por Daniel R. Hyde
“ Outra razão ainda temos nós para, incessantemente, dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes.” (1 Tessalonicenses 2.13)
Igrejas reformadas acreditam que Deus ainda fala. Enquanto não cremos que ele ainda fale hoje por inspiração do Espírito Santo, cremos que por meio da pregação a voz de Deus é tão real e vital para nós como foi por meio das bocas e penas dos profetas e apóstolos. Como podemos dizer isso? Aqui está a doutrina formulada da forma mais simples possível: quando um ministro legitimamente chamado e ordenado (Romanos 10) prega a Palavra de Deus e não suas próprias palavras (2 Timóteo 2.15) e o faz em sinceridade para honrar a Deus e não a si mesmo (1 Tessalonicenses 2.3-6), Deus fala. Suas palavras são “não como palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus”. Nas palavras de Heinrich Bullinger (1504-1575): “Portanto, quando esta Palavra de Deus é agora anunciada na Igreja por pregadores legitimamente chamados [per prædicatores legitime vocatos], cremos que a própria Palavra de Deus[ipsum Dei verbum] é anunciada e recebida pelos fiéis;” (Segunda Confissão Helvética, 1.4). Então como você ouve a voz do Senhor no sermão do seu pastor? Obviamente estou assumindo que o disposto acima é verdade a respeito dele. Então, aqui está:
- Esperançosamente – “Senhor, eu espero que você fale” Já que nos reunimos no Dia do Senhor para ouvir o que Paulo disse não ser “palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus”, devemos vir esperançosamente, dizendo a Deus “Senhor, eu espero que você fale”. Isso significa que devemos nos preparar toda a semana para ouvi-lo falar por meio da pregação de sua Palavra no Dia do Senhor. Precisamos preparar nossos corações durante a semana inteira com um espírito de expectativa. O profeta Isaías falou do nosso dia dizendo que o monte do Senhor seria exaltado e as nações fluiriam para a sua casa: “Irão muitas nações e dirão: Vinde, e subamos ao monte do SENHOR e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas suas veredas” (Isaías 2.3). Portanto devemos dizer a nós mesmos “Deus vai falar. O que ele vai dizer? Eu não aguento esperar.”
- Com fome —“Senhor, eu preciso que você fale” Quando o domingo de manhã chega, precisamos ouvir a Palavra com fome, dizendo “Senhor, eu preciso que você fale.” Por que? Por que nós precisamos que ele fale pelas palavras de homens, as quais são na verdade a Palavra de Deus? Porque sua Palavra é o alimento para as nossas almas. Em nossa época de gratificação imediata em que temos o mundo na ponta de nossos dedos em nossos iPhones e Blackberries, estamos sempre conectados uns aos outros e à informação. Mas esse sentimento passa. Isso não dura nem satisfaz nossas almas. Como nossos antepassados no deserto, nossas almas famintas precisam da Palavra. “não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do SENHOR viverá o homem” (Deuteronômio 8.3). Como os profetas de antigamente que comeram seus pergaminhos para apontar a necessidade das pessoas de terem a Palavra dentro deles para os nutrir, nós também precisamos participar da Palavra para satisfazer nossa fome espiritual. Que tipo de apetite você tem? Você quer as calorias vazias, o rápido nível alto de açúcar que são oferecidos pelas palavras do diabo, as palavras do mundo, suas próprias palavras e, tristemente, as palavras de vários que se dizem pregadores cristãos hoje? Que tipo de apetite você tem? Você quer uma coceira na orelha com as promessas de uma vida melhor agora, saúde, riqueza e felicidade? Em vez disso, somos chamados a ter um apetite pela Palavra como uma criança de peito tem apetite por leite. Como Pedro diz, “desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação” (1 Pedro 2.2). Leite nutre. Leite é saudável. Leite satisfaz.
- Atentamente—“Senhor, eu vou ouvir você falar” Para aproveitar melhor essa nutrição, precisamos ouvir a Palavra atentamente. Durante o sermão, precisamos continuamente orar “Senhor, eu vou ouvir você falar”. Isso significa que toda semana e cada momento do sermão, precisamos dizer a nós mesmos “Essas não são as palavras do pastor ______, são na verdade as palavras de Deus”. À medida que reconhecemos que Deus está entre nós e que ele está falando, poderemos dar nossa audição atenciosa à Palavra. É por isso que a Confissão de Fé de Westminster considera a “consciente atenção” à Palavra um ato de adoração. Estamos ouvido Deus, e ao ouvi-lo, dando a atenção completa de nossas mentes e corações a cada palavra. Um exemplo de prestar consciente atenção à Palavra está em Deuteronômio 32.47. No fim de um dos últimos sermões de Moisés, ele exorta o povo a reconhecer a profundidade do que estava acontecendo naquele sermão: “Porque esta palavra não é para vós outros coisa vã; antes, é a vossa vida”. Eis um desafio para pastores e membros. Você pode dizer que a pregação da Palavra em sua igreja não é coisa vã? Você pode dizer que a pregação da Palavra é a sua vida? Eu te desafio a pensar na pregação de forma totalmente diferente. Te desafio a lutar contra a fatiga e contra pensamentos distraídos, e a lutar contra o que o diabo quer que você pense sobre isso tudo, que isso é entediante. Adoração é o lugar e tempo em que Deus fala!
- Fielmente —“Senhor, eu creio em você quando você fala” Você precisa deixar o culto dizendo a Deus “Senhor, eu creio em você quando você fala”. Eu sei que é difícil acreditar que na pregação não são palavras de homens mas de Deus. Sei que deve ser difícil acreditar que as palavras do seu pastor são não meramente as palavras dele, mas palavras de Deus, dado que você sabe que ele é um mero homem, um pecador. Por isso receba a pregação da Palavra, pela fé, como Palavra de Deus para você. Já que a pregação deve ser recebida pela fé, essa fé inevitavelmente será um objeto da tentação do diabo. Nós facilmente aceitamos as sugestões do diabo nesse ponto. Como? Ele quer que julguemos o ministro com nossos olhos – sua aparência, seu estilo ou falta de estilo, ou até o fato de que sua roupa atrapalha a receber o conteúdo do que ele prega. O diabo quer que a gente julgue o ministro com nossos corações. Quer que nunca revelemos nossas queixas, mas guardemos rancor e opiniões adversas sobre ele, mantendo isso como armas para usar depois. Ele quer que julguemos o ministro com nossas mentes. Como é fácil cair na armadilha que um dos meus colegas professores disse que membros caem quando ele disse “tem gente que sabe o suficiente de grego e hebraico para ser perigoso”. Nós nos inflamos em nossas mentes até que possamos fazer uma batalha mental com o pregador. E tudo isso para que não o escutemos.
- Obedientemente —“Senhor, eu vou te obedecer quando você falar” Em vez disso, Deus quer que ouçamos a Palavra obedientemente. Ele quer que ao término do culto digamos “Senhor, eu vou te obedecer quando você falar”. Os tessalonicenses ouviram a Palavra, eles receberam a Palavra e aceitaram a Palavra. E foi essa Palavra que “operou eficazmente” neles. A Palavra nunca é infrutífera, mas sempre frutifica. Como o profeta Isaías disse, “Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei.” (Isaías 55.10-11). Você é um praticante da palavra ou meramente um ouvinte? Nós precisamos aprender como afinar nossos sentidos espirituais para que consigamos ouvir o Senhor em um mundo de barulho. Podemos fazer isso quando ouvimos esperançosamente, quando ouvimos com fome, quando ouvimos atentamente, quando ouvimos fielmente e quando ouvimos obedientemente. Eu te desafio a fazer isso de tal forma que sua vida seja saturada com a Palavra em cada parte e guiada pela Palavra em cada curva da sua vida. Deixe-me fechar com uma maravilhosa citação que resume isso tudo. O puritano Joseph Alleine uma vez disse – e eu oro que isso seja verdade para todos nós: “Venha de joelhos para o sermão, e vá do sermão aos seus joelhos”. Amém
- Reforma 21
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