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sábado, 27 de novembro de 2010

No Levantar de Questões - Diante da Porta Estreita

Diante da Porta Estreita
Uma conversa franca com 
os candidatos à Fé em Jesus

por Charles Haddon Spurgeon


No Levantar de Questões
 
EM NOSSOS DIAS, uma fé simples, infantil, é muito rara; mas a coisa mais comum é não crer em nada, e questionar tudo. Dúvidas são tão comuns quanto jabuticabas em temporada, e todas as mãos e lábios estão cheias delas. A mim me parece muito estranho que os homens devam caçar dificuldades para sua própria salvação. Se eu estivesse condenado à morte, e tivesse uma chance de misericórdia, estou certo de que não ficaria procurando razões para que eu não fosse perdoado. Eu deixaria este trabalho para os meus inimigos: meu olhar estaria numa direção bem diferente. Se eu estivesse me afogando, eu iria pegar qualquer coisa que aparecesse, ao invés de lançar o salva-vidas para longe de mim. Raciocinar contra a própria vida é algum tipo de suicídio construtivo do qual somente um homem bêbado poderia ser culpado. Argumentar contra sua própria esperança é como um homem tolo sentado num tronco, e cortando-o de forma que ele mesmo caia. Quem a não ser um idiota faria isso? Ainda assim muitos parecem ser os promotores da própria ruína. Eles buscam na Bíblia textos ameaçadores; e quando estão fartos disso, eles se voltam à razão, e filosofia, e ceticismo, a fim de fechar a porta em suas próprias caras. Certamente é um péssimo trabalho para um homem sensível. Muitos hoje eu não conseguem ficar sem pensar em religião, são capazes de repelir a pressão inconveniente da consciência ao fazer piada das grandes verdades da revelação.
 
Grandes mistérios estão no Livro de Deus por necessidade; pois como pode o Deus infinito falar de forma que todos os Seus pensamentos possam ser percebidos pelo homem finito? Mas está à altura do tolo ficar discutindo estas coisas profundas, e deixar as claras e salvadoras verdades em pendência. Lembram dois filósofos que debatiam sobre comida, e deixaram a mesa sem tocar em nada. Enquanto que o homem do campo não fez nenhuma questão, mas usou sua faca e garfo com grande diligência, e se regozijou. Muitos estão hoje felizes no Senhor por receberem o evangelho como pequenas crianças; enquanto que outros, que sempre conseguem ver dificuldades, ou inventá-las, estão tão longes de qualquer esperança confortável de salvação. Eu conheço muitas pessoas decentes que se resolveram nunca vir a Cristo até que entendam como a doutrina da eleição pode ser coerente com os convites livres do evangelho. Eu talvez resolva também nunca comer um pedaço de pão novamente até que fique claro como Deus me mantém vivo, e ainda assim eu tenha de comer para viver. O fato é que, a maioria de nós sabe o suficiente, e a real necessidade nossa não é luz na mente, mas a verdade no coração; não ajuda para as dificuldades, mas graça para que odiemos o pecado e busquemos reconciliação.


Aqui deixe-me adicionar um aviso contra adulterar a Palavra de Deus. Nenhum hábito pode ser pior à alma. É impertinência, frieza desdenhosa se sentar e corrigir o seu Criador, o que tende a tornar o coração mais duro que a pedra de moinho. Lembramos de um que usava um canivete em sua Bíblia, e não muito depois ele havia deixado todas as suas crenças. O espírito de reverência é saudável, mas a impertinência de criticar a Palavra inspirada é destrutiva de todos os sentimentos adequados a Deus.


 
Se um homem sentir mesmo sua necessidade de um Salvador depois de tratar as Escrituras com um espírito orgulhoso e crítico, ele está bem apto a ver sua consciência no meio do caminho, e o impedindo-o ao confortá-lo pela lembrança dos seus maus tratos à sacra Palavra. É difícil a ele achar consolação nas passagens da Bíblia que ele tratou com desprezo, ou mesmo anulou por completo, como indignos de consideração. Em sua aflição parece-lhe que os textos sagrados riem de sua calamidade. Quando vierem os tempos de necessidade, as fontes que ele interrompeu com pedras não mais jorrarão água para sua sede. Cuidado, quando você despreza as Escrituras, para que não jogue fora o único amigo que pode lhe ajudar nos tempos de agonia.

 
Certo duque alemão estava acostumado a chamar seu servo para ler um capítulo da Bíblia para ele todas as manhãs. Sempre que algo não se adequava ao seu julgamento, ele simplesmente mandava, "Hans, tire isso fora". Depois que Hans tinha lido já por muito tempo, ele apalpou o Livro, até que o seu mestre o chamou, "Hans, porque você não lê?" Então Hans respondeu, "Senhor, há muito pouca coisa sobrando. Está tudo dilacerado!" Um dia as objeções de seu mestre iam para um lado, e no outro dia viravam para outro ainda, e outro grupo de passagens era apagado, até que não havia nada mais para instruí-lo ou confortar. Que nós não destruamos nossas próprias misericórdias por criticismo caprichoso. Ainda havemos de precisar dessas promessas que parecem desnecessárias; e essas porções das Sagradas Letras que foram mais atacadas por céticos ainda se provarão essenciais às nossas próprias vidas: assim guardemos o tesouro inestimável da Bíblia, e nos resolvamos a não abandonar uma linha sequer do mesmo. Que temos nós que ver com questões misteriosas enquanto nossas almas estão em perigo? A forma de se escapar do pecado está bem clara. O homem objetivo, ainda que tolo, não falharia nisso. Deus não zombou de nós mandando uma salvação que não podemos entender. CREIA E VIVA é um mandamento que um bebê pode compreender e obedecer.

 
Não duvide mais, mas agora creia
Não questione, mas receba
Hábeis dúvidas e raciocínios estão
Cravados com Jesus no madeiro

 
Ao invés de objetar caprichosamente as Escrituras, o homem que é dirigido pelo Espírito de Deus se aproximará do Senhor Jesus de uma vez. Visto que milhares de pessoas decentes e inteligentes – pessoas do melhor caráter também – estão confiando tudo a Jesus, ele fará o mesmo, e o fará sem demora. Então ele começa a viver uma vida que vale a pena, e ele o teria feito ainda que com medo. Ele deve adquirir aquela vida melhor e mais elevada, que nasce do amor por Jesus, o Salvador. Porque o leitor não o faria agora? Oh, que ele faça!

 
Um açougueiro de Newark, Nova Jersey, recebeu uma carta de sua antiga casa na Alemanha, notificando que ele, pela morte de um parente, se tornou herdeiro de uma considerável quantidade de dinheiro. Ele estava cortando um porco no momento. Depois de ler a carta, ele imediatamente tirou seu avental sujo e não parou para terminar e cortar o porco em salsichas, mas deixou o açougue para se preparar para ir para sua casa na Alemanha. Você o culpa, ou você quereria que ele ficasse ainda em Newark com o porco e a faca? Veja aqui a operação da fé. O açougueiro creu no que lhe havia sido dito, e agiu a respeito disso de uma vez. Um companheiro sensível!

 
Deus enviou Sua mensagem aos homens, contando-lhes as boas-novas da salvação. Quando um homem crê que as boas-novas são verdade, ele aceita as bênçãos que lhe são anunciadas e se apressa a agarrá-las. Se ele realmente crê, ele irá imediatamente tomar a Cristo, com tudo que ele pode, deixar seus maus caminhos, e se dirigir à Cidade Celestial, onde toda sorte de bênçãos estão para serem usufruídas. Ele não pode ser imediatamente santo, ou rapidamente deixar os caminhos de seus pecados. Se o homem pudesse ver o que realmente é o pecado, ele fugiria dele como de uma serpente mortal, e se regozijar de ser livre dele por Cristo Jesus.

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Titulo original: Around the Wicked Gate
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS DESSA OBRA DE DOMÍNIO PÚBLICO, E SOB RESPONSABILIDADE para o Projeto Spurgeon – Pregando a Cristo Crucificado, na pessoa do editor
1º edição - 2010 
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