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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Caindo da graça.

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Uma coisa que tem chamado minha atenção é o crescimento de uma linguagem de gueto no meio da igreja, o que é comum chamar de Evangeliquês. Há vários termos que às vezes passam despercebidos da gente, mas outros nem tanto.
Quero tratar, ainda que rapidamente, de um deles hoje que é o “cair da graça” ou “decair da graça” como às vezes é usado no senso comum das falas das pessoas no meio das igrejas.
É interessante como o tema “cair da graça” no senso comum em meio a Igreja está ligado com PECADO, ou melhor, ainda dizendo, “cair em pecado” ou “viver em pecado”. De certa forma é correto o pensamento, mas quando se afirma, em senso comum, isso, não está ligado ao fato de que na Bíblia, principalmente pensando em Paulo, há uma instrução específica para o “cair da graça”.
Para Paulo, “cair da graça” significa viver mediante LEGALISMO, ou seja, voltar à prática de coisas que requer esforço pessoal, justiça própria e “sacrifícios de obediência” para obter a “presença de Deus” ou mesmo uma melhoria na “vida espiritual”.
Vou tentar exemplificar de maneira prática. Paulo argumenta em Gálatas o seguinte:
No momento em que vocês se submetem à circuncisão ou qualquer outro sistema de crenças, o dom da liberdade que Cristo conquistou com sofrimento acaba desperdiçado. Repito: quem aceita o sistema da circuncisão troca a maravilhosa vida de liberdade em Cristo pelas obrigações da vida de escravo da lei. Creio que o que está acontecendo não era intenção de vocês. Quem escolhe viver de acordo com seus planos religiosos tentando ser justo se desliga de Cristo e está fora da graça. Gálatas 5.2-5
Leia bem o que Paulo afirma: quem vive de acordo com um sistema de crenças e acha que através da prática destas coisas é que será santificado ou mesmo será considerado mais crente, mais santo, mais fervoroso etc, esse tal CAIU DA GRAÇA pois não vive debaixo dela, mas resolveu apostar sua vida num sistema de crenças, numa religião, num modo esforçado de ler mais, de orar mais, de sacrificar-se mais, como se esse esforço pudesse produzir a vida de Cristo.
Deus não nos aceita porque OBEDECEMOS, mas o correto é pensar que OBEDECEMOS porque fomos aceitos por ele. Deus não nos aceita porque sacrificamos ao entregar ofertas vultosas e então nos abençoa como recompensa por nossos atos. Deus não nos aceita porque sacrificamos em jejum mortificando nossa carne, nossa carne é mortificada pelo Espírito dele a partir do momento em que nos aceitou em Cristo. Deus não nos aceita por causa de nossos esforços em não pecar diariamente contra ele, conseguimos não pecar diariamente contra ele porque ele nos aceitou e colocou em nós o Espírito Santo que nos santifica e nos faz crescer em fruto dele mesmo.
Tentar ser justo diante de Deus por causa de coisas que fazemos (ou não fazemos) é se desligar de Cristo e da sua graça. Tentar com esforço pessoal alçar voo e ser mais santo por causa de orações, leitura da Bíblia, jejuns, sacrifícios pessoais, preços pagos por situações é cair da graça de Cristo, é voltar a prática do legalismo que afundou Israel em sua justiça própria e que acabaram por perder de vez a possibilidade de continuar sendo usados por Deus para abençoar todas as famílias da terra na prática de uma evangelização que tem a ver com Cristo. Hoje esse papel não é mais de Israel, mas da Igreja.
A vida de religiosidade, seguida de atos de bondade, ou mesmo esforço pessoal na santificação, ou ainda nos sacrifícios que fazemos pagando “o preço” por determinadas situações são atos contrários à graça de Deus, que nos fazem entender que nós é que nos mantemos santos e justos através de nossa obediência.
Quando vejo alguém que se esforça grandemente para ser santo, usa de todos os recursos que tem à mão, como sacrifícios pessoais, jejuns, muito tempo em oração, leitura da Bíblia como forma de obter santificação e “unção” ao mesmo tempo em que recrimina quem, por exemplo, caiu em algum pecado destes condenáveis e que jogam a reputação de quem os comete na lama, olhando para estas pessoas (esse que se esforça) e dizendo que esses (que pecaram) estão decaídos da graça, fico realmente abalada e me lembro de como Paulo severamente nos exorta que cair da graça não é PECAR (algum deslize pessoal, erro do alvo, ou não fazer a vontade de Deus em determinada situação – pecadores todos são e aqueles que se dizem sem pecado ou atirem a primeira pedra ou se atirem na graça de Deus, são mentirosos), mas este que julga que pelo seu esforço pessoal é “melhor” que esse outro que é um miserável e desgraçado pecado é que é o verdadeiro caído da graça de Deus.
Desta forma nos afundamos em nossos abismos de justiça própria e entramos novamente na escravidão da lei e do pecado, tentando trazer a lei do Antigo Testamento de novo para nossas vidas, anulando o sacrifício e o cumprimento desta lei em Cristo
Essa não é a vontade de Deus para conosco. Ele nos deu vida para conhecermos a Jesus e obtermos a liberdade da vida na graça dele.
Nenhum esforço seu ou meu vai fazer com que Deus nos aceite ou nos ame – ele nos ama e nos aceita baseado no sacrifício de Cristo, na sua graça, na sua vontade soberana.
Não caia da graça de Deus, não volte à prática de um legalismo que é pura tradição humana e esforço própriojustiça própria. Confie na justiça de Deus em Cristo e renda-se a ele de tal forma que essa graça que nos salvou seja também a mesma que nos santifica.

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