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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A Grandeza do Amor de Cristo - Calvino





Sejais capazes de compreender (Eph. 3:18-19) .  Os efésios deveriam perceber a grandeza do amor de Cristo pelos homens. Tal apreensão ou entendimento emana da fé. Ao fazer de todos os santos seus companheiros, o apóstolo mostra que esse fato é a mais excelente bênção que se pode obter na presente vida, o que constitui a mais elevada sabedoria, a qual todos os filhos de Deus aspiram. O que vem a seguir é em si mesmo suficientemente claro, mas que até agora tem sido obscurecido por uma variada gama de interpretações. Agostinho é muito agradável com sua sutileza, a qual não tem nada a ver com o tema. Pois aqui ele busca não sei que mistério na figura da cruz - ele faz a largura ser o amor, a altura ser a esperança, o comprimento ser a paciência e a profundidade, a humildade. Toda essa sutileza nos agrada, mas o que tem isso a ver com o significado de Paulo? Não mais, certamente, do que a opinião de Ambrosio, que denota a forma de uma esfera. Pondo à parte os pontos de vista de outros, direi que todos haverão de reconhecer que tudo é simples e procedente.

Por essas dimensões, Paulo não quer dizer outra coisa senão o amor de Cristo, do qual fala mais adiante. O significado consiste nisto: aquele que conhece [o amor de Cristo] verdadeira e perfeitamente é, em todos os aspectos, um homem sábio. E como se dissesse: "Qualquer que seja a direção em que os homens olhem, nada encontrarão na doutrina da salvação que não esteja relacionado com o amor de Cristo." Ele possui em seu conteúdo todos os aspectos da sabedoria. O significado ficará ainda mais claro se o parafrasearmos assim: "Para que sejais capazes de compreender o amor que é o comprimento, a largura, a profundidade e a altura, isto é, a completa perfeição de nossa sabedoria." A metáfora é extraída da matemática, que das partes denota o todo. Quase todos os homens são contaminados com a doença mórbida que busca ansiosamente o conhecimento sem proveito. Portanto, a presente admoestação é muitíssimo oportuna: o que nos é indispensável saber, e o que o Senhor quer que contemplemos, acima e abaixo, à direita e à esquerda, adiante e atrás. O amor de Cristo persiste para que meditemos nele dia e noite e para que vivamos completamente imersos nele. Aquele que retém somente isso possui o suficiente. Além desse amor não existe nada sólido, nada proveitoso; em suma, nada que seja de fato justo ou saudável. Vagueie pelo céu, pela terra e pelo mar, e você jamais irá além disso sem ultrapassar os limites lícitos da sabedoria.

O qual excede todo o conhecimento. E assim que lemos alhures: "E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus"(Fil 4;7) [Philippians. 4:7-]. Para que o ser humano se aproxime de Deus, deve antes elevar-se acima de si próprio e do mundo. Eis a razão por que os sofistas recusam admitir que podemos sentir-nos seguros na graça de Deus. Pois eles avaliam a fé pela percepção [=apprehensione] dos sentidos humanos. Mas Paulo sustenta que esse conhecimento [=scientia] é superior a todo e qualquer conhecimento [=notitia], e com razão; pois, se as faculdades humanas pudessem alcançá-lo, a oração de Paulo, para que Deus o concedesse, teria sido dispensável. Lembremo-nos, pois, de que a certeza [proveniente] da fé é conhecimento [=scientia], mas que o mesmo é adquirido pelo ensinamento do Espírito Santo, e não pela acuidade de nosso próprio intelecto. Se o leitor deseja saber mais sobre essa questão, então consulte as Institutas [IIIii, parágrafos 14-16, 33-37].

Para que sejais cheios. Ele agora expressa, em uma só palavra, o que quis dizer através de diversas dimensões, ou seja: aquele que possui a Cristo, na verdade possui tudo quanto lhe seja necessário para a perfeição em Deus; pois é precisamente isso que a expressão - "a plenitude de Deus" - significa. O ser humano imagina que é em si mesmo completo, mas só porque se intumesce com matéria inútil ou com vento. Há alguns desvairados, perversos e ímpios, que interpretam "a plenitude de Deus" como sendo "plena divindade", como se o ser humano pudesse tornar-se igual a Deus.


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