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domingo, 12 de setembro de 2010

O Outro Lado do Calvinismo . Arminianismo.

Laurence M. Vance - O Outro Lado do Calvinismo *

Arminianismo

"Se a flor dos Calvinistas é uma Tulipa, a flor dos Arminianos é uma MARGARIDA! Aquela do Bem-me-quer, Mal-me-quer..."



“A vida má não causa grande dano a não ser a si mesma, mas o ensinamento errado é o maior mal neste mundo, porque leva multidões de almas ao inferno. Não estou preocupado se és bom ou mau, mas eu atacarei teu ensinamento venenoso e mentiroso que contradiz a palavra de Deus.”
Martinho Lutero!



Como temos visto por todo este capítulo, Arminius foi um teólogo reformado holandês ortodoxo cuja única falta verdadeira (se for considerada uma falta) foi discordar das doutrinas estabelecidas do Calvinismo. Mas como vimos no capítulo 1 desta obra, o Arminianismo tem sido acusado de toda heresia imaginável. Assim, o que particularmente tem dado má fama a Arminius não é necessariamente sua teologia mas a teologia de alguns de seus assim chamados seguidores. O teólogo reformado Berkhof reconheceu isto e concluiu: “É um fato bem conhecido que o próprio Arminius não distanciou tanto da verdade da Escritura e dos ensinos dos reformadores como fizeram seus seguidores.”[1] E como o calvinista Cunningham corretamente mantém: “Calvino e Arminius não devem ser considerados responsáveis por quaisquer opiniões que eles próprios não expressaram.”[2] Cite o termo Arminianismo hoje e a primeira coisa que vem à mente é a doutrina da segurança condicional; isto é, o ensino de que alguém pode perder sua salvação a menos que ele faça alguma coisa. Mas como veremos no capítulo sobre a Perseverança dos Santos, Arminius não acreditava neste ensino. Isto é até admitido pelos calvinistas honestos.[3] E contrário ao que os calvinistas querem que acreditemos, isto é em muitos casos a única coisa que tornaria um “arminiano” heterodoxo.

Embora os termos arminiano e Arminianismo foram invocados logo após a morte de Arminius,[4] eles eventualmente foram estendidos para impugnar qualquer um que fosse oposto ao Calvinismo.[5] E como vimos no capítulo 1, esta divisão arbitrária de cristãos em duas classes tem sido a força do Calvinismo. Com somente duas opiniões para destinar os homens, foi fácil associar o Arminianismo com toda heresia concebível e culpá-lo por quaisquer casos de apostasia. Mas a heresia não pode somente estar limitada ao “Arminianismo,” pois os próprios calvinistas têm uma fração dela. Muitas congregações presbiterianas na Inglaterra durante o século 18 se tornaram unitarianos.[6] Neste país, em 1924, 1330 ministros presbiterianos assinaram a Declaração de Auburn, um documento que basicamente repudiava os fundamentos da fé.[7] A apostasia do grande baluarte calvinista, o Princeton Seminary, é bem conhecido.[8] Falando do Calvinismo na Suíça, Alemanha, e França, o ex-professor do Calvin College, Charles Miller, expõe:

Em todas as três áreas a salvação veio a ser assumida como o direito natural de nascimento. Na calvinista Suíça e na Alemanha o batismo foi presumido assegurar a salvação e foi não apenas um direito mas uma obrigação de cidadania. Na França, independente da vida, confissão, ou convicções intelectuais, o nascimento em uma família huguenote presumia não apenas a qualidade de membro da Igreja Reformada mas ultimamente a salvação.[9]

Estas falhas calvinistas não podem ser atribuídas ao Arminianismo, pois estes “heréticos” eram todos calvinistas professos.

Os verdadeiros seguidores de Arminius – aqueles que voluntariamente reivindicaram o nome – são de três tipos. Seus imediatos (e verdadeiros) descendentes, por causa do local proeminente que tinham na história subseqüente da Igreja Reformada nos Países Baixos, são discutidos no próximo capítulo. O segundo grupo começa com John Wesley, o fundador e ímpeto do Metodismo, que despertou o nome de Arminius e chamou seu jornal The Arminian Magazine.[10] O terceiro grupo de arminianos são aqueles entre os menonitas, batistas, e “evangélicos” que reivindicam o nome. Mas visto como os nazarenos, wesleyanos, pentecostais, e outros grupos Holiness de hoje são os descendentes espirituais de Wesley, é pertinente examinar o homem que Spurgeon chamou de “o moderno príncipe dos arminianos.”[11]

John Wesley nasceu em 1703 em Epworth, Inglaterra, um descendente de ministros de ambos os lados de sua linha. Embora seus avós foram não-conformistas, seus pais, Samuel (1662-1735) e Susana (1669-1742), se uniram à igreja estabelecida da Inglaterra antes dele nascer. Enquanto em Oxford, John, seu irmão Charles (1708-1788), e George Whitefield foram membros do que foi chamado “O Clube Santo.”[12] Por sua maneira santa e metódica de viver eles foram chamados “metodistas,” por isso a Igreja Metodista. Mas apesar de sua religião, Wesley não se converteu até 1738. Após sua conversão ele viajou por toda a Inglaterra o resto de sua vida pregando e organizando sociedades metodistas, mas como nunca foi sua intenção fundar uma nova denominação, ele permaneceu fiel à Igreja da Inglaterra toda sua vida.[13] A primeira conferência metodista, em que padrões para doutrina, liturgia, e disciplina foram adotadas, foi realizada em 1744.[14] Em 1778 a The Arminian Magazine nasceu, mais tarde tornando-se The Methodist Magazine, seguida por The Methodist Quarterly Review.[15] Em 1771 Wesley enviou Francis Asbury (1745-1816) a América como missionário. Conhecido como o “Wesley da América”[16] e o “pai do Metodismo nos Estados Unidos,”[17] Asbury pregou por toda a América e se tornou superintendente geral da recém organizada Igreja Episcopal Metodista em 1784.[18] O movimento metodista na América logo ofuscou o da Inglaterra. Além do Arminianismo, Wesley e os metodistas foram conhecidos por sua doutrina do “perfeccionismo” ou “santificação plena.” A Igreja Metodista hoje, entretanto, não é conhecida por qualquer outra coisa senão por completa apostasia.

Se John Wesley nunca tivesse chamado a si próprio de arminiano, os calvinistas certamente teriam feito, pois Wesley foi um dos mais ardentes inimigos do Calvinismo. E como Spurgeon diz de Wesley: “Para ultra-calvinistas seu nome é tão detestável quanto o nome do papa a um protestante: você tem somente que falar de Wesley, e todo mal imaginável é conjurado diante de seus olhos, e nenhuma condenação é imaginada ser suficientemente horrível para um arqui-herético como ele era.”[19] Assim, na opinião dos calvinistas, Wesley é classificado junto com Arminius. E como Arminius, Wesley se ocupou com inúmeras disputas notáveis com os calvinistas. Ele rompeu com Whitefield sobre a questão e entrou em conflito com Augustus Toplady e o batista particular John Gill.[20] Wesley considerava o Calvinismo como “o próprio antídoto do Metodismo, o mais mortal e bem-sucedido inimigo que ele já teve.”[21] Nisto ele seguiu sua mãe, que escreveu a ele em Oxford: “A doutrina da predestinação, como sustentada pelos rígidos calvinistas, é muito repugnante, e deve ser completamente abominada, porque ela acusa o mais santo Deus de ser o autor do pecado.”[22] As principais obras contra o Calvinismo incluem Serious Thoughts upon the Perseverance of the Saints (1751) e Predestination Calmly Considered (1752). Wesley não estava sozinho em suas críticas ao Calvinismo. Seu irmão Charles, o escritor de hinos, escreveu numerosos versos contra o Calvinismo. O companheiro de Wesley, John Fletcher (1729-1785) também escreveu contra o Calvinismo em seus Checks to Antinomianism. Ele lutou para mostrar que o Arminianismo não devia ser identificado com o Pelagianismo.[23] O principal teólogo sistemático do Metodismo foi Richard Watson (1781-1833), que escreveu suas Theological Institutes “arminianas” em 1823. E mais adiante como Arminius, Wesley foi considerado heterodoxo, mas como Arminius, ele apelou a Calvino para provar sua ortodoxia: “Eu considero a justificação, assim como tenho feito durante estes vinte e sete anos; e assim como o Sr. Calvino. Neste aspecto, eu não discordo dele nem um pouco.”[24] Com isto até Spurgeon concorda: “Wesley não somente pregava a justificação pela fé muito claramente, mas da mesma forma a total ruína de nossa raça; e, o que quer que alguns de seus seguidores possam pregar, ele próprio ensinava a incapacidade da criatura.”[25] Com sua negação da perseverança e seu perfeccionismo, John Wesley distanciou-se mais além de Arminius do que os sucessores imediatos do holandês. Mas apesar de suas falhas, Wesley não foi o herético que os calvinistas fazem-no ser.

A Igreja Metodista que Wesley fundou, como todas as igrejas denominacionais, logo se dividiu em várias facções. Alguns destes descendentes espirituais arminianos de Wesley estão ainda conosco. A Igreja Wesleyana apareceu em 1843 como a Igreja Metodista Wesleyana, mas depois de uma fusão com a Igreja Peregrina Holiness (fundada em 1897) em 1968, ela obteve seu nome atual.[26] A Igreja do Nazareno, como tem sido chamada desde 1919, é resultado da fusão de três grupos holiness em 1907 e 1908.[27] Mais tarde afastados de Wesley estão todos os vários grupos holiness, todos os quais são “arminianos” em teologia ainda que eles possam não reivindicar o nome. Os Free Will Baptists na América são os verdadeiros batistas arminianos, contrários à dicotomia calvinista-arminiana que os batistas calvinistas aderem. Seus traços podem ser seguidos a partir da obra de Benjamin Randall (1749-1808) em 1780, que se converteu sob Whitefield.[28]

Os seguidores de Arminius perderam o privilégio de usar o nome arminiano. Eles se distanciaram muito além dele do que ele alguma vez perdoaria. A antiga Enciclopédia de Edinburgo criteriosamente desenvolveu sobre este tema:

Mas o mais eminente daqueles que se tornaram arminianos, ou que se posicionou entre os seguidores declarados de Arminius, logo adotavam concepções da corrupção do homem, da justificação, da justiça de Cristo, da natureza da fé, do alcance das boas obras, e da necessidade e operações da graça, que são totalmente contrárias as que ele tinha nutrido e publicado: Muitas delas, no decorrer do tempo, diferiam mais ou menos umas das outras, sobre alguns ou todos estes pontos. Até a Confissão de Fé, que foi formulada para os arminianos por Episcopius, e deve ser encontrada no segundo volume de suas Obras, não pode ser referida como um padrão: Ela foi composta meramente para neutralizar a censura de que eles eram uma sociedade sem quaisquer princípios comuns. Cada um era deixado em inteira liberdade para interpretar sua linguagem da maneira que mais fosse agradável aos seus próprios entendimentos. Portanto, várias e inconsistentes são suas opiniões, que se Arminius pudesse ler atentamente os inúmeros volumes que foram escritos como exposições e ilustrações da doutrina arminiana, ele ficaria perplexo ao descobrir seu próprio modesto sistema, no meio daquela massa heterogênea de erros com os quais ele tem sido rudemente misturado; e ficaria surpreso ao descobrir, que a controvérsia que ele, infelizmente mas conscienciosamente, introduziu, tinha vagado longe do ponto ao qual ele tinha confinado-o, e que com seu nome dogmas foram associados, a natureza anti-bíblica e perigosa das quais ele tinha identificado e condenado.[29]

Se os calvinistas para sempre separar o nome de Arminius do que é conhecido como o sistema arminiano, então, e somente então, o título arminiano denotararia uma mais respeitável profissão.


 


[1] Berkhof, History, p. 155.
[2] Cunningham, Reformers, p. 451.
[3] Good, Calvinists, p. 63; Wright, p. 29; Sellers, p. 8; Cunningham, Reformers, p. 451.
[4] Bangs, Arminius: A Study, p. 147; Works of Arminius, p. xxii.
[5] Curtiss, p. 137; The Oxford Dictionary of the Christian Church, s.v. “Arminianism,” p. 90; Dictionary of Christianity in America, s.v. “Arminianism,” pp. 77, 78; Nicholas Tyacke, Anti-Calvinists: the Rise of English Arminianism c. 1590-1640 (Oxford: Clarendon Press, 1987), pp. 4, 245.
[6] Neve, vol. 2, p. 31.
[7] Gordon H. Clark, What Do Presbyterians Believe? (Phillipsburg: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1965), p. iii.
[8] Para a história do Princeton Seminary veja David B. Calhoun, Princeton Seminary, Vol. 1: Faith and Learning (1812-1868) (Edinburgo: The Banner of Truth Trust, 1994), e Princeton Seminary, Vol. 2: The Majestic Testimony (1868-1929) (Edinburgo: The Banner of Truth Trust, 1996).
[9] Charles Miller, p. 61.
[10] Dictionary of Christianity in America, s.v. “Arminianism,” p. 79.
[11] Spurgeon, Sermons on Sovereignty, p. 14.
[12] James Haskins, The Methodists (Nova York: Hippocrene Books, 1992), pp. 39-40, 54.
[13] Evangelical Dictionary of Theology, s.v. “Wesley, John,” p. 1164.
[14] Ibid., s.v. “Methodism,” p. 713.
[15] Gerald O. McCulloh, ed., Man’s Faith and Freedom (Nashville: Abingdon Press, 1962), p. 74.
[16] Haskins, p. 70.
[17] Evangelical Dictionary of Theology, s.v. “Asbury, Francis,” p. 85.
[18] Ibid., s.v. “Methodism,” p. 713.
[19] Spurgeon, Two Wesleys, p. 4.
[20] Nettles, Wesley, pp. 302-313.
[21] John Wesley, citado em Nettles, Wesley, p. 301.
[22] Susanna Wesley, citado em A. W. Harrison, Arminianism (Londres: Duckworth, 1937), p. 189.
[23] Howard A. Slaatte, The Arminian Arm of Theology (Washington D.C.: University Press of America, 1979), p. 118; Harrison, Arminianism, p. 210.
[24] John Wesley, citado em Nettles, Wesley, p. 309.
[25] Spurgeon, Two Wesleys, p. 9.
[26] Frank S. Mead, Handbook of Denominations in the United States, 8a. ed., rev. Samuel S. Hill (Nashville: Abingdon Press, 1985), p. 260.
[27] Ibid., p. 92.
[28] William Cathcart, The Baptist Encyclopedia (Filadélfia: Louis H. Everts, 1881), s.v. “Free Will Baptists,” pp. 416-417.
[29] Citado em Works of Arminius, vol. 1, p. 306.

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