristo se fez pecado é uma verdade tão terrível quanto incompreensível, e mesmo assim, justamente quando pensamos que não se pode dizer palavras mais escuras contra Ele, o apóstolo Paulo acende uma lâmpada e nos leva mais ao fundo do abismo de humilhação e desamparo de Cristo. Entramos na caverna mais profunda para encontrar ao Filho de Deus pendurado na cruz e levando seu título mais infame – o maldito de Deus!

As Escrituras declaram que toda a humanidade está sob maldição. Como está escrito, “Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las.” (Gálatas 3:10) Desde a perspectiva celestial, aqueles que quebrantam a Lei de Deus são maus e dignos de aversão. São miseráveis, corretamente expostos à vingança divina, e justamente fadados à destruição eterna. Não é um exagero falar que a última coisa o pecador maldito ouvirá quando ele der o seu primeiro passo no inferno é toda a criação se pondo de pé e aplaudindo a Deus por ter livrado a terra de tal pecador. Tal é a maldade daqueles que quebram a Lei de Deus, e tal é o desdém do santo para com o ímpio. E ainda assim, o Evangelho nos ensina que “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro” (Gálatas 3:30). Cristo converteu-se no que nós éramos a fim de nos redimir do que merecíamos. Ele converteu-se  em um verme, a serpente alçada no deserto, o cordeiro enviado fora do acampamento, o carregador de pecados, e Aquele sobre o qual a maldição de Deus caiu. É por essa razão que o Pai o rejeitou e todo o céu escondeu seu rosto.

É uma grande tragédia que o verdadeiro significado do “clamor da cruz” de Cristo frequentemente tenha se perdido em um clichê romântico. Não é raro ouvir a um pregador declarar que o Pai se afastou do Filho porque não conseguia testemunhar o sofrimento infligido pelas mãos de homens malvados. Tais interpretações são uma completa distorção do texto e do que atualmente transpirou na cruz. O Pai rejeitou a Seu Filho não porque lhe tenha faltado força para testemunhar seu sofrimento, mas sim porque “Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus.” (2 Coríntios 5:21) Ele colocou nossos pecados sobre Ele e lhe rechaçou porque Seus olhos são demasiadamente puros para aprovar o mal e não pode ver a maldade com favor.

Não é sem razão que muitos folhetos bíblicos ilustram um abismo entre um Deus santo e o homem pecador. Com tal ilustração as Escrituras estão completamente de acordo. Como o profeta Isaías clamou: 

“Eis que a mão do SENHOR não está encolhida, para que não possa salvar; nem agravado o seu ouvido, para não poder ouvir. Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça.” (Isaías 59:1-2) 

É por isso que todos os homens teriam vivido e morrido separados da favorável presença de Deus e debaixo da ira divina se o Filho de Deus não houvesse estado em seu lugar, levado o seu pecado, e morrido “desamparado de Deus” em favor deles. Para fechar a brecha e restaurar a comunhão, “não convinha que o Cristo padecesse estas coisas?” (Lucas 24:26)

Cristo morreu sob a ira de Deus
Para obter a salvação de Seu povo, Cristo não somente sofreu o terrível desamparo de Deus, mas Ele bebeu o amargo cálice da ira de Deus e morreu uma morte sangrenta em lugar de seu povo. Somente assim a justiça divina pode ser satisfeita, a ira de Deus apaziguada, e a reconciliação possível.

No jardim, Cristo orou três vezes para que “o cálice” fora removido d’Ele, mas todas as vezes a Sua vontade entregava-se a vontade do Pai. Devemos nos perguntar: o que continha nesse cálice para que fizesse com que Ele rogasse tão fervorosamente? O que continha no cálice para causar tal angústia que Seu suor se mesclasse com sangue? Frequentemente é dito que o cálice representava a cruel Cruz romana e a tortura física que lhe esperava – É dito que Cristo previu a ‘cauda de gato’ sendo usada em suas costas, as coroas de espinhas penetrando sua fronte, e os cravos atravessando Suas mãos e Seus pés. Ainda assim, aqueles que enxergam essas coisas como a fonte de Suas angústias não entendem a Cruz, nem o que ocorreu lá. Ainda que as torturas o cobrissem, pelas mãos humanas, elas faziam parte do plano redentor de Deus; Havia algo muito mais sinistro que evocou o clamor do Messias.

Nos primeiros séculos da igreja primitiva, milhares de cristãos morreram em cruzes. É dito que Nero os crucificava ao contrário, ele os cobria de alcatrão, e lhes ateava fogo para usar como luzeiros nas cidades de Roma. Através das épocas, desde então, um sem número de cristão foram levados às mais inquietantes torturas e, mesmo assim, é o testemunho de amigos e inimigos que muitos deles foram para a morte com grande coragem e ousadia. Será que devemos crer que os seguidores do Messias enfrentaram uma morte tão cruel com alegria, enquanto que o Capitão de sua Salvação se acovardou no jardim, com medo da mesma tortura? Acaso o Cristo de Deus temeu os chicotes e espinhos, cruzes e lanças, ou será que o cálice representava um terror infinitamente maior que a crueldade humana? 

Para entender o conteúdo sinistro desse cálice, devemos nos dirigir às Escrituras. Existem duas passagens em particular que devemos considerar – uma nos salmos e a outra em Jeremias:

“Porque na mão do SENHOR há um cálice cujo vinho é tinto; está cheio de mistura; e dá a beber dele; mas as escórias dele todos os ímpios da terra as sorverão e beberão.” (Salmos 75:8)

“Porque assim me disse o SENHOR Deus de Israel: Toma da minha mão este copo do vinho do furor, e darás a beber dele a todas as nações, às quais eu te enviarei. Para que bebam e tremam, e enlouqueçam, por causa da espada, que eu enviarei entre eles.” (Jeremias 25:15-16)

Como resultado da incessante rebeldia dos ímpios, a justiça de Deus havia decretado um juízo contra eles. Deus, justamente, derramaria sua indignação sobre as nações. Ele colocaria o cálice de vinho da Sua ira em suas bocas e forçaria-lhes a tomar até o fim. O simples pensamento de que tal destino espera o mundo é absolutamente terrível, e ainda assim esse teria sido o destino de todos, exceto que a misericórdia de Deus buscou a salvação do povo, e a sabedoria de Deus elaborou um plano de redenção ainda desde antes da fundação do mundo. 

O Filho de Deus se faria homem e caminharia sobre a terra em perfeita obediência à Lei de Deus. Ele seria como nós em todos os sentidos, e tentado em todas as maneiras como nós, mas sem pecado. Ele viveria uma vida perfeitamente justa para glória de Deus e em lugar de Seu povo. Então, no tempo designado, Ele seria crucificado pelas mãos de homens ímpios, e naquela cruz, Ele levaria a culpa de Seu povo, e sofreria a ira de Deus contra eles. O perfeito Filho de Deus e verdadeiro Filho de Adão juntos em uma gloriosa pessoa tomaria o amargo cálice da mão do próprio Deus e o beberia até o fim. Ele o tomaria até que fora “consumado”, e a justiça de Deus fora completamente satisfeita. A ira divina que devia ter sido nossa seria exaurida sobre o Filho, e por Ele, seria extinta.

Imagine uma represa que está cheia até a borda e está sendo pressionada pelo o peso da água. De uma vez só o muro protetor é removido e o poder destrutivo é liberado. Com a certeira destruição indo diretamente até um vilareijo, localizado em um vale próximo, de repente a terra se abre e traga a água que causaria tamanho arrasado. Da mesma forma, o justo juízo de Deus corria em direção a cada homem. Não se podia achar escape na montanha mais alta nem no abismo mais profundo. Os pés mais velozes não poderiam escapar, nem o melhor nadador suportar sua maré. A represa foi rachada e nada poderia conserta seu dano. Porém, quando toda esperança humana foi esgotada, no tempo oportuno, o Filho de Deus se interpôs. Ele se colocou entre a justiça divina e a Sua gente. Ele tomou a ira que seu povo tinham provocado e o castigo que eles mereciam. Quando Ele morreu nem uma gota de ira restou. Ele a bebeu toda!

Imaginem duas pedras de moinho, uma girando sobre da outra. Imaginem que entre as pedras existe um grão de trigo que é esmagado pelo grande peso. Primeiro, é moído até ser irreconhecível, e depois suas partes internas são espalhadas e moídas até se tornarem pó. Não há qualquer esperança de reconstruí-lo. Tudo está perdido além de qualquer esperança. Assim, de igual maneira, “ao SENHOR agradou moê-lo” (Isaías 53:10), a Seu próprio Filho, e colocá-lo em indescritível angústia. Portanto, agradou ao Filho submeter-se a tal sofrimento a fim que Deus fosse glorificado e o povo redimido. Não é que Deus se tenha sentido prazer no sofrimento de Seu amado Filho, mas através de sua morte, a vontade de Deus se cumpriu. Nenhum outro meio tinha poder de remover o pecado, satisfazer a justiça, e apaziguar a ira de Deus contra nós. A menos que esse divino grão de trigo tivesse caído ao chão e morrido, haveria permanecido sozinho sem um povo ou uma noiva. O prazer não estava no sofrimento, mas em tudo o que o sofrimento conseguiria: Deus seria revelado em uma glória ainda desconhecida aos homens e anjos, e um povo seria trazido a uma relação sem obstáculo com o seu Deus.

Em uma das histórias mais épicas do Antigo Testamento, o patriarca Abraão recebe a ordem de levar seu filho, Isaque, ao monte Moriá e ali o oferecesse como sacrifício a Deus. 

“Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que eu te direi.” (Gênesis 22:2). 

Que carga foi posta sobre Abraão! Não podemos nem imaginar a tristeza que encheu o coração do velho homem e a tortura que cada passo da viagem trouxe. As Escrituras são cuidadosas em nos contar que ele foi ordenado a oferecer seu “filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas.” A especificação parece planejada para chamar nossa atenção e nos fazer pensar que há um significado oculto nessas palavras, além do que podemos enxergar.


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quinta-feira, 26 de março de 2015

Orando de acordo com a vontade de Deus?




 "Como posso ter certeza de que estou orando de acordo com a vontade de Deus?"

Resposta:
O objetivo principal do homem deve ser de trazer glória a Deus (1 Coríntios 10:31), e isso inclui orar de acordo com a Sua vontade. Primeiro, precisamos pedir por sabedoria. "Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida" (Tiago 1:5). Ao pedir por sabedoria, também precisamos confiar que Deus é gracioso e disposto a responder nossas orações: “Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando” (Tiago 1:6; veja também Marcos 11:24). Então, orar de acordo com a vontade de Deus inclui pedir a Deus por sabedoria (para conhecer a vontade de Deus) e pedir em fé (para confiar na vontade de Deus).

Encontre a seguir sete instruções bíblicas que vão guiá-lo a orar de acordo com a vontade de Deus:

1) Ore pelo que a Bíblia comanda que você ore. As Escrituras nos mandam orar pelos nossos inimigos (Mateus 5:44); para que Deus envie missionários (Lucas 10:2); para que não entremos em tentação (Mateus 26:41); pelos ministros da Palavra (Colossenses 4:3; 2 Tessalonicenses 3:1); pelas autoridades governamentais (1 Timóteo 2:1-3); por alívio da aflição (Tiago 5:13); e pela cura de outros crentes (Tiago 5:16). Onde Deus comanda oração, podemos orar confiantes de que estamos fazendo a Sua vontade.

2) Siga o exemplo de personagens bíblicos que agradaram a Deus. Paulo orou pela salvação de Israel (Romanos 10:1). Davi orou por misericórdia e perdão quando pecou (Salmos 51:1-2). A igreja primitiva orou por coragem para testificar (Atos 4:29). Essas orações eram de acordo com a vontade de Deus, e orações semelhantes de hoje em dia podem ser de acordo com a Sua vontade também. Assim como Paulo e a igreja primitiva, devemos estar sempre orando pela salvação de outras pessoas, tanto daqueles que conhecemos – entes queridos que ainda não conhecem a Cristo – como daqueles que não conhecemos, principalmente daqueles que estão ocupando uma posição de autoridade sobre nós. Quanto a nós mesmos, devemos orar como Davi orou, sempre conscientes do pecado e sempre prontos a confessá-lo, antes que nossas falhas atrapalhem nosso relacionamento com Deus e interrompam nossas orações.

3) Ore com a motivação certa. Motivos egoístas não serão abençoados por Deus. “Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites” (Tiago 4:3). Além disso, devemos orar de uma forma que não chama atenção a nós mesmos, e não com a intenção de parecermos “espirituais”, mas de uma forma particular e em secreto, para que nosso Pai Celestial nos escute em secreto e nos recompense abertamente (Mateus 6:5-6).

4) Ore com um espírito de perdão em relação a outras pessoas (Marcos 11:25). Um espírito de amargura, raiva, vingança ou ódio por outras pessoas não vai deixar que nossos corações orem em total submissão a Deus. Da mesma forma que somos advertidos a não oferecer nada a Deus se ainda há conflito entre nós e um outro Cristão (Mateus 5:23-24), assim também Deus não quer a oferta de nossas orações até que tenhamos nos reconciliados com nosso irmão ou irmã em Cristo.

5) Ore com ação de graças (Colossenses 4:2; Filipenses 4:6-7). Podemos sempre achar algo pelo qual podemos dar graças, não importa quão sobrecarregados possamos estar por nossos desejos e necessidades. O maior sofredor que existe nesse mundo, mas que vem a conhecer a oferta de ir ao céu através de Cristo, tem motivo para dar graças a Deus.

6) Ore com persistência (Lucas 18:1; 1 Tessalonicenses 5:17). Devemos perseverar em oração e não desistir quando não recebemos uma resposta de oração imediata. Parte de orar na vontade de Deus é acreditar que se Sua resposta é “sim”, “não”, ou “espere”, podemos aceitar seu julgamento, submeter-nos à Sua vontade e continuar a orar.

7) Dependa do Espírito de Deus em oração. Isso é uma verdade maravilhosa: “E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos” (Romanos 8:26-27). Temos a ajuda do Espírito quando oramos. Durante os momentos de maior depressão e sofrimento, naqueles momentos que achamos que simplesmente “não podemos orar”, temos o conforto de saber que Deus, na pessoa do Espírito Santo, está na verdade orando a Si mesmo por nós! Como temos um Deus maravilhoso!

Podemos orar com confiança quando procuramos andar no Espírito e não na carne! Podemos também ter ter certeza de que o Espírito Santo vai executar o Seu trabalho de apresentar nossas orações ao Pai de acordo com a Sua vontade e tempo perfeitos, e podemos descansar no conhecimento de que Ele trabalha todas as coisas para o nosso bem (Romanos 8:28).
Got Questions

Leia mais:http://www.gotquestions.org/Portugues/orando-vontade-Deus.html#ixzz3VY8z8s8r