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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O que é um evangélico?

"A primeira diferença está na regra de fé, ou dizendo de outro modo, a fonte de autoridade..."

Por Clóvis Gonçalves 

Então vocês verão novamente a diferença entre o justo e o ímpio, entre os que servem a Deus e os que não o servem. Ml 3:18


A religiosidade está em alta. E a griffe evangélico mais em evidência do que nunca. Aliás, nunca foi tão chic ser evangélico e “gospel” dá status. O resultado é uma confusão tamanha que para fugir dela alguns chegam a dizer “não sou evangélico”. Mesmo sendo. Vamos tentar nos encontrar no meio desse emaranhado que se tornou o cristianismo protestante. Vamos tentar enxergar alguns pontilhados que sirvam de linhas divisórias.

A primeira divisão a ser feita é entre ateus e teístas. Ateu é aquele que a Bíblia chama de tolo por pensar que "Deus não existe" (Sl 14:1). Por comparação, o teísta é o que admite a existência de Deus, por entender que “quem dele se aproxima precisa crer que ele existe" (Hb 11:6). Equilibrando-se entre esses dois extremos temos os deístas, existindo em duas formas, uma ateísta e outra teísta. O deísmo ateísta confia nas forças da natureza, o deísta crê num poder acima da natureza, mas não o identifica como o Deus que se revela dos cristãos ou o de nenhuma outra religião. É necessário dizer que muitos que se dizem cristãos evangélicos são deístas na prática.

Entre os teístas, precisamos diferenciar os cristãos dos pagãos. Os pagãos são os que adoram um ou vários deuses diferentes do Deus da Bíblia. Temos um exemplo neotestamentário nos atenienses: “Então Paulo levantou-se na reunião do Areópago e disse: "Atenienses! Vejo que em todos os aspectos vocês são muito religiosos, pois, andando pela cidade, observei cuidadosamente seus objetos de culto e encontrei até um altar com esta inscrição: AO DEUS DESCONHECIDO” (At 17:22-23). Idólatras ou politeístas, os pagãos diferem dos cristãos pois estes reconhecem que “o Senhor é Deus em cima nos céus e embaixo na terra. Não há nenhum outro” (Dt 4:39).

Apesar do exclusivismo cristão, no que se refere ao Deus vivo, há várias ramificações dentro do cristianismo e uma linha divisória principal pode ser traçada separando o catolicismo romano do protestantismo bíblico. A qualificação bíblica para protestantismo é necessária pois muitos evangélicos, ditos protestantes, são tão ou mais supersticiosos que um romanista medieval. Vejamos alguns pontos distintivos do protestante identificado com o cristianismo bíblico.

A primeira diferença está na regra de fé, ou dizendo de outro modo, a fonte de autoridade. O romanismo recorre à autoridade do papa e da tradição, as quais são necessárias para validar a autoridade da Escritura. O protestantismo nominal recorre a apóstolos modernos e líderes carismáticos, além de profecias não julgadas, para nortear a sua conduta e para definir quais partes da Bíblia se aplicam à sua vida. A uns e outros aplica-se a repreensão de Jesus: “Assim vocês anulam a palavra de Deus, por meio da tradição que vocês mesmos transmitiram. E fazem muitas coisas como essa" (Mc 7:13). Já um cristão evangélico reconhece a Escritura como sua única fonte de fé, prática cúltica e conduta civil. Todas as demais autoridades à que se sujeita, o faz somente na medida em que reconhece que ela deriva e concorda com o que a Bíblia ordena, colocando-se sob o dever de discordar e desobedecer a qualquer autoridade que queira constranger sua consciência contra a Bíblia Sagrada, pois crê que “toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra” (2Tm 3:16-17).(Nota do blog: Depende da tradução:Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir  para corrigir, para instruir em justiça,) Almeida Revista e corrigida .1995. 2 Tim 3:16 .

Outra distinção a ser feita é quanto à fonte da salvação. O romanismo advoga a capacidade humana de, pelo menos, cooperar com a graça, enxergando no homem capacidade para tal. De igual modo, o evangélico popular presume que o homem tem livre-arbítrio que o capacita a aceitar por si mesmo a Cristo. Dessa forma, para ambos, o homem é capaz de iniciar e/ou complementar a operação da salvação, seja atraindo ou cooperando com a graça. O cristianismo bíblico, por sua vez, crê que o homem está completamente morto em pecados e como tal é incapaz de se preparar ou de cooperar com a obra da graça para a sua salvação. Para estes, a salvação é totalmente de Deus, do início ao final, com tudo mais que vem no meio: “Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida juntamente com Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões — pela graça vocês são salvos” (Ef 2:4-5).

Quanto aos instrumentos que Deus usa para salvar, também há divergência entre os evangélicos bíblicos e os demais. Os católicos romanos acreditam numa combinação de fé e obras para a salvação. Os evangélicos nominais, embora neguem a necessidade de obras, admitem que é necessário “colocar a fé em prática”. E a prática consiste de sacrifícios, legalismo e o uso de artifícios supersticiosos, como o uso de fórmulas ou rituais para obter o favor de Deus, especialmente relacionado à prosperidade, saúde e reconhecimentos social. Os cristãos genuínos aceitam a instrumentalidade da fé somente, pura e simples. “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2:8-9), é o que afirmam e vivem, sabendo que é “Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele” (Fp 2:13).

Essa dependência exclusiva da fé por parte dos evangélicos bíblicos tem a ver com a causa da nossa salvação. No catolicismo, a salvação se baseia no mérito. E quando há mérito excedente, por obras de supererrogação (que vão além do dever), esses méritos são administrado pelo papa, que assim pode vender indulgências. Evangélicos nominais confiam na mediação de seus líderes ou em pontos de contato, para que obtenham favores divinos. Os cristãos bíblicos rejeitam a intercessão de santos falecidos, a mediação de qualquer homem e o recurso a qualquer fórmula ou objeto, recorrendo e confiando unicamente nAquele que disse "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” (Jo 14:6), sabendo que “não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos" (At 4:12), além do nome de Jesus.

Os pontos anteriores levam a uma distinção final entre os verdadeiros evangélicos e aqueles que apenas usam o nome. Trata-se de a quem é dada toda glória. O romanismo cultua aos santos, especialmente a Maria, além de Deus. Embora tente estabelecer uma diferença teórica entre culto de latria, superlatria e dulia, tal tentativa falha em todo aspecto prático. Evangélicos nominais veneram celebridades gospeis, exaltam apóstolos modernos e rendem tributos a homens, dividindo com eles uma glória que é devida unicamente a Deus. Cristãos genuínos, embora dêem graças a Deus por levantar e usar homens e mulheres, reconhecem que Ele o faz para Sua própria glória, e assim rendem louvor unicamente ao seu nome, pois ouvem-no dizer "Eu sou o Senhor; esse é o meu nome! Não darei a outro a minha glória nem a imagens o meu louvor” (Is 42:8) e respondem “Não a nós, Senhor, nenhuma glória para nós, mas sim ao teu nome, por teu amor e por tua fidelidade!” (l 115:1).

Em conclusão, é necessário dizer que todas essas diferenças são exteriores ou manifestas. E podem ser simuladas por simples assentimento intelectual ou aparência de conformidade exterior. Por isso o texto diz “vocês verão novamente a diferença entre o justo e o ímpio” (Ml 3:18). Pois a verdadeira diferença não pode ser percebida pelo homem, precisando ser revelada por Deus, em momento oportuno: quem é salvo e quem não é. Deus determinou um dia, quando Seu Filho porá à sua direita os que salvou e à sua esquerda os que perecerão, ainda que pensassem estar a serviço dEle. "Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo” (Mt 25:34) e“Então ele dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno, preparado para o diabo e os seus anjos” (Mt 25:41).

Assim, antes e acima de qualquer diferença visível ou aparente, o que realmente importa é: você está salvo? Se ainda não creu na pessoa de Jesus e não depositou toda a sua confiança em Sua obra para sua salvação, então você está perdido. Arrependa-se de seus pecados e creia nEle para sua salvação, nesta vida e para sempre!

Soli Deo Gloria

Clóvis Gonçalves é blogueiro do Cinco Solas e escreve no 5 Calvinistas às segundas-feiras.

3 comentários:

  1. Olá Iveraldo, gostei muito desse texto; e concordo! Muitos 'evangélicos' criticam os católicos, quando na realidade, por muitas vezez também idolatram aos cantores, líderes religiosos... Enfim, temos que seguir apenas a palavra de Deus e o exemplo de Cristo. Pois como o texto diz: dizer que é 'evangélico' dá status! E muitas vezes as pessoas mentem mesmo, porque será bem recebido, será visto como uma pessoa culta! E não é assim que tem que ser... As pessoas têem que ver a imagem de JESUS em nós. Dizer que é evangélico é fácil, mas ser é difícil!!! Abraço...

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  2. Desejo a você um abençoado feriado. Um forte abraço.

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  3. Oi Iveraldo,
    primeiramente peço desculpas pela demora em vir aqui ler essa matéria, como respondí lá no meu Blog, este feriado estava ocupado com 'coisas de casa' (srsr).

    Quanto ao texto, que é bastante didático e explicativo quanto a opinião do autor, devo te dizer que talvez esteja fazendo a contramão do que muitos pensam;
    Ser Evangélico, Crente, Protestante ou coisa que valha, tem perdido o sentido ao longo dos séculos.

    Depois de uma Reforma Protestante, que devo dizer, embora equivocada e truculenta, serviu de base para um novo olhar para a fé, e que tenho lá minhas dúvidas se foi exatamente o que Deus queria, só posso dizer que se ser Evangélico é ser o que os muitos expoentes dessa faceta religiosa pregam, eu não sou EVANGÉLICO.

    Calma, não se espante!
    Mas devo te dizer que estou farto das brigas entre Malafaias, Gondins e Caios Fábios...
    Cheio de tradicionalismos brigando com os 'novos crentes' e vice versa.

    Não suporto mais vir à web e saber das últimas dessa gente que faz mais por divulgar as proprias convenções religiosas e desmerecer o Nome sobre todo nome!

    Não sei muito bem o que é ser 'Evangélico' e devo dizer que não me preocupa muito.
    O que me tem tirado o sono é a frase que encerra o texto.
    "Estamos salvos?"

    Mas uma pergunta faço aqui. O que é 'estar salvo'?
    Frequentar uma reunião ou uma instituição religiosa apenas? É vestir-se ou falar como protestante? Fugir de compromissos familiares por não serem 'santos'?

    Infelizmente se 'salvo' na concepção da maioria dos Evangélocos é isso!
    Se é isso, então estou perdido (rsrsrsr)!

    Agora creio que pra mim, estar a salvo e ficar pertinho do que o Cristo prega quando diz:
    "Vos sois meus AMIGOS se fizerdes o que vos mando!"

    Prefiro estar dentro das noções básicas do cristianismo baseado na Graça, do que ser uma mímica de cristão; ou seja, um religioso!

    Não estou querendo polemizar, muito pelo contrário... creio que ser evangélico, perdeu o foco e o sentido, quero ser muito mais do que representar uma fatia da 'igreja', quero ser a igreja e isso não tem placa de nomenclatura que me defina... mas sim o Sangue de Jesus, que me purificou e me resgatou!

    Isso, como dizem os publicitários daquele famoso cartão de crédito, 'não tem preço'!

    Boa matéria que faz pensar...
    muito bom Iveraldo!
    Abraço!

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