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domingo, 20 de maio de 2012

Uma Herança Abrangente




Proclamarei o decreto: o SENHOR me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei. Pede-me, e eu te darei os gentios por herança, e os fins da terra por tua possessão. (Salmo 2.7–8).
Esse é um salmo messiânico. Poderíamos até dizer que ele é o salmo messiânico. Aqui lemos: “eu hoje te gerei”. Essa passagem é citada duas vezes na epístola aos Hebreus como se aplicando a Jesus Cristo. [1] Deus fala ao Messias neste salmo. Ele diz para o Messias lhe pedir os gentios como sua herança. Também lhe promete as partes mais remotas da terra como sua possessão. Isso não se refere ao mundo além-túmulo. O salmista fala dos gentios como estando presentes no mundo. A questão teocêntrica aqui é herança.

Há três principais abordagens na escatologia: a doutrina das últimas coisas. Cada uma delas tem características distintas. Cada uma tem uma teoria social específica. [2]
Essa passagem deixa as coisas exegeticamente difíceis para os amilenistas. É possível tanto para pré-milenistas como pós-milenistas tomar essa passagem literalmente. O pós-milenista a aplica à fase final do reino de Deus na história, na qual o evangelho de Jesus Cristo se espalha por toda a face da terra. O pré-milenista a interpreta como um aspecto do reino milenar de Cristo na terra antes do julgamento final.
O amilenista não pode interpretar essa passagem literalmente. A passagem não faz nenhum sentido no contexto da hermenêutica amilenista. Não pode haver dúvida que esse salmo está falando sobre o domínio mundial de Jesus Cristo na história. Essa linguagem não se refere a algum tipo de estado espiritual ou emocional da mente, na qual os cristãos, que têm pouca influência na história, e que podem estar sob a opressão dos pagãos, de alguma forma reinterpretam sua situação como significando que eles estão em posição de autoridade. A única forma do amilenista interpretar essa passagem literalmente é dizer que Jesus Cristo nunca se importou em pedir a Deus os gentios como herança ou as partes mais remotas da terra como sua possessão. De alguma forma, Jesus não está interessado em estender o seu reino para incluir o domínio sobre os gentios e a possessão das partes mais remotas da terra. Isso faz menos sentido ainda que a tradição amilenista de interpretar toda linguagem profética bíblica de vitória cultural como se aplicando somente aos sentimentos psicológicos dos cristãos oprimidos e culturalmente impotentes.

Nos Salmos, temos promessas de herança. É dito que os que guardam o pacto herdarão a terra na história. [3] Os Salmos não se referem ao mundo além-túmulo. O Antigo Testamento não fala sobre exercício de domínio após a ressurreição. Há somente umas poucas passagens com relação a ressurreição corporal, [4] e elas não falam sobre domínio.
Esse Salmo vai adiante e diz que o Messias despedaçará os seus inimigos com uma vara de ferro. Ele lhes quebrará em pedaços como um vaso de oleiro. Não conheço nenhuma hermenêutica que não interprete essas palavras como simbólicas. Quando a Bíblia fala de uma vara de ferro, isso não significa uma vara de ferro literal. Quando ela fala de pessoas quebradas em pedaços, isso não significa pedaços literais de pessoas espalhados no chão. Não significa cadáveres congelados cortados em pedaços sólidos por uma vara de ferro literal. Antes, refere-se a domínio político e judicial. Refere-se a domínio exercido por um rei sobre o seu reino. Esse é o porquê o Salmo diz: “Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos instruir, juízes da terra” (v. 10). Isso é linguagem judicial. Tem a ver com pacto civil na história. O salmista não está instruindo os reis da terra a se unirem à igreja e por meio disso se colocarem sob o governo de presbíteros. A Escritura não fala de presbíteros como pessoas que exercem domínio com uma vara de ferro. Essa linguagem refere-se ao pacto civil.
A herança é econômica. Ela engloba as partes mais remotas da terra. É uma herança abrangente. Não é simplesmente uma herança política; essa herança é muito mais ampla que mera política. O Messias herdará mais do que um ofício político. A Bíblia ensina uma redenção abrangente. [5] A redenção é a ação de pessoas fiéis ao pacto que, como despenseiros do Messias, compram de volta (redimem) o mundo todo em favor do Messias. É a ação de reivindicar cada área da vida em nome de Jesus Cristo, por meio da lei de Deus revelada na Bíblia, e por meio de produtividade pessoal. Essa redenção engloba todas as três instituições pactuais: igreja, família e Estado.

Um rei governa por meio de subordinados. Eles o representam judicialmente nas cortes civis. Nas questões econômicas, os administradores do rei agem como agentes do rei, que constroem o valor patrimonial dos domínios do rei. Relatam ao rei, e o rei avalia a eficiência do serviço deles. Quando este texto fala das partes mais remotas da terra (“fins da terra”, na ACF) como a possessão do Messias, ele está falando de um sistema de governo representativo. Não é algo limitado ao governo civil. É governo no sentido mais abrangente. Significa exercer domínio sobre a terra. Isso é o que Deus requer de toda a humanidade, como revelado em Gênesis 1.26–28. Isso é o que eu chamado pacto do domínio.[6] Esse pacto define a humanidade. Ele precede os quatro pactos: individual, igreja, família e civil.
O salmista diz que quando o Messias pede a Deus por sua herança, ele concederá as partes mais remotas da terra. Jesus declarou após a sua ressurreição que essa promessa messiânica tinha sido cumprida definitivamente na história. Ele disse que todo poder lhe foi dado, e que os discípulos deveriam pregar o evangelho a toda a terra (Mt 28.18–20). [7] Essa é a Grande Comissão. Ela é abrangente.[8] Jesus ratificou sua posição como o Messias mediante sua afirmação do cumprimento dessa promessa messiânica. Por meio da santificação progressiva e através do evangelismo, este Salmo será cumprido na história.
O Salmo termina com uma promessa: “Bem-aventurados todos aqueles que nele confiam”. Isso é uma sanção positiva.

Este Salmo anuncia o reinado abrangente do Messias futuro. Sua herança são as partes mais remotas da terra. Isso significa o mundo todo. A linguagem é literal.
Como qualquer monarca ou estadista, o Messias governa por meio de um sistema de hierarquia. Seus despenseiros lhe representam judicialmente. Eles cuidam do Seu Estado em Seu favor e para o Seu benefício.
 

1. “Porque, a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, Hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei por Pai, E ele me será por Filho?” (Hb 1.5). “Assim também Cristo não se glorificou a si mesmo, para se fazer sumo sacerdote, mas aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, Hoje te gerei” (Hb 5.5).
2. Gary North, Millennialism and Social Theory (Tyler, Texas: Institute for Christian Economics, 1990). (http://bit.ly/gnmast)
3. Salmos 37.9, 11, 22, 29, 34; 82.11.
4. Jó 14.14–15; Salmos 49.15; Isaías 26.19; Daniel 12.1–2, 13; Oseias 13.14.
5. Gary North, Is the World Running Down? Crisis in the Christian Worldview (Tyler, Texas: Institute for Christian Economics, 1988), Apêndice C. (http://bit.ly/gnworld)
6. Gary North, Sovereignty and Dominion: An Economic Commentary on Genesis (Dallas, Georgia: Point Five Press, 2012), capítulos 3 e 4.
7. Gary North, Priorities and Dominion: An Economic Commentary on Matthew, 2nd ed. (Dallas, Georgia: Point Five Press, [2000] 2012), capítulo 48.
8. Kenneth L. Gentry, The Greatness of the Great Commission: The Christian Enterprise in a Fallen World(Tyler, Texas: Institute for Christian Economics, 1990). (http://bit.ly/GentryGGC)
 
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto – maio/2012.
Fonte: Confidence and Dominion: An Economic Commentary on Psalms, capítulo 2.

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