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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Eu que pensei que sabia de tudo .

Eu que pensei que sabia de tudo 


exclamação 
Em quê você é um expert? Como você reagiria caso alguém lhe fizesse uma pergunta simples, dentro da sua área de conhecimento, para a qual você não tivesse resposta?

(Pode pensar)
Admitir ignorância é algo raro. Em rodas de bate papo ou debates mais formais é difícil alguém dizer “eu não sei”. Todo mundo tem opinião formada sobre tudo. E a maioria se gaba disso.
Jesus sempre respondeu aos questionamentos de seus críticos. Em Mateus 22, ele é questionado seguidamente por herodianos (acerca do imposto devido à César), saduceus  (sobre a ressurreição) e fariseus (sobre o maior dos mandamentos). Após todos os embates, é Jesus quem pergunta. E sua pergunta cala, de uma vez por todas, seus inquisidores. Diz o texto que “... ninguém podia responder-lhe uma palavra; nem desde aquele dia ousou mais alguém interrogá-lo.” (v.46)
É provável que a questão mais discutida na Palestina do I Século fosse sobre a vinda do Messias. Essa era uma questão central na fé judaica. Mas não consensual. Os essênios criam que o Messias poderia ser não uma, mas duas ou mesmo três pessoas distintas. Outros criam que a vinda do Messias se faria acompanhar da aparição de um dos profetas proeminentes do Velho Testamento como Jeremias ou Elias. Mas uma única coisa sobre a qual todos concordavam: o Messias seria descendente direto e herdeiro do trono de Davi.
Jesus pergunta não sobre os aspectos controversos da chamada Questão Messiânica, mas sobre um acerca do qual não pairava dúvidas: “De quem o Messias é descendente?”. A resposta veio imediata, uníssona: “De Davi, responderam eles”.
Note-se que Jesus não perguntou aos fariseus o que estes pensavam dele, mas o que pensavam do “Messias”. Jesus usa o recurso retórico de partir da premissa de seus contestadores. Era como se ele estivesse dizendo: “Ok, se eu sou um falso messias, o que vocês dizem acerca do verdadeiro? De quem ele é filho?”. A pergunta de Jesus, portanto, parece inofensiva. Mas, em seguida, a conclusão de Cristo é devastadora: “Como é então que Davi, em espírito, lhe chama Senhor, dizendo: “Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, Até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés?” - Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é seu filho?
O Salmo 110, aqui citado por Jesus é um “Salmo Messiânico”. Os fariseus conheciam bem esse salmo. De fato, os fariseus conheciam “todos” salmos messiânicos e “todos” os demais textos messiânicos, além de “todas” teorias messiânicas, mas não..., não sabiam dizer como Davi pôde chamar um longínquo descendente seu de “Senhor”.
Os fariseus consideravam-se os guardiões da pureza religiosa. Eram os fiscais da fé, o ISO 9000 teológico e os anos anteriores à Jesus foram prolíficos no aparecimento de falsos messias que enganaram a muitos. Cabia a eles a responsabilidade de salvaguardar o povo contra outro engano.
Os fariseus tornaram-se vítimas do medo de legitimar um messias falso. E esse tal Jesus Nazareno, que insistia em não se adequar a seus padrões, provocava neles uma sensação de dubiedade. Habitava neles uma franca oposição a Jesus pelo que ele dizia e fazia, mas havia também, aquele sentimento de dúvida e curiosidade irresistível (“Será Ele?”).
A “pergunta que calou todas as outras” fez ruir o pretenso know how farisaico. Para ser o Messias Verdadeiro, Jesus tinha que passar pelo “crivo” dos fariseus, mas o crivo fora destruído. Restou-lhes o silêncio constrangedor.
O medo de errar habita em todos nós. Não queremos nos desiludir de novo. Não queremos ser enganados mais uma vez. Mas todo nosso conhecimento e experiência podem nos conduzir a um estreitamento tal que acabaremos por rejeitar algo puro e verdadeiro. Então, como saber? (Se sei que saber tudo não posso).
Crendo. Ainda que crer seja um risco, descrer também o é. Crer em mais um falso messias poderia implicar em desilusão. E quais as consequências de não crer no verdadeiro? Se eu crer numa mentira, cedo ou tarde descobrirei. Mas se descrer da verdade como o saberei?
A busca pela verdade nunca será inócua. Cristo nunca deixou os fariseus sem respostas e ainda legou-lhes uma dúvida que, se não os fez crer, ao menos os fez cientes de sua ignorância. Ou seja:  aquele que não deixou enganados nem seus mais ferozes perseguidores também não vos deixará enganados. Ou não “valeis vós mais que pardais, lírios e fariseus incautos”?

Alessandro Mendonça

Um comentário:

  1. Boa postagem!!! Valemos sim , muito mais que os pardais, glorias a DEus por isso!!!

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