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quarta-feira, 15 de junho de 2011

O segredo do sucesso



"Quanto maior for o preço comportamental exigido pela religião, maior é a probabilidade de que o cultuante sinta-se inclinado a acreditar nas suas sugestões"


Já li mais livros sobre técnicas de administração, gerenciamento de pessoas e sucesso corporativo do que meu estômago pode suportar impunemente; cheguei, perdoem-me os céus, a traduzir alguns. No meio desse lodaçal de mediocridade e redundância a exceção mais brilhante permanece sendo (não julgue o livro pela capa – ou pelo título) Consultoria - O Segredo do Sucesso, de Gerald M. Weinberg (The Secrets of Consulting, publicado no Brasil pela McGraw Hill em 1990, esgotado).
Weinberg é um cara peculiar. Consultor de tecnologia da informação, sua curiosa especialidade (se é que posso atribuir-lhe essa falha; a especialização é sempre uma desvantagem, particularmente num consultor) é a psicologia e a antropologia dodesenvolvimento de software. Mais recentemente Weinberg abandonou a estante de não-ficção e começou a escrever histórias de ficção científica, argumentando que a narrativa é a forma mais poderosa de comunicação e de transformação entre seres humanos.
Como descrever o estilo do sujeito? Fluente? Bem-humorado? Xamânico? Tangencial? O subtítulo original de O Segredo do Sucesso explica um pouco melhor a pegada universal do estilo de Weinberg: Um guia para se dar e se receber conselhos de forma bem sucedida.
Consultor é o improvável profissional que recebe dinheiro para dar conselhos a empresas. À primeira vista, pode parecer que o segredo do sucesso do consultor está em ser capaz de [1] diagnosticar com acerto a condição de uma instituição e [2] delinear as recomendações adequadas para reverter ou aprimorar essa situação. Segundo Weiberg, essa é a parte fácil. Difícil mesmo, e particularmente arriscado para a reputação do consultor, é [3] fazer com que a empresa implemente as mudanças que você afirma que são necessárias.
CERTIFIQUE-SE DE COBRAR O BASTANTE PARA QUE COLOQUEM EM PRÁTICA AS SUAS RECOMENDAÇÕES.
Uma das regras essencias da consultoria segundo Weinberg é, portanto “certifique-se de cobrar o bastante [como consultor] para que [aqueles que estão contratando você] coloquem em prática as suas recomendações”. Caso contrário, se o serviço do consultor não parecer “caro o bastante” para aqueles que o estão contratando, esses poderão sentir-se tentados a não levar a sério as sugestões dele – pelo menos não ao ponto de fazerem o esforço final de colocarem-nas em prática.
Ser barato demais é, portanto, pecado mortal para a reputação e para a eficácia de um consultor. Ele corre o risco de não ver implantadas as soluções que sabe necessárias. Quando estiver vendendo conselhos portando, vale a regra: na dúvida, cobre mais caro.
* * *
Nisso está, naturalmente, o mecanismo segredo do sucesso das religiões que aliam promessas atraentes a regras rígidas, padrões exigentes de comportamento e rituais elaborados e repetitivos. Quanto maior for o preço comportamental exigido pela religião, maior é a probabilidade de que o cultuante sinta-se inclinado a acreditar nas suas sugestões.
Quando for inventar uma religião, portanto, certifique-se de cobrar o bastante para que as pessoas que estão pagando em renúncias pessoais e ofertas monetárias acreditem nos conselhos que você está dando.
Aqui reside, obviamente, a falha fundamental no planejamento de marketing do cristianismo: o fato de estar fundamentado na graça – ou seja, em preço nenhum. Como Jesus não cobra nada, ninguém sente-se nem de perto tentado a levar a sério o que ele diz – quanto mais colocá-lo em prática. O barato sai caro, porque ninguém quer comprar.
Melhor seria para os cristãos, antes que nos vejamos obrigados a fechar a porta da lojinha, contratar um consultor que nos ensine a vender por bom preço o que Jesus está oferecendo de graça. Afinal de contas, será com a melhor das boas intenções: Jesus terá os convertidos que quer, o crente será poupado da liberdade que não quer e nós idealizadores desfrutaremos apenas da recompensa pecuniária pela nobreza dos nossos esforços.
Todo mundo sairá ganhando – se isso não é graça, não sei dizer o que é.


Leia também:
Porque as religiões rígidas prosperam
http://www.baciadasalmas.com/2007/o-segredo-do-sucesso/

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